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Review: Confessional e livre, “Serpentina” marca a nova fase de BANKS

BANKS lançou o seu novo álbum de estúdio, “Serpentina”. O quarto álbum marca a nova fase independente da artista.

Após três anos do último disco, na última sexta-feira (8) a cantora e compositora BANKS lançou o seu novo álbum de estúdio, “Serpentina”. O quarto álbum marca a nova fase da cantora, que pela primeira vez segue como artista independente. Com 13 faixas no total, o compilado de músicas é um grande desabafo da cantora após o início da pandemia, onde teve que lidar com suas inseguranças, términos e ansiedades.

Imagem: Divulgação

Uma nova BANKS

Em vários sentidos “Serpentina” representa um novo momento na carreira de BANKS. A começar por ser a primeira vez em que a cantora teve total controle criativo sobre cada aspecto da sua carreira, já que optou por ser uma artista independente. Mas também pelas decisões artísticas que compõe o escopo desse novo disco.

Ainda que as características que estabeleceram o tipo de música que BANKS faz estejam presentes ao decorrer do disco, a novas músicas vão em direções um pouco diferentes do já esperado. Ao meu ver, os últimos três excelentes discos lançados da cantora, ainda que sejam distintos entre si, soaam como uma trilogia. Como se estivessem orbitando sob um mesmo universo musical. Aquela atmosfera etérea, a sua voz como grande instrumento mas normalmente mais distante ou distorcida, acompanhado da vibe “dark” que perdurava em grande parte de suas eras.

Não à toa, uma das características dos seus trabalhos, e que particularmente me encantam, são as melodias únicas, que sobrepostas as camadas de voz, instrumentais e ad libs atípicos, criam uma intrigante e persuasiva textura às suas canções.

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Agora em “Serpetina”, já não se encontra mais aquela atmosfera etérea dos álbuns anteriores. As composições ganham mais destaque, a sua voz se torna cada vez mais um instrumento, já que ela soa mais clara e “na frente” do instrumental. Criando assim um território brando para experimentar ao máximo melodias diferentes e atípicas. Em termos de produção, se antes a cantora tinha se estabelecido no segmento alterativo com sua influência do pop e r&b, no novo projeto as influências se tornam ainda mais eletrônicas e voltadas para batidas do trap.

Talvez esse novo toque tenha a afastado da BANKS dos outros discos para esse novo momento livre, dançante, descontraído, upbeat, vulnerável e cheio de atitude. Mas não me entenda mal, todo esse novo lado que floresce durante o disco de forma alguma anula a essência da BANKS que conhecemos. Ela ainda está ali, com a melancolia que nos identificamos tanto, só que em uma nova roupagem.

Em contraponto, esse também pode ser visto como um ponto fraco do álbum. Talvez o foco exacerbado na voz e melodias, que de fato se destacam, tenham deixado a parte instrumental um pouco mais fraca. Ao exemplo de “Skinnydipped” e “Holding Back”, que tem ótimos arranjos melódicos e composições, mas com produções repetitivas e genéricas.

Os destaques de “Serpentine”

Menos lúdica, BANKS é ainda mais descritiva em criar um cenário e pequenos detalhes que ajudam a fomentar na mente a história que ela quer transmitir a nós ouvintes. Tendo gatilho no começo da pandemia, a artista encontrou na sua arte uma forma de enfrentar os seus demônios, crises de ansiedade e solidão, para externar tudo isso que estava sentindo. E também buscar a sua própria libertação e autoconfiança no meio do processo, ao refletir sobre desilusões e novos amores.

If I had just one dollar for
Every time somebody didn’t listen
I wouldn’t need these vocals, man
But I still got my mic in hand
You don’t have to bе my stan

“Misunderstood”

“The Devil”

O primeiro gostinho que tivemos do álbum foi com “The Devil”, lançado ainda em 2021. O single que deu pontapé na era é a certeira transição entre seus trabalhos antigos com o novo. Já que ele possui aquela estética e atmosfera sombria, com vozes sussurradas, em cima dos potentes e graves sintetizadores. É uma música sexy, provocante e cheia de atitude, que fala exatamente sobre abraçar os seus demônios. Ainda com um refrão viciante e que facilmente poderia ser um single perdido de seu segundo disco, The Altar.

“Meteorite”

Esse é o tipo de música que gosto de ver BANKS fazendo. Ela é viciante, experimental e com aquela atitude provocativa. A grande base da música são em seus vocais, que funcionam como um instrumento para o restante da música, que junto com as palmas, deixa aquela pegada tribal. Além de ter bastante grave e ser bem marcada, que dá uma intensidade especial pra música, a produção me remeteu ao r&b dos anos 2000 mas de uma forma bem distorcida. Sem contar que os efeitos exagerados nos vocais, ali no pós refrão, enquerisse a música, mostrando que Jillian sabe muito bem usar a sua voz. Sem dúvidas uma das minhas produções favoritas do álbum!

“I Still Love You”

Para quem é fã dos trabalho de BANKS, não é segredo para ninguém a sua incrível habilidade de composição ainda mais para baladas. Na parte do final de “Serpentina” você irá se deparar com várias delas, em seus diferentes formatos, mas que sabem muito bem tocar naquela ferida que uma boa balada faz muito bem!

Mas entre todas, escolhi “I Still Love You” por ser uma das mais vulneráveis que já ouvi na sua carreira. Tanto na escolha de uma produção mais direta, com voz piano e orquestra, como também pelo jeito cru que ela escolheu botar a sua voz na música. Captando ainda mais da vulnerabilidade que a própria letra exige, já que ela fala sobre amar alguém, mesmo não estando mais com ela. De lembrar dos mais pequenos gestos que ela fazia, que antes você odiava, mas que hoje sente falta até disso. Ah, e o mais interessante é que a música foi escrita há seis anos, no início da carreira, mas só agora Jillian se sentiu confortável em compartilhar com todos, sendo uma bela foram de finalizar o álbum.

“Serpetina” vale a pena?

No fim, o álbum é um importante registro, não só na carreira como também na vida pessoal de BANKS. Ainda que eu não considere o seu trabalho mais forte ou meu favorito (pelo menos até o momento), os escorregões no decorrer do disco não chegam a atrapalhar a experiência como um todo. Já que a artista mostra a possibilidade de se reinventar, destacar o seu lado sensível e criativo, mas que serve mais como uma ponte do que podemos esperar e o que pode ser expandido nesse novo momento da carreira. Confessional, dançante e livre, “Serpentina” tem o potencial de crescer com o tempo e um ótimo presente aos fãs do gênero e da cantora.

NOTA: 7.5/10

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