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Entrevista: Zimbra comemora o auge de sua carreira com novo disco, “Sala Dois”

Em entrevista ao Tracklist, a banda relembrou os dez anos de estrada e conversou sobre os detalhes por trás de seu quarto álbum

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Foto: Az Brunas (@azbrunas)

Durante a pandemia, a Zimbra comemorou dez anos de estrada juntos longe de seu lugar preferido: os palcos. Ao invés de se apresentarem, a banda santista aproveitou o último ano para compor e gravar novas canções, que deram vida ao seu novo trabalho de estúdio, “Sala Dois”, lançado na última sexta-feira (25) e definido pelos integrantes como o disco que “melhor os representa” até aqui.

A obra não só marca o retorno ao estúdio e às turnês após meses de isolamento, como também o reencontro do grupo em sua melhor forma. Em entrevista ao Tracklist, a Zimbra conversou sobre os detalhes por trás da produção de seu quarto disco — o primeiro com o selo de uma grande gravadora, a Midas Music. 

“É um disco que tem uma carga muito grande depois desse processo de isolamento social”, comentou o vocalista Bola. “Por isso que a gente, talvez, esteja dizendo muito que é o disco que melhor nos representa: porque é um disco que a gente gravou com uma vontade que há muito tempo a gente não tinha de fazer alguma coisa”.

De acordo com os integrantes, um dos traços mais nítidos de “Sala Dois” é a busca da banda em reforçar a sua própria identidade, ao invés de reinventar por completo a sua sonoridade. “Acho que esse é até um dos motivos pelo qual esse disco tem essa questão de representatividade pra gente: por ele ter nele uma carga de maturidade de uma banda que já tá junta há mais de dez anos, que já gravou quatro discos, que tá atrás de fortalecer a sua própria voz, a nossa voz enquanto conjunto, as nossas escolhas artísticas e musicais… Acho que esse disco tem essa questão pra gente”, afirmou o baterista Pedro Furtado.

O grupo também se abriu sobre a trajetória que seguiram em sua carreira ao longo da última década, desde o começo em Santos até as várias turnês nacionais que já fizeram. “O amadurecimento, no geral, é o que tem feito a Zimbra se sustentar e poder vislumbrar coisas e, ao mesmo tempo, manter o pé no chão e saber quais são as coisas palpáveis e as não palpáveis, o que é coeso e o que não é”, disse o guitarrista Vitor Fernandes. “Eu acho que o amadurecimento que a gente teve ao longo do tempo se faz muito presente hoje”.

Leia a entrevista com a Zimbra na íntegra:

TRACKLIST: Boa tarde, gente! Acompanhamos vocês há muito tempo e é muito bom pra nós podermos estar conversando com vocês! Como vocês estão nessa semana de lançamento?

BOLA: Mano, a gente tá trampando muito na verdade! Desde que saiu o disco, a gente tá muito puxado na divulgação, mas muito feliz. A gente tá muito contente com o resultado, com o próprio lançamento que, apesar de ser bem recente ainda, já mostrou muitos resultados positivos, então a gente tá bem feliz com o que aconteceu até agora e a gente tá empolgado com os próximos dias, com os shows de divulgação e tudo mais. A gente tá bem feliz com o que a gente botou no mundo depois de um ano gravando.

TRACKLIST: Pra continuar nesse assunto, vocês têm voltado aos poucos a se apresentar nesses últimos meses. Como tem sido, pra vocês, retornar aos palcos e se reencontrar com os fãs depois de tanto tempo — e dessa vez, com músicas novas?

PEDRO: Cara, um verdadeiro prazer! O nosso primeiro show pós-pandêmico, mas ainda com restrições, foi em dezembro do ano passado, em São Paulo, e foi uma experiência muito emocionante! A gente tava muito ansioso, a gente tava nervoso, a gente tava com um friozinho na barriga que a gente não sentia há muito tempo assim… Foi uma emoção muito grande a gente chegar, 1, 2, 3, 4, e começar a primeira música ali, e a galera tá ali cantando de volta pra gente, e deu pra sentir que foi uma coisa recíproca ali. Da mesma forma que a gente tava muito feliz de tá ali, as pessoas em si tavam todas muito felizes de tá ali e elas tavam nessa energia também, sabe? No sentido de “Nossa, faz tanto tempo que eu não participo desse momento, dessa comunhão”, que é um show de música ao vivo. Foi uma coisa fora de série e a gente tá muito empolgado em voltar pra estrada.

BOLA: Acho que foi a primeira portinha de esperança ali, de estar num show de novo. Foi bem evidente ali.

