Por Allan César e Anna Sabatini – A Gloria Groove não sabe brincar! Finalmente, após anos de espera, o segundo disco de estúdio da cantora está entre nós. Batizado de “Lady Leste”, o álbum pode ser dividido, segundo a artista, em duas partes – o lado “lady” e o lado “leste”. Um deles, romântico, melódico e harmonioso. O outro, brutal, agressivo e mais hostil.
Quando comecei a pensar o conceito de Lady Leste, eu estava atrás de uma expressão que fosse um vulgo que eu pudesse usar eternamente. Algo que falasse sobre mim a longo prazo. Fui atrás da brincadeira de que lady sou eu.
Gloria Groove durante coletiva de imprensa
Além disso, o projeto já surge batendo marcas históricas. Em parceria com o Spotify Brasil, “Lady Leste” é o primeiro álbum brasileiro a obter o recurso “Album Clips”, um novo feature da plataforma. Essa funcionalidade terá como objetivo trazer experiência visual, uma espécie de shorts de até 30 segundos.
Definido pela própria como um grande experimento pop, o material possui 13 faixas, composições próprias e produção bem elaborada, passeando pelo trap, R&B, pop, funk, pagode e até mesmo o piseiro.
“Lady Leste”: Gloria Groove deixa o seu nicho e aposta nas massas
Gloria sempre foi muito conhecida por seu estilo carismático, mais voltado para o rap e o hip-hop, potências pouco exploradas no universo da música drag queen. Desde “Bumbum de Ouro”, Groove foi um ponto fora da curva. Construiu seu público a partir disso, trazendo seu disco de estreia, “O Proceder” (2017), a ideia de que seria diferente do resto.
Os singles de “Lady Leste” amplificaram essa imagem. “Bonekinha”, “Leilão” e “A Queda”, que contam com videoclipes com produção dignas de cinema, apresentou aos fãs uma nova versão da música pop, muito mais encorpada.
Toda essa força é mantida e percebida logo nas primeiras faixas do projeto recém-lançado. “SFM” em parceria com o MC Hariel, “Fogo no Barraco” com MC Tchelinho (do Heavy Baile), e “Vermelho“, atual single do projeto, onde a drag faz referência à MC Daleste e seu hit “Mina de Vermelho (2012)” reforçam essa produção mais sofisticada e real às suas raízes.
“Vermelho” é a minha homenagem ao cara que sempre mirou seu holofote pra Zona Leste. A Lady Leste bebe muito da realidade que o MC Daleste cantou e eu sei como ele mostrou pra tantos jovens daqui que era possível. Ninguém pode parar uma voz que ecoa inspiração e admiração. Daleste eterno.
Gloria Groove em coletiva de imprensa
Se Gloria Groove não gosta de rótulos, no álbum não poderia ser diferente – a imagem vai mudando de faixa em faixa. Alguns exemplos disso são “Jogo Perigoso”, “Tua Indecisão” (com Sorriso Maroto) e “Apenas um Neném” (com Marina Sena). Nos primeiros segundos, pode-se até estranhar ouvir a drag em um pagode e em um arrocha, mas garantimos que eles funcionam!
Voltando um pouco à Gloria que vimos em “O Proceder ” (2017) e “Affair” (2020), aqui temos as influências do rap e hip-hop em “Greta” e “Pisando Fofo” (com Tasha e Tracie), somado a um R&B em “LSD”. A sequência destaca-se pelas letras mais fortes e ousadas, que são de praxe da artista. Isso devolve a sensação de familiaridade para quem acompanha sua discografia.
Finalizando o disco, temos o hit “A Queda” e parceria inusitada de Priscilla Alcântara em “Sobrevivi”, essa última uma baladinha cheia de guitarras e grandes vocais.
Conclusão
É incontestável a qualidade artística e a pluralidade de Gloria Groove, e “Lady Leste” é a prova disso. Seja no pop, no rap, no R&B, ou em qualquer outro segmento, as ramificações de Groove atravessam nichos e permeiam as mais variadas bolhas.
Em toda sua carreira, a artista vivia uma duplicidade artística (enquanto a própria Gloria Groove e Daniel Garcia). Com o “Lady Leste”, ela continua a repartir e multiplicar em quatro, seis, dez personagens e quantos mais forem necessários.
O álbum é a música muito popular brasileira nas suas mais variadas vertentes, uma representação de que essência não é uma só, e sim diversa – principalmente no ramo musical e no país em que vivemos.
Nota: 8,5