O quarto álbum de estúdio do The 1975 enfim chegou ao mundo. “Notes On a Conditional Form” foi lançado nesta sexta-feira, dia 22 — que é também o mesmo número de faixas na tracklist. Antecipado por uma série de singles com videoclipes, este talvez seja o álbum mais experimental do grupo até então.
Os repetitivos atrasos para o release do disco (justificados por adições de músicas e processos de produção) renderam uma lista de canções bem diferenciada. Anteriormente programado para o fim do ano passado, “Notes” chegou agora como uma salada mista de gêneros; e as reações do público podem ser potencialmente diversas.
O disco começa com a ativista Greta Thunberg discursando naquela que deveria ser a já conhecida “The 1975”, faixa que costuma abrir os álbums da banda. Essa mudança logo no início representa a ideia que o grupo quer passar com o release: o ouvinte não encontrará o The 1975 de “Girls” ou “Somebody Else” aqui.
O indie rock e synth-pop dos outros trabalhos dão espaço à mùsica eletrônica, ao dance music e ao gospel; até mesmo ao country. É claro que o rock “meio pop” segue presente em algumas músicas, como “Then Because She Goes” e “Me & You Together Song”, quase que saídas de uma série dos anos 90; contudo, o importante é o experimentalismo.
The 1975 dá destaque à produção do baterista George Daniel
As faixas instrumentais e interludes do álbum conseguem se destacar no meio de tantas canções inéditas. Nesse sentido, o vocalista Matty Healy e o baterista George Daniel produziram tudo, e é um trabalho primoroso. Levando em conta que o estilo gerado pelo “PC Music“ está em alta hoje em dia, o 1975 consegue seu posto entre seus contemporâneos.
Além disso, o disco parece estar “às avessas” do que a banda já lançou até então. O mix de músicas singulares e às vezes desconexas vão ao contrário dos aesthetics anteriores. De acordo com a revista NME, “Notes On a Conditional Form” foi um jeito de Matty “dar um soco no próprio ego” — e no The 1975 que muitos amam, odeiam ou simplesmente conhecem.
As composições sarcásticas e “pós-modernas” continuam no trabalho, mas com uma pitada de ritmos computadorizados. Ainda, o release também serviu para resgatar a era “Music For Cars”; nome de um dos primeiros projetos dos artistas, em formato de EPs. O álbum encerra uma sequência de quatro discos de estúdio, e uma imagem formada no imaginário indie durante anos.
Em algumas notas disponíveis no Spotify, é dito que algumas canções foram adicionadas bem depois, quase que criadas “no susto”. Enquanto isso, outras foram feitas para serem perfeitos singles alternativos. A quantidade de camadas no release é grande, e a divergência de opiniões vai acontecer; seja pela pesada “People” ou pela híbrida “Shiny Collarbone”.
Dessa forma, “Notes” funciona como a conclusão de anos de trabalho para a criação de um desfecho. Levando em conta que o grupo foi do rock ao tecno em menos de dez anos, torna-se curioso pensar no que o The 1975 fará a seguir.
O projeto é uma curiosa algazarra de sons, mais do que significativa para seus progenitores. É a declaração oficial de uma banda criativa, com um vocalista polêmico na medida do possível.
NOTA: 8.0/10