GUI: É muito louco porque em 2019, a gente tava fazendo turnê atrás de turnê, a gente fez muito show e do nada veio a pandemia. É engraçado porque, no final de 2019, a gente tava tipo: “Mano, a gente tá fazendo muito show, a gente tá cansado, ano que vem a gente precisa selecionar todos os shows, fazer menos shows e tal”, e a gente tava viajando muito e foi bem cansativo, e a gente foi descobrir como a gente ama muito o palco quando a gente ficou sem ele. Quando a gente voltou foi muita emoção mesmo, a gente viu o quanto o palco e a conexão com o fã fazem falta na nossa vida… A parte da gravação é muito gostosa, é uma parte que a gente ama porque a gente é músico, mas a parte da troca com quem admira o seu trabalho é a parada mais louca e enérgica. É por isso que a gente faz a música, né? Pra ter essa troca com a galera que admira o nosso trampo.

TRACKLIST: Total! O “Sala Dois” já tá disponível por aí, e vocês disseram que esse é o trabalho que melhor os representa. Qual vocês diriam que é a principal diferença do “Sala Dois” pros demais discos?

BOLA: Acho que, a princípio, é a entrada na gravadora, que é inevitável não ser influente dentro do trabalho, tanto no sentido musical, quanto mercadológico — como o posicionamento da banda no mercado, a identidade e tal… Mas acho que quando a gente fala que é o trabalho que mais representa a gente, talvez seja porque, pela primeira vez, acho que a gente tentou unir coisas de dez anos que a gente toca junto num disco, tanto em termos de arranjos quanto em termos de posicionamento. 

Como a gente já tinha três discos antes lançados, a gente passou por muitas coisas durante esses três discos. “O Tudo, o Nada e o Mundo” em 2013; depois veio o “Azul” que é um disco muito diferente, é um disco mais conceitual e tal; e depois disso veio o “Verniz”, que é um disco mais pop… A gente tentou, talvez, extrair o melhor desses três trabalhos pra esse quarto disco, que teve tambémmuita influência da gravadora, dos produtores, do Rick [Bonadio], do SONGZ, e de todo mundo que participou e fez a gente unir o que a gente tinha de melhor como banda e a gravadora o que tinha de melhor como produção, com os artifícios, equipamentos, ideias e tal… E eu acho que talvez tenha sido o trabalho que a gente fez com mais energia, por ser o primeiro trampo dentro da gravadora, depois de dois anos sem fazer nada, num período que a gente tava desanimado… 

Acho que a gente meio que voltou com força total pra gravar esse disco, muito na vontade de fazer as coisas serem melhores e voltar a tocar, voltar a ir pra estrada. Então, é um disco que tem uma carga muito grande depois desse processo de isolamento social, por isso que a gente, talvez, esteja dizendo muito que é o disco que melhor nos representa: porque é um disco que a gente gravou com uma vontade que há muito tempo a gente não tinha de fazer alguma coisa.

VITOR: A galera acabou recebendo a gente de uma maneira muito tranquila e a gente acabou se sentindo meio que em casa, então as coisas acabaram fluindo bem naturalmente. A gente tava feliz, cara, o lance foi esse. A gente saiu de uma pandemia, de um período em que muita gente não sabia onde ia parar, e ter esse alívio foi muito bom… Voltar a sorrir, a tocar, a fazer música, sabe? Foi muito bom, a gente tá bem feliz.

TRACKLIST: Bola, você comentou sobre os outros discos, que era algo que já estava aqui nas próximas perguntas, inclusive! Pra aproveitar, gostaria de perguntar: como vocês sentem, se é que vocês sentem, essa necessidade de se reinventar e procurar fazer algo novo dentro do estúdio a cada lançamento?

PEDRO: Cara, eu acho que, sinceramente, a gente não sente essa necessidade de se reinventar. Nunca foi uma demanda pra gente ter que quebrar com o que a gente já havia feito, acho que é o oposto. A gente vem buscando fortalecer a nossa própria identidade, e acho que esse é até um dos motivos pelo qual esse disco tem essa questão de representatividade pra gente: por ele ter nele uma carga de maturidade de uma banda que já tá junta há mais de dez anos, que já gravou quatro discos, que tá atrás de fortalecer a sua própria voz, a nossa voz enquanto conjunto, as nossas escolhas artísticas e musicais… Acho que esse disco tem essa questão pra gente.

A questão de se reinventar, eu acho que talvez apareça um pouco de maneira natural, no aspecto de que a gente tá sempre ouvindo coisas diferentes. Enquanto músicos, mas principalmente enquanto apreciadores e fãs de música, a gente tá sempre ouvindo coisas novas, estamos sempre buscando novas referências e deixando elas permearem a forma com que a gente aborda as nossas músicas. Então, eu acho que as distinções de um disco pro outro se deem nisso: de retratar um momento específico no qual algumas referências são mais aparentes que outras, ou agora a gente conhece uma banda que a gente não conhecia antes, e aí a coisa vai por esse caminho aí.

Foto: Az Brunas (@azbrunas)

TRACKLIST: E quais vocês diriam que foram as principais influências pra vocês comporem e gravarem o novo disco nos últimos meses?

BOLA: Talvez tenha sido nós mesmos. Depois de muito tempo tocando juntos, apesar da gente ter influências e referências desde que a gente começou a tocar, é inevitável a gente achar que a gente tá reinventado a roda ou fazendo alguma coisa muito original ou diferente, mas é muito difícil a gente fazer isso em 2022. Em 1920, 1930, dava pra você fazer isso, ser 100% original, porque não existia muita coisa ali, mas hoje em dia é muito difícil você criar alguma coisa muito inédita. A gente sabe que a banda, na hora de entrar no estúdio, é infestada de referências e influências. 

Mas depois de muito tempo tocando juntos, depois de dez anos gravando, ensaiando, fazendo show, a gente meio que criou uma identidade, criou um método de estúdio, de fazer arranjo, de fazer música, de gravar, onde todo mundo se entende muito bem. Além de facilitar, acho que isso faz com que a gente crie um ambiente propício pra nós mesmos não ficarmos meio perdidos, indo atrás do que a gente quer fazer: a gente sabe o que a gente quer fazer, a gente sabe o que o outro quer fazer, a gente se ouve muito e a gente conversa muito a respeito das músicas. 

Esse ambiente onde a gente mesmo se influencia muito na hora de tocar é muito propício pra gente criar uma coisa que, não que seja original, mas que seja exatamente a nossa cara, o que eu acho que é o mais importante pra gente, no fim das contas: é criar uma coisa que seja natural pra gente sem que a gente precise soar forçado, sem que a gente precise tocar alguma coisa que a gente não tá a fim de tocar — a gente jamais fez isso. Eu acho que, no final das contas, é isso: a nossa maior influência é sobre nós mesmos, e isso faz com que a gente crie uma característica muito própria. Apesar de não ser 100% original, é a nossa cara, a cara da Zimbra.

VITOR: É tão a nossa cara que a gente dá pitaco um no som do outro, e sempre foi assim. A gente se conhece o suficiente pra saber o limite entre o que você vai gostar e o outro vai gostar também…

BOLA: E até onde você vai levar um soco na cara! (risos)

VITOR: Então, a gente tem essa parada muito fechada, essa película da Zimbra que os quatro já entenderam muito bem como que funciona, saca?

TRACKLIST: Vocês estão há dez anos tocando juntos, e com quatro álbuns lançados depois do “Sala Dois”… Qual vocês acreditam que é o próximo passo da Zimbra e onde vocês pensam em chegar daqui pra frente?

GUI: Ficar rico e aposentar! (risos)

BOLA: Não, mas aposentar no Brasil é algo bem complicado, inclusive! (risos) Cara, acho que no fim das contas, é continuar fazendo o que a gente sempre fez, sabe? Acho que o que move a gente é esse ciclo: poder fazer música, gravar as músicas, sair em turnê pra divulgar o show, conversar com a galera, tocar as músicas ao vivo… É lógico que a gente almeja prêmios, uma visibilidade legal, ter uma vida confortável… A gente almeja tudo isso. Mas eu acho que o que nos faz felizes é sair pra tocar, é gravar um material, ficar orgulhoso de gravar aquele material, sair pra fazer show, ver as pessoas cantando, conversar com elas. 

O nosso plano é sempre poder fazer isso que a gente faz hoje de uma maneira que seja confortável e prazerosa pra todo mundo. No fim das contas, esse é o nosso objetivo: é morrer fazendo música sem precisar passar perrengue no final do mês. Esse é o nosso objetivo de sempre. Ninguém precisa andar de BMW — se der pra andar, ótimo, vai ser legal! (risos) Mas se não der, beleza também. Mas a gente só gostaria de continuar fazendo esse ciclo sem passar raiva no final do mês.

VITOR: E é importante ressaltar que, por mais que seja um ciclo, todo show é diferente, toda vibe vai ser sempre diferente, e eu acho que é isso que torna maneiro demais e enriquecedor. Podem falar: “Ah, mas vocês já passaram por Fortaleza quatro, cinco, dez, trinta vezes”. Sim, mas todas foram diferentes, todas agregaram alguma coisa, sempre tem pessoas novas, o show é diferente, a vibe é outra… Por mais que seja um ciclo, é sempre muito bom poder estar dentro disso e fazer a coisa acontecer.

TRACKLIST: Pra finalizar, queria perguntar pra vocês: qual a principal diferença da Zimbra de dez anos atrás pra Zimbra de hoje?

BOLA: A gente continua errando tudo! (risos)

PEDRO: Nós ainda somos músicos bem medíocres, um pouco menos medíocres depois de dez anos! (risos) Mas acho que assim, a gente teve a oportunidade de realizar muitos sonhos dentro da música. Quando a gente começou a tocar juntos, há mais de dez anos atrás, a gente tinha o sonho, por exemplo, de tocar em São Paulo, e a gente tocou em São Paulo; e aí depois o sonho foi tocar no Nordeste, e a gente tocou no Nordeste; e aí depois o sonho foi tocar na rádio, e a gente tocou na rádio. Todas as coisas que a gente já conquistou até hoje são uma experiência única, que eu acho que ninguém aqui poderia se sentir mais realizado… A gente olha, há dez anos atrás, e a gente fez as coisas que a gente disse que faria, né?

BOLA: Eu acho muito impossível a gente separar a vida pessoal e a profissional quando a gente fala de música, né? Porque eu acho que a música faz parte das nossas principais realizações, de tudo. Não é como um emprego normal, por exemplo, em que eu bato o cartão e saio fora… Que meu objetivo profissional é chegar em um patamar na empresa, mas meu objetivo pessoal é, sei lá, comprar um iate, tá ligado? Que são coisas meio discrepantes uma da outra. Na maioria das vezes, o nosso objetivo pessoal e profissional é se realizar com música, sabe? Se sentir bem. Apesar de ser um trabalho, a gente não consegue separar totalmente da nossa vida pessoal, porque a gente respira música o tempo inteiro. A gente vai dormir ouvindo música, vive falando sobre música…

No fim das contas, esse prazer de ser meio que tudo uma coisa só faz com que a gente se realize diversas vezes, sabe? Pô, tocar no Nordeste, por exemplo, que quando a gente foi pela primeira vez foi surreal. A gente viajou pra uma região do país que a gente nunca tinha ido e foi fazer o que a gente ama, encontramos pessoas que amam o que a gente faz, o que foi mais surreal ainda… É uma mistura profissional e pessoal muito intensa, que faz a gente levantar da cama todo dia feliz de estar fazendo o que a gente faz, sabe?

VITOR: Amadurecer em todos os aspectos, tanto pessoal quanto profissional… Ver pontos de vistas diferentes e ver que você está agregando em todos os sentidos, aspectos… A gente tá junto desde muito cedo, e ver como todo mundo evoluiu — ou não (risos) — é muito importante, e a gente tá sempre buscando isso: evolução, o crescimento profissional e pessoal… É por isso que a gente faz terapia em grupo. (risos) Não, brincadeira…

BOLA: Mas a gente faz terapia! (risos) Só não é em grupo.

VITOR: Mas é no mesmo local! E eu acho que é bem isso… O amadurecimento, no geral, é o que tem feito a Zimbra se sustentar e poder vislumbrar coisas e, ao mesmo tempo, manter o pé no chão e saber quais são as coisas palpáveis e as não palpáveis, o que é coeso e o que não é. Eu acho que o amadurecimento que a gente teve ao longo do tempo se faz muito presente hoje.

GUI: É muito louco porque a gente começou muito novinho, antes da banda mesmo a gente já tocava com 10, 11, 12 anos. Basicamente, pra nós quatro, estar onde estamos é um sonho realizado, tá ligado? Sem precisar colocar gravata, acordar às sete da manhã na segunda e bater o cartão às cinco da tarde…

BOLA: A gente acorda às oito na segunda. (risos) Uma horinha a mais de sono!

GUI: Mas a gente faz o que a gente ama pra caralho, isso daqui já é a realização de um sonho. Quando a gente era pivetinho, a gente já queria isso. Eu acho que nem todo mundo consegue realizar o que sonhava quando você tinha, o que, 12 anos? É difícil! A gente é muito grato pela galera que ficou com a gente e fez a gente conseguir viver da parada que a gente ama.

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