in ,

Entrevista: Jade Baraldo fala sobre seu novo single, “Não Ama Nada”, e sobre sua próxima era

Jade Baraldo

Desde o lançamento do seu primeiro disco, “Mais Que os Olhos Podem Ver”, Jade Baraldo se tornou uma grande revelação do pop nacional, trazendo letras impactantes unidas à uma sonoridade única. A artista nos apresentou um indie pop brasileiro misturado com grandes influências da música alternativa, como Billie Eilish e Rosalía, e agora podemos ver uma versão mais afrontosa e brutal de si mesma em seu novo single, “Não Ama Nada”.

Cantora desde sempre, Jade nasceu na cidade catarinense de Brusque e cresceu já envolta pelo mundo da música, tanto sob influências nacionais, como MPB, quanto internacionais, como a icônica Miley Cyrus. Em 2016, a cantora entrou para o “The Voice Brasil”, chegando até as semifinais da competição, apresentando seu enorme talento e a sua energia cativante para o país inteiro.

Entretanto, assim como na carreira de qualquer artista, Jade enfrentou diversas adversidades e teve que passar por muita coisa para chegar aonde está hoje. “Não vem para cima de mim, eu não vou cair de novo”, disse ela, referindo-se ao single. A faixa, como Jade mesmo a descreve, é “brutalmente feminina”, e dessa forma, se torna um desabafo sincero “para todos os filhos da mãe que já passaram em sua vida”.

Introduzida pela nova música, a nova era promete dar voz a todas as mulheres, incluindo as vilãs, que também têm uma história para contar. Afinal, elas não estão fazendo aquele papel por nada. Com um beat agressivo, produzido por Lucs Romero, um videoclipe impactante cheio de referências e uma letra afrontosa, “Não Ama Nada” é a prova que Jade Baraldo não está para brincadeira e veio para ficar como um dos grandes nomes da próxima geração do pop nacional. Sejam bem-vindos à era anti-heroína, que tivemos a honra de conhecer um pouco melhor pela entrevista que a cantora concedeu ao Tracklist.

Por Mateus Bianco


Leia a entrevista com Jade Baraldo na íntegra:

TRACKLIST: Primeiramente, queria dizer muito obrigado por me receber! Já pudemos ouvir seu próximo single, “Não Amada Nada”, e adoramos! Como foi que rolou a criação e a composição da faixa?

JADE: Bom, a criação da música foi o seguinte: eu estava em Curitiba e fui fazer uma live com uma artista amiga minha. O trampo dela é muito foda, curto muito, e o produtor dela também é muito foda. A gente já tinha trabalhado juntos, sendo até ela que fez essa conexão com o Lucs Romero, que é o produtor da faixa “Não Ama Nada”. Todo mundo estava no estúdio, e a gente já queria fazer uma música, eu e o Lucs, então eu falei “cara, eu tenho uma parada muito pesada pra colocar em letra, vamos fazer um beat pesado, porque eu preciso botar uma parada muito forte para fora”. Foi assim, basicamente, que aconteceu. Aí ele chegou com o beat, e eu e a minha amiga fizemos a letra juntas e algumas coisas de melodia, e saiu dali isso. Tem mais uma outra composição que fizemos juntos que está muito boa, mas essa daí eu não vou poder dar spoiler…

TRACKLIST: É uma música muito pesada, com um beat muito pesado, principalmente se compararmos com os seus lançamentos anteriores, que são mais melancólicos e vulneráveis. Como foi a transição de uma era para a outra?

JADE: Realmente, foi uma mudança brusca de era, que condiz com meu momento de vida. Mas eu vou dizer que essa Jade vulnerável existe, e não tenho vergonha nenhuma de voltar com ela em algum momento. Eu acho que existem muitas facetas da Jade. Eu sou uma pessoa muito versátil, gosto de brincar com as capas, gosto de brincar com performance. Eu tenho ascendente em gêmeos e enjoo das coisas muito fácil, então eu gosto de brincar com um personagem, faz parte do meu trabalho. Mas, realmente, essa Jade que está vindo aí é muito mais “pé na porta”, muito mais “afronta”, sem paciência. Ela não tem mais tempo para perder!

TRACKLIST: No clipe também podemos ver também um pouco dessa era “afronta”. De onde veio a inspiração visual para o vídeo?

