É possível dizer que a carreira de Lady Gaga sofreu um “ponto de virada” após “Shallow”. O smash hit mundial, parte da trilha sonora do longa “Nasce Uma Estrela”, fez com que a cantora atingisse um novo patamar: o do cinema. Ao ser indicada e premiada em várias cerimônias, Gaga provou-se como um nome de várias facetas.
Entretanto, a novidade da vez é “Chromatica”. O disco lançado em maio de 2020, com parcerias de Ariana Grande e Blackpink, foi o passo dado por Lady Gaga para retornar ao pop puro. Assim, a diva pisou de volta no que já estava acostumada a fazer — no caso, a música popular das pistas de dança.
Com dois trabalhos tão diferentes, a pergunta que fica até hoje é: por que Gaga foi tão distante, para depois voltar? Neste contexto, como o desafio de criar uma trilha do zero a ajudou no seu “caminho para casa” ao pop?
A resposta mais simples e direta para estas questões é a de que a diva, com seus mais de dez anos de carreira, é um camaleão da indústria. Com isso, é interessante retomar o que Lady Gaga fazia antes de “Shallow”; e como “A Star is Born” foi o sinal para a artista voltar a ser aquela que todos já conheciam, mas numa nova versão.
Lady Gaga e seus trabalhos anteriores a “Shallow”
Até o ano de 2018, em que “Nasce Uma Estrela” foi lançado, Gaga havia experimentado de tudo um pouco. Nesse sentido, a cantora estava com os álbuns “Cheek To Cheek” e “Joanne” na bagagem, além de toda sua discografia pop lançada anteriormente. O mundo sabia quem era Lady Gaga, mas a mesma andava por estradas diferentes na música.
O íntimo “Joanne”, de acordo com o que Gaga explicou ao longo dos anos, foi uma homenagem a sua família. A artista revisitou arquivos e familiares para a criação das músicas, e pensou nas próprias origens. Tirando o single “Stupid Love” de destaque, a tracklist do disco carrega o country no cerne; mais um estilo que havia sido pouco explorado em seus releases até então.
O trabalho carrega muita emoção em suas composições, até mesmo no próprio título: Joanne também era o nome de uma tia, e a cantora dedicou o projeto ao pai. “Joanne” foi importante para que seu emocional se aflorasse ainda mais na música, e pudesse “se explorar para criar”. A produção do álbum é inteira contada em “Five Foot Two”, documentário da Netflix lançado em 2017.
E após “Joanne”, o que devia fazer a seguir? A artista tentara voltar pro pop com “The Cure”, divulgada também em 2017, mas não pareceu certo. O grande público ainda a lembrava como a Lady Gaga “exagerada”, com roupas extravagantes e canções totalmente chiclete; a Gaga de “Bad Romance”, “Poker Face” e “Judas”.
A cantora queria mudar, explorar outros campos e se reinventar, assim como todo músico pensa em fazer em algum momento na carreira. Dessa forma, surgiu “A Star Is Born”: uma produção cinematográfica encabeçada por Bradley Cooper. O filme foi a deixa para uma nova identidade da diva no mainstream.
A união de Gaga e Cooper com a OST do filme
Desde as primeiras entrevistas com o cast do filme, Gaga declarou ser grata pela amizade e trabalho com Cooper. Enquanto que Bradley passou mais de um ano tendo aulas de canto para o longa, a artista aceitou a proposta de performar as músicas ao vivo no filme, e criar a trilha sonora.
Com o ator, a cantora pôde viver na pele da personagem Ally, da qual teve dificuldade de largar; numa entrevista para Ellen DeGeneres, Lady Gaga disse que a protagonista ainda “existia dentro dela” mesmo após o filme. As declarações da diva soaram como se tivesse colocado uma parte de si para fora — uma camada de sua personalidade explorada aos poucos.
E é inegável o sucesso das faixas da produção. “Shallow”, obviamente, é a mais marcante de todas: os vocais de ambos os artistas tocaram em cada rádio e streaming do planeta. No Spotify, por exemplo, a canção tem mais de um bilhão de plays, e o clipe no Youtube bateu a marca de 890 milhões de views.
Assim, Gaga conseguiu o que esperava, que era assumir uma nova forma ao público. Foi uma reinvenção mais sensível e emotiva de sua imagem, em que sua voz e atuação se destacaram mais que as roupas de alta costura. Além disso, o single durou muito tempo nos charts, faturou dois Grammys, um Globo de Ouro e um Oscar. Lady Gaga havia voltado à boca do povo, mas com uma identidade renovada diante de todos.
A retorno ao pop e o lançamento de “Chromatica”
“Shallow” perdurou na mente das pessoas. Conforme a faixa saiu com o filme e a soundtrack oficial, Gaga passou o restante de 2018 e 2019 planejando o que finalmente faria depois. Com isso, veio “Chromatica”, e a vontade da cantora em fazer de novo o que já fazia de melhor desde o começo: pop.
Apesar dos vazamentos de singles (como aconteceu com “Stupid Love”), e a imagem de Ally ainda por aí, “Chromatica” soou como uma homenagem de Lady Gaga a si mesma. Um disco divertido e frenético, dividido em três partes e influenciado pela dance music e o synthpop; sim, é a Gaga de “Bad Romance”, mas revitalizada e com um capítulo inédito escrito.
A artista não teve medo em colocar suas inseguranças nas letras do álbum mais recente. Em entrevistas promocionais, deixou explícito que queria tratar de seus próprios problemas nas letras, porém de uma forma animada, como fazia antigamente. Além disso, suas falas sobre a collab com Ariana deixaram isso mais evidente: uma música sobre duas mulheres superando traumas e dificuldades, dessa vez por meio da arte.
“Nasce Uma Estrela” ajudou Gaga a explorar ainda mais seu interior e colocar tudo para fora. Colaborou para que o ícone pop pudesse respirar um pouco, viajar e retornar sem problemas, pois o dever de casa havia sido feito.
Portanto, “Shallow” e tudo que cerca a música foi um jeito de Lady Gaga se reformular, e sentir segurança quando voltasse ao que começou. Seja no pop, no country ou nas baladas românticas, Gaga é uma das artistas mais multifacetadas da atualidade.
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