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Opinião: regravações de Taylor Swift vão muito além dos direitos autorais

taylor swift

Marcelo Monteiro
twitter.com/mrclmonteiro

Nesta sexta-feira (18), Taylor Swift anunciou mais uma de suas regravações: desta vez, a do álbum “Red“. O anúncio pegou os fãs de surpresa, pois esperava-se que “1989” seria o próximo a ganhar uma nova versão. Justamente porque o vencedor do Grammy de “Melhor álbum” de 2016 marca uma virada de chave e tanto na maneira como Taylor Swift passou a se relacionar com a sua própria obra.

Foi em 2014 que Taylor Swift decidiu remover todas as músicas do Spotify. À época, prestes a lançar “1989″, a cantora escreveu em um artigo no The Wall Street Journal que “a pirataria, o compartilhamento de arquivos e o streaming reduziram drasticamente o número de vendas de álbuns pagos, e cada artista lidou com esse golpe de maneira diferente”.

Um ano depois, em uma carta aberta direcionada à Apple, ela criticou a decisão da empresa em optar por não pagar os artistas pelas reproduções feitas durante os três meses de teste gratuito do Apple Music, que seria lançado em poucos meses. Ela se recusou a disponibilizar 1989 caso a política fosse mantida e foi além, dizendo que achava a decisão “chocante, decepcionante e completamente diferente desta empresa historicamente progressiva e generosa”. “Três meses é muito tempo para ficar sem remuneração e é injusto pedir a alguém que trabalhe de graça”, ela prosseguiu. A Apple voltou atrás, alterou a política e manteve os pagamentos, mesmo no período gratuito.

Aquele álbum acabou se tornando seu maior sucesso em vendas. O ótimo desempenho comercial do disco, no entanto, pesou muito mais para o lado da opinião de Swift de que “música não deveria ser de graça” e, a partir daí, passou a ser chamada de “mercenária” por boa parte do público.

A perda do próprio catálogo

No entanto, a situação contra ela tomou rumos ainda mais delicados quando, em 2020, todo o seu catálogo lançado pelo selo Big Machine foi vendido. A discussão tomou outros tons e passou a se estender à indústria fonográfica de uma maneira geral quando, de repente, toda sua obra estava nas mãos de Scooter Braun, com quem ela (e boa parte da mesma indústria) nutre severos