JADE: Cara, a inspiração visual do clipe é uma mistura de várias coisas que eu amo. Eu gosto muito de vilã. Nunca gostei de princesa da Disney, eu sempre gostava mais das vilãs. Achava elas mais interessantes. Por isso, estou chamando essa nova era de “era anti-heroína”. As vilãs também têm uma história para contar, elas não estão fazendo aquele papel por nada. O que a Disney está fazendo agora com as vilãs é muito legal, porque estão humanizando-as. A minha vilã favorita é a Cruella. Eu fiz até o cabelo da Cruella! Quando eu assisti o filme dela no cinema, eu liguei para o diretor do clipe, no meio do processo, e falei “para tudo, tem que usar essa referência aqui”. Daí eu mudei o roteiro. Eu gosto muito dessa dualidade que nem todo mundo é só do bem, e nem todo mundo é só do mal. Todo mundo tem nuances, tem sombras e tem luz. E tá tudo bem!

TRACKLIST: No seu Instagram, você fez uma dinâmica de se mostrar como uma “princesa do pop”, para depois mostrar a “verdadeira” nova era, anunciando o lançamento de “Não Ama Nada”. Aquilo também representa essa dualidade?

JADE: Exatamente! Essa dualidade existe, e vai ficar muito mais evidente nos próximos passos.

Tracklist: Por que você escolheu o “Não Ama Nada” como lead single dessa era? Vai ser algo permanente ou apenas uma das facetas que você quer mostrar?

JADE: Uma das facetas. Mas essa faceta veio para ficar e vai prevalecer, essa Jade brutal.


TRACKLIST: Você descreveu a música como “brutalmente feminina”. De onde veio esse termo?

JADE: Quem falou isso foi um grande amigo meu. Um dia, ele chegou e falou assim pra mim: “Jade, tu é fofa e brutal ao mesmo tempo”. Que palavra é essa? Eu amei essa palavra! É exatamente isso que eu sou. Foi a partir daí que veio todas essas “mirambolâncias” na minha cabeça. Eu realmente sou essa pessoa.

TRACKLIST: Você disse que você é muito intensa, muito prática. Então, como foi a pandemia? Como ela mudou o seu jeito de fazer arte?

JADE: Acho que a pandemia serviu para me mostrar o que eu não quero nesse momento da minha vida. Eu passei por essa profundeza de “Dose”, que mostra essas nuances bem melancólicas e foi um reflexo da pandemia também. Mas depois de certo tempo, chegou a Jade “brutal” falando para Jade “fofa”: “levanta, minha filha, que você tem que trabalhar, a gente tem que viver, botar muita coisa para fora”. Acho que foi isso. A pandemia está me servindo para lembrar que não está tudo perdido. Temos como fazer coisas ainda, temos como mudar as coisas. A gente vai se adaptando.

TRACKLIST: Durante a pandemia, o que mais influenciou e modificou o seu jeito de viver e de fazer arte?

JADE: Nossa, que pergunta profunda! Acho que a pandemia acelerou muita coisa. Muita coisa que já não cabia mais. Ficou realmente só o essencial. Muitas pessoas se separaram na pandemia, eu também acabei me separando. Então, eu acho que a pandemia foi um momento de rupturas, de morte e renascimento.

TRACKLIST: Voltando para a nova era, já vimos que você tem vários projetos em outras línguas, como versos em “yo quiero” e a versão em espanhol de “Brasa”, além de algumas faixas em inglês. A gente vai continuar vendo esses projetos em línguas estrangeiras?

JADE: Com certeza! Eu gosto muito de cantar em espanhol. Acho que minha voz se encaixa no espanhol, na fonética e na sonoridade. Vou explorar mais esse lado. Eu também amo cantar em inglês. É muito louco como a voz e o timbre mudam, dependendo da língua em que você está cantando. Cada uma tem um sabor especial.

TRACKLIST: Você considera que o fato de você gostar de cantar em outras línguas seja uma parte da sua personalidade que gosta de mudar de facetas? Talvez até virando uma personagem nova quando canta uma língua diferente?

JADE: Na verdade, nunca pensei por esse lado. Eu sempre me sinto muito eu cantando. As minhas facetas não estão atreladas à língua que eu canto, elas vêm da minha personalidade, e eu não preciso de uma língua nova para ser qualquer outra coisa.

TRACKLIST: Se você pudesse escolher qualquer artista internacional para entrar em alguma colaboração no seu próximo álbum, quem seria?

JADE: Rosalía! Fiquei na dúvida, porque são sempre três: ou a Lady Gaga, ou a Rosalía, ou a Billie Eilish. Mas, quem tem mais a ver com essa minha nova era é a Rosalía. São personalidades completamente diferentes.

TRACKLIST: Agora que você falou, consegui perceber um pouco das três em “Não Ama Nada”, tanto na música, quanto no clipe. Foi proposital?

JADE: Sério? Que bom então, deu certo!

TRACKLIST: Como você vê o cenário do pop brasileiro, considerando os lançamentos recentes?

JADE: Cara, eu estou gostando muito. Eu acho que a gente está caminhando para um lugar muito foda, como Brasil. A gente tem mulheres muito fortes no Brasil, são artistas que cada uma tem sua personalidade. Eu entendo que o meu som não é um som comum que as pessoas tão acostumadas a escutar, então eu tenho vários desafios para enfrentar. Isso está sendo trabalhado, de certa forma. O que ajudou muito a ter essa diversidade foi a Anitta. A gente tem que agradecer a Anitta que está levando o Brasil para fora. Além disso, também tem o fato da Billie Eilish, uma artista muito alternativa, ter alcançado o mainstream. Isso fez com que o mercado parasse e pensasse “nossa, vamos prestar atenção nos estranhos, porque os estranhos têm o poder da estranheza”. Isso abriu o olho das gravadoras para dar espaço aos estranhos.

TRACKLIST: Falando na Billie Eilish, no último lançamento dela teve uma faixa influenciada diretamente pela bossa nova, que é um tipo musical que não é muito comum no exterior. Você toparia fazer uma música nesse estilo?

JADE: Quem me conhece sabe que eu venho muito da MPB, cresci escutando MPB. Não vou descartar essa possibilidade, mas, agora, para o meu planejamento a médio, longo prazo, eu não vejo isso cabendo muito. Porém, amo muito, faria com muito gosto. Eu cantei Tom Jobim no “The Voice”, em uma das minhas apresentações. Faz parte da minha raiz, faz parte de quem eu sou.

TRACKLIST: Falando no “The Voice”, o que você, a Jade Baraldo de hoje, assinando contrato com gravadora, entrando na nova era, falaria para a Jade do passado, que estava recém pensando em entrar no programa, ainda meio nervosa por estar quase no mundo da música nacional?

JADE: Nossa, eu ia falar assim: “garota, você não imagina a loucura que é essa merda!”. Cara, eu entrei ali achando que eu ia cantar, e que cantar era lindo. Eu fui tão corrompida nesses últimos anos, Jesus Cristo. Mas enfim, eu continuo com o meu sonho, que é cantar. Estou fazendo o que eu amo e estou me sentindo muito feliz, realizada, privilegiada e completa de estar aqui.

TRACKLIST: Quando você fala que foi “corrompida”, é possível relacionar isso com o beat agressivo de “Não Ama Nada”, representando uma maneira de “descarregar”, de certa forma?

JADE: Com certeza absoluta. É exatamente isso. É como se fosse uma mensagem tipo “já teve um outro filho da puta que corrompeu minha inocência, então não vem pra cima de mim, eu não vou cair de novo”.

Jade Baraldo
Foto: Lucas Nogueira


TRACKLIST: Quem foi o artista que, pela primeira vez que você ouviu alguma música da pessoa, você pensou que queria ser exatamente com ela? Como um ídolo desde criança, por exemplo.

JADE: Eu sempre fui fanática pela Miley Cyrus e pela Hannah Montana. Eu assistia aquilo na Disney e me fantasiava de Hannah Montana. Eu tinha a peruca da Hannah Montana, roupa da Hannah Montana e microfone da Hannah Montana. Isso quando eu tinha oito anos. Sempre acompanhei muito a carreira dela, e daí quando ela virou essa porra louca que ela é eu falei “ei, tá explicado por que eu sempre fui fã dessa pessoa!”. Eu acho que ela foi uma das minhas ídolas desde pequena, eu amava a essência dela e a personalidade dela. Aliás, a primeira música que eu aprendi a tocar no violão foi “The Climb”.

TRACKLIST: Já que você falou na Miley, você já pensou em explorar o rock, ou o rock punk, que nem ela fez em seu último lançamento?

JADE: Em “Não Ama Nada”, se você fechar o olho, você se enxerga em uma roda punk. Dá vontade de bater cabelo, e no refrão mesmo tem um “foda-se sua grana!”. Tem uma pegada rock. Eu tinha até pensando em botar uma guitarra, ou alguma coisa distorcida assim, mas a faixa já tem essa energia do rock.

TRACKLIST: Pois é, dá pra sentir essa energia caótica, e até mesmo brutal que você falou. Falando nisso, essa energia brutal vai te acompanhar o disco inteiro, ou é só uma abertura para os outros caminhos da era?

JADE: Sempre vai me acompanhar, não tenho como fugir disso. É um dom e maldição. Ela sempre esteve dentro de mim, eu sempre tentava botar ela embaixo do tapete, mas ela foi crescendo, crescendo e crescendo até que virou um elefante no meio da sala. Não tem mais como evitar.

TRACKLIST: Agora, falando da energia dos shows, como tem sido a falta de shows e esse contato com os fãs no último ano?

JADE: Muito difícil. É foda, porque eu fiz um show recentemente, muito lindo e muito legal, mas as pessoas estavam sentadas em cadeiras, todas de máscara. Elas não podiam se aproximar de mim e eu não podia me aproximar delas. É extremamente limitado. Não tem do que reclamar, já que estamos voltando a fazer shows, mas é uma coisa muito estranha. O fato de já estar olhando no olho é uma coisa que alivia. E o negócio de fazer live; cara, eu não quero saber de live. Eu não sinto nada fazendo live, ninguém sente. É legal você ver seu ídolo, para as pessoas que são fãs, mas não é a mesma coisa que estar num show, vendo o suor pingando da cara da pessoa e sentindo a energia, sabe? Nada vai substituir isso. Realmente fez muita falta.

TRACKLIST: Você já está pensando em fazer turnês ou tocar em festivais ano que vem, quando a situação da pandemia melhorar?

JADE: Com certeza, vamos fazer. Já estamos trabalhando nisso

TRACKLIST: Falando em festival, você cantou no Rock In Rio, que é um dos maiores festivais do Brasil e do mundo. Como foi essa experiência?

JADE: Foi muito foda. Não estava nem acreditando que eu estava lá. Estava muito nervosa, mas fiz o serviço. E depois, quando eu entrei num contêiner que tinha lá atrás, tipo um camarim da galera, eu encontrei os meninos do 3030 lá. Eu falei ‘gente, é isso mesmo?” e eles “pô, Jade, fica de boa!”. Foi muito legal essa experiência.

TRACKLIST: O que a gente pode esperar de projetos próximos para essa nova era?

JADE: Bom, nos meus próximos passos, eu estou fazendo do meu trabalho a minha missão, e da minha missão o meu trabalho. Então, eu vou cantar dando voz para todas as mulheres, dando espaço de fala para todas. É sobre isso que eu vou falar sempre, a partir de agora.

TRACKLIST: Ouvindo essa fala, esse lançamento e toda a sua arte até hoje, dá para ver que o movimento feminista te influencia muito. Como tu sente isso?

JADE: Se não fosse o movimento feminista, eu não estaria aqui hoje. Eu tenho plena consciência disso, então, em respeito à minha história e às histórias que eu conheço, eu estou aqui. Eu não posso saber disso, ter essa informação, e não fazer nada. Por isso que eu sinto que esse é meu dever e essa é minha missão, e é sobre isso que eu falo. Eu nunca deixei de falar sobre isso, mas antes eu não tinha consciência, mas hoje eu tenho.

TRACKLIST: Você já citou a Anitta, a Rosalía e a Billie, mas tem mais alguma mulher forte que tenha te inspirado a ser uma das vozes atuais por essa causa?

JADE: Acho que o que mais me inspirou foi ver minha mãe. Acho que eu me inspirei muito nela, vendo por tudo que ela passou. Porque sempre a geração passada se fode mais, e a linha de frente sempre se fode também. Mas se não tiver uma linha de frente, quem é que vai fazer mudança? É ver todas as situações que eu vi minha mãe passar. Eu nunca vou passar por isso, e eu não quero que minha filha passe por isso.

TRACKLIST: Tudo que você falou agora, é possível de se ver em “Não Ama Nada”, sobre essa imposição de você dizer ‘eu estou aqui, e eu vou continuar aqui”, não é?

JADE: Exatamente!

TRACKLIST: Agora, para finalizar, voltando para a música, qual é sua parte favorita de “Não Ama Nada”?

JADE: A risadinha no final! Essa parte é muito boa, eu amo muito essa parte! E o ‘foda-se sua grana’, também. Nossa, não preciso nem falar. Essa parte é… Gozei!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *