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Review: Em “SOUR”, Olivia Rodrigo traz experiências pessoais sem medo

Foto: Divulgação

Quem diria que uma fofoca levaria alguém tão longe na música? E alguém que de fato tem potencial. Foi assim que aconteceu com Olivia Rodrigo: desde o lançamento em janeiro de “driver’s license” até o lançamento de “SOUR”, que teve 36 milhões de streams apenas no dia de estreia.

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Sem desmerecer seu talento, o hype com “driver’s license” começou a crescer, em partes, pela história do suposto triângulo amoroso entre ela, Joshua Basset (com quem atua na série de High School Musical) e Sabrina Carpenter – com os dois sendo indiretados na canção. Pouca gente havia escutado sobre a cantora anteriormente.

Dois singles aclamados depois (“deja vu” e “good 4 for u”), Olivia lançou na última sexta, 21, o seu álbum de estreia “SOUR”.

Sonoridade

Com praticamente ele inteiro apenas produzido por ela e o produtor Dan Nigro (Carly Rae Jepsen, Caroline Polachek e Conan Gray), instrumentalmente falando, ele varia entre pop rock dos anos 2000 (que às vezes lembram o Paramore e Avril Lavigne) e baladas acústicas simples e cruas, como “traitor”, “1 step foward, 3 steps back”, “enough for you”, “favorite crime” e “hope ur ok”.

A sonoridade desacelerada e sinceridade ácida dá um ar passivo agressivo para suas letras. Nas músicas mais agressivas – como em “traitor” e “favorite crime” – fiquei com a impressão de que se as duas fossem mais rock, também seriam incríveis. Talvez até mais que as versões originais.

Influências

Desde o ínicio de sua divulgação, Olivia fala de sua grande admiração por Lorde, Taylor Swift, Alanis Morissette e o pop punk dos anos 90. Tendo isso em vista, fica inevitável procurar referências e similaridades, que são bem claras no “SOUR”.

Nos vocais, fica evidente à similaridade com Alanis e às vezes com Lorde; por ser quase um álbum inteiro de experiências pessoais e relatos de relacionamentos bastante sinceros, aparece aí o jeito que aprendeu com Taylor Swift.

Acho incrível que Olivia não poupa detalhes e críticas explícitas à comportamentos e atitudes de seu ex, assim como suas reações à elas (assim como faz a loirinha). É como se ela estivesse falando sobre muita coisa que é comum em relacionamentos turbulentos, mas que não haviam sido trazidos até então de forma tão clara para o pop mainstream.

Sinceridade sem medo

Bons exemplos disso estão em duas músicas específicas. Em “traitor”, acho genial os versos “demoraram duas semanas para você ir embora e se relacionar com ela/acho que você não me traiu, mas você continua um traidor”; “E eu sei que se você fosse verdadeiro/você nunca se apaixonaria por alguém tão rápido”; “Não é engraçado?/Se lembra quando eu perguntei sobre ela/e você me falou que eu estava paranoica?”. E em “good 4 u”, em “Você está indo muito bem sem mim/Deus, eu queria conseguir também/perdi minha cabeça, passei a noite/chorando no chão do meu banheiro/mas você está tão não afetado, eu não entendo” e “talvez eu seja emocionada demais/mas sua apatia é como sal em uma feriada/talvez eu seja emocionada demais/ou talvez você nunca se importou”.

São músicas tão sinceras e sofridas que me senti nas minhas sessões de terapia pós meu último pseudo-término. São temas bastantes pessoais, com muita insegurança contida que me fizeram perguntar se eu realmente regrido aos 18 anos ao ficar muito triste e rancorosa ou se é algo geral. Felizmente, segundo um tweet, parece ser algo um pouco geral:

Comentários pessoais

Estava completamente achando legal escutar o álbum e me identificar com ela, com exceção da parte em que se mostra no ápice da insegurança, dizendo que talvez as outras fossem mais legais que ela. Fiquei “é, pelo menos nisso aí não me identifico. Que bom né”. Até chegar em “1 step foward, 3 steps back”, que levei um tapa na cara.

