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Entrevista: BNegão conversa sobre primeiro disco solo de sua carreira

No mês passado, o rapper lançou “Metamorfoses, Riddims e Afins”, disco que mistura reggae, samba e outros ritmos que marcaram sua formação musical

bnegão
Foto: Jozzuu

O nome de BNegão já é amplamente conhecido entre o hip-hop brasileiro. Por décadas, o rapper carioca tem sido uma das vozes mais potentes e criativas da música nacional ao lado do Planet Hemp, grupo cujos trabalhos, rimas e causas marcaram a história do gênero ao longo dos últimos anos. Para inaugurar sua carreira solo, porém, o artista decidiu seguir um caminho distinto.

Em “Metamorfoses, Riddims e Afins”, o seu álbum de estreia solo que foi lançado no mês passado, BNegão mescla algumas de suas principais influências musicais em um disco que abraça o reggae, o samba, o arrocha e a cumbia, entre tantos outros gêneros que estiveram presentes em sua formação artística. “Essa mistura de estilos basicamente é quem eu sou. Esse disco me representa muito. O tipo de música que eu ouço, o que eu penso, faço, danço… Por isso mesmo que ele só poderia acontecer dessa forma solo”, declara.

Em entrevista ao Tracklist, o cantor conversou a respeito do processo criativo por trás de seu novo projeto, o início de sua carreira solo, os últimos movimentos do rap nacional e também sobre os seus próximos passos.

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Leia a entrevista completa com BNegão

TRACKLIST: “Metamorfoses, Riddims e Afins” é nada mais, nada menos do que o seu primeiro álbum solo. Pra você qual é a sensação de lançar um trabalho de autoria, produção e conceito totalmente próprios pela primeira vez após tantos anos na estrada?

BNEGÃO: Cara, a sensação é maravilhosa. Realmente emocionante, porque é uma coisa que eu sempre quis fazer, já há muito tempo. O “Enxugando o Gelo” nasceu como solo e acabou virando banda, mas tem muito desse tipo de energia também. Eu guiei, mas como todo mundo tocou em vários momentos, a gente acabou virando uma banda mesmo. Dessa vez, eu pensei em ser solo para poder dar direções sem ter que votar, colocar direto o que está na minha cabeça. E aí deu lindamente certo, graças a Deus, estou feliz pra caramba.

TRACKLIST: Depois de anos trabalhando ao lado do Planet Hemp e do Seletores de Frequência, quais você diria que são as principais diferenças entre o processo criativo desses grupos para o de um trabalho solo?

BNEGÃO: A diferença básica é essa, a banda normalmente está mais para uma democracia, todo mundo vota e decide. Tem coisa que não acontece por decisão da banda e é assim mesmo. Um projeto solo é mais uma autocracia. E os dois métodos são importantes, tem coisa que só acontece de forma solo, porque às vezes são ideias muito radicais, então tem um trabalho de convencimento das pessoas, que você simplesmente faz quando é o seu, então isso também é maravilhoso.

TRACKLIST: Musicalmente, o álbum também é bastante diferente de outros projetos do Planet Hemp. O disco traz referências de várias de suas inspirações musicais – não apenas do hip-hop, mas também do reggae e do samba. Como surgiu a ideia de reunir tantos estilos diferentes em um só projeto?

BNEGÃO: Essa mistura de estilos basicamente é quem eu sou. Esse disco me representa muito. O tipo de música que eu ouço, o que eu penso, faço, danço… Por isso mesmo que ele só poderia acontecer dessa forma solo. Ele seria muito modificado em um sistema de banda. Mas mesmo assim, o disco conta com várias colaborações, só que com tudo direcionado pelas minhas ideias.

TRACKLIST: O trabalho conta com a participação de nomes notáveis da música nacional, como o BaianaSystem e o Heavy Baile. De onde surgiu a ideia para as colaborações do disco?

BNEGÃO: As colaborações aconteceram dentro da própria história do “Metamorfoses, Riddims e Afins”. Por exemplo, quando ouvi a base do “Essa é Pra Tocar no (Heavy) Baile”, foi sensacional, porque pra mim é uma base absurdamente incrível, revolucionária, com uma voz carioca, como nunca foi feita. E eu fiquei com um monte de ideia do que fazer em cima dessa base. Cheguei para o Léo Justi e falei com ele. A ideia era até fazer outra coisa, mas acabou que eu fui fazer de bobeira e deu certo. Já é uma música usada como riddim, né, em que aconteceu a metamorfose.

No caso da “Verdadeira Dança do Patinho” com o BaianaSystem, foi a versão feita para tocar no Navio Pirata, há um tempão atrás. Ela acontecia em alguns shows que eu tocava com o Baiana também pelo Brasil. Então eu decidi fazer ela existir de verdade ali na gravação no estúdio. MC Paulão King metendo bronca geral. O Baiana está presente também no “O Sósia”, que tem participação fundamental deles. É um samba reggae misturado com samba rock, vindo diretamente de São Paulo dos anos 80.

TRACKLIST: Um movimento cada vez mais comum entre artistas do rap nacional tem sido explorar gêneros que orbitam e influenciam cultura do hip-hop, como o samba, o jazz, o soul e o próprio reggae, em novos discos, e me parece que “Metamorfoses, Riddims e Afins” surge como parte desse movimento. Para quem sempre acompanhou BNegão pelo rap, como é a sensação de se apresentar ao público a partir de uma nova sonoridade?

BNEGÃO: Você está falando de um movimento cada vez mais comum. Se bobear, acho que o disco que começou essa história toda foi “Enxugando o Gelo”, lá de trás, em 2003. Eu me lembro quando eu encontrei a galera toda. Criolo estava lançando o disco dele, o primeiro no “Nó na Orelha”, e ele falou que “Enxugando o Gelo” tinha sido fundamental dentro dessa história toda. Muitas outras pessoas me falaram isso, inclusive o próprio BaianaSystem. O “Enxugando o Gelo” acabou sendo um disco mãe dessas paradas, e o próprio Planet Hemp também sempre foi.

A gente sempre foi a geração que ouvia vários sons, de várias prateleiras e fazia essas fusões. Sempre foi assim, naturalmente. E aí esse trabalho é tipo uma sequência da minha caminhada mesmo. É legal porque mesmo a galera que me acompanha com os Seletores de Frequência, que já é uma parada diferentona, ou com o Planet Hemp, que também sempre foi diferentão – porque apesar de ter estourado, é uma banda com um molde underground de experimentação – mesmo eles, se surpreenderam com meu novo álbum, e eu fico feliz, porque a ideia é sempre essa: tentar trazer algo novo. E são músicas que eu já estava gestando há um tempão, consegui concretizar maravilhosamente, uma felicidade total.

TRACKLIST: Quais são os próximos passos que podemos esperar em relação à sua carreira solo? Existem planos para novos trabalhos e shows para o futuro?

BNEGÃO: Da minha carreira solo, espero que ela floresça a beça. A gente está planejando umas coisas pra fora do Brasil também, retomar essa caminhada que eu sempre tive com os meus trabalhos. Já tá saindo um monte de coisa, tem sido legal. Até o final do ano que vem talvez lançar um outro trabalho com a mesma galera que me acompanha: Gilber T nas guitarras, bases e baixos; Sandro Lustosa na percussão; Pedro Selector no trompete; DJ Castro nas bases scratchs, turntables, pick ups; e MC Paulão King com sua voz mega cultural, boladão.