A música eletrônica definitivamente não seria a mesma sem o Daft Punk e o álbum “Random Access Memories“, de 2013. Ao longo dos últimos 28 anos, a dupla inventou e reinventou diferentes formas de se produzir música, modelando aos poucos um dos sons mais autênticos da indústria fonográfica.
Desde o lançamento de “Homework”, o aclamado álbum de estreia de 1997, os franceses reivindicaram um espaço até então inexplorado, o que permitiu ao dance crescer em um ritmo avassalador nas décadas seguintes.
Por Fernando Marques e Gabriel Haguiô
Com tamanho talento e inovação, não demorou muito para que o Daft Punk se tornasse um verdadeiro fenômeno a partir dos anos 2000. Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter, os produtores por trás das misteriosas máscaras de robô, começaram a enfileirar hits como “One More Time” e “Harder, Better, Faster, Stronger” e rodaram o globo em turnê, promovendo novos discos e conquistando prêmio atrás de prêmio.
O último deles foi o mais emblemático: o Grammy de “Álbum do Ano”, o primeiro concedido a um artista de música eletrônica na história, pelo mais importante trabalho do Daft Punk. “Random Access Memories” foi lançado em 2013 reunindo artistas como Pharrell Williams, Nile Rodgers e Julian Casablancas em um projeto que consolidou o duo como um dos nomes mais influentes de toda a música eletrônica - um impacto evidente em sucessos como “Get Lucky”, “Instant Crush”, “Lose Yourself To Dance” e tantas outras canções que marcaram uma geração.
Sem que soubéssemos, “Random Access Memories” foi também o ato final da sua carreira, que oito anos depois, viria a anunciar sua despedida. Trata-se da obra definitiva da dupla, que expõe todo o seu talento em criar batidas atemporais e se renovar sem perder sua própria identidade, ainda que jamais tenhamos visto os rostos por trás de cada um de seus sucessos. Melhor assim: o Daft Punk sempre será a prova de que a música fala por si só.
“Random Access Memories“
Disco, Pop, Dance, “Random Access Memories”. A definição de gênero é última coisa que esse disco merece. A forma com que se transita entre os gêneros, utilizando de seus melhores elementos para construir uma narrativa, não só envolvente, como também grandiosa, é o que trouxe Daft Punk ao ponto mais alto em sua carreira.
Desde seu lançamento em 2013, as análises feitas sobre o conjunto da obra inundou os veículos midiáticos, principalmente após a vitória na maior categoria do Grammy. Uma das formas interessantes de se analisar é dividindo a obra em três partes, e se engana quem automaticamente categoriza como inicio, meio e fim.
Reverência às raízes
Reverência, explosão e agradecimento seria a forma mais apropriada. Toda a jornada inicial do disco remete as raízes da música eletrônica – em “Giorgio by Moroder” é onde podemos identificar com clareza este ponto. A produção é uma verdadeira reverência ao lendário produtor Giorgio Moroder, que é considerado por muitos o pai da música eletrônica.
“Within” é o ponto de virada, toda a construção da abertura do disco é culminada nesta canção, que tem o papel solene de agradecer aos pioneiros que abriram as portas para que Daft Punk pudesse existir.
A explosão de Daft Punk
De “Instant Crush (feat. Julian Casablancas)” à “Get Lucky (feat. Pharrell Williams and Nile Rodgers)” é o ponto de explosão. Chique, fino, representativo. Guy e Thomas mostram aqui tudo o que são capazes de fazer, desde hits, a baladas dançantes com nuances extraordinárias.
A jornada da explosão segue com elementos extraordinários, usando e abusando de instrumentos, solos de guitarra e muita maestria. Comercialmente falando, “Get Lucky” foi o grande acerto da dupla, algo que abriu espaço no meio mainstream para que pudessem concorrer, e vencer, categorias importantes do Grammy.
“Random Access Memories” e seu agradecimento
A partir de “Beyond“, começa uma jornada de agradecimento, muito mais introspectiva e reflexiva do que o disco vinha construindo. Se Daft Punk decidiu pela aposentadoria por medo de não conseguirem superar o que foi construído em “Random Access Memories“, nunca saberemos, porém, se esse foi o motivo, é completamente plausível.
Mesmo após 8 anos de seu lançamento, o último disco de Daft Punk reverencia e agradece suas raízes, mas também nos faz agradecer e reverenciar a história da dupla que mudou o jeito com que a música eletrônica passou a ser consumida.
Um disco sobre memórias para uma dupla que nunca sairá das nossas.
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