Por mais que não seja minha favorita e nem tenha me pegado de primeira, ela foi sem dúvida a faixa que mais me impactou. Com sample de “New Year’s Eve” da Taylor Swift, Olivia fala como se precisasse de uma validação de alguém que se relaciona para se sentir bonita “nunca duvidei tanto de mim mesma/do tipo, sou bonita, cara?/sou engraçada, cara?/eu odeio que eu te dou o poder desse tipo de coisa” e “E talvez de alguma forma masoquista/eu meio que acho muito animador/do tipo, que tipo de amor vou receber hoje?/você vai me levar até a porta ou vai me levar pra casa chorando?

Nela, eu me senti numa sessão de terapia onde TUDO ISSO foi conversado entre eu e a psicóloga e me senti horrível por deixar tais coisas acontecerem. Realmente duvidar do meu valor e achar legal uma coisa turbulenta. E eu gosto muito disso na Olivia Rodrigo: jogar tudo pra fora, coisas que se desabafaria numa sessão de terapia com vergonha de você mesma, pro mundo ouvir, se identificar e não parecer uma coisa assim tão horrível porque não é só você que sente isso. Sem vergonhas. E você sente que é verdadeiro porque já sentiu aquilo.

Olivia Rodrigo x Lorde x juventude

Em uma análise do G1, o seu álbum de estreia é resumido à pop rock Disney pós Lorde. E não mentiu. Foi a melhor definição que li até agora.

Logo na primeira faixa, uma das poucas que não é sentimental em relação à seu ex, “brutal”, Rodrigo fala sobre os dramas da adolescência. “Estou tão enjoada dos dezessete,/ onde está o meu sonho adolescente?/se alguém me falar mais uma vez “aproveite sua juventude”/eu vou chorar“. Sobre querer ser “messy” e como é “tudo tão brutal”. “E ultimamente eu estou um poço de nervos/porque eu amo pessoas que eu não gosto/e eu odeio toda música que eu escrevo/e eu não sou legal nem inteligente/não consigo nem estacionar paralelo”. Um tipo de humor autodepreciativo sobre ser adolescente que contém verdades. Quem nunca?

Coisas que se a Lorde estivesse apenas aparecendo agora no cenário musical ela estaria, do seu jeito, falando coisa do tipo. A minha impressão é que a Olivia é a Lorde que não é tão deslocada assim: está dentro do padrão, mas ainda assim questiona e passa por todos os conflitos e primeiras experiências adolescentes. Tudo isso com um pop rock que vai vender porque é nostálgico, com inspiração no pop punk que ela gosta de escutar. Que fica bastante evidente principalmente justamente em “brutal”, “good 4 u” e “jealousy jealousy”.

“jealousy, jealousy” e “favorite crime”

Por falar em “jealousy, jealousy” tem também total a ver com juventude e Lorde. Principalmente com a nova geração. Fala sobre comparações por redes sociais e obsessão por elas, mas ao mesmo tempo não aguentar mais. A “invejinha branca”, o querer ser igual à alguém que nem se conhece por parecer ter uma vida perfeita. Isso é bastante evidente principalmente na nova geração, que cresceu com redes sociais e que leva o Tiktok a sério, querendo ter estéticas e vidas parecidas com o que está em alta.

Além disso, há recursos vocais na música que fazem parecer MUITO a Lorde. Na parte de “comparison is killing me slowly” e “jealousy, jelousy started following me” fazem sua cabeça se perguntar se não é a voz da Lorde.

Falando em influência da Lorde, outra que também lembra muito é “favorite crime”. Seja pelas várias metáforas ou também pelos recursos vocais (presta bastante atenção na parte mais rápida da música. É muito Lorde).

Conclusão

Na minha opinião, a única música que é um pouco deslocada das temáticas é “hope ur ok”.

Em suma, “SOUR” é um álbum muito coeso sobre a experiência caótica de ser jovem na era digital, além de sensações esquisitas após terminar com alguém meio merda. E é especialmente uma experiência maravilhosa e quase que sessões terapêuticas escutar o disco se isso aconteceu com você recentemente. É tudo “messy” e “brutal”. Me sinto completamente contemplada, ainda mais em saber que está tudo bem e que não sou só eu que sente esse caos.

Ao mesmo tempo, um pouco traída por mim mesma. Defendendo uma pisciana. Enquanto o outro lado é capricorniano. É difícil de fazer as pazes comigo mesma por essa. Mas Olivia é tão boa que consigo passar pano. A única pisciana possível!

Nota: 8/10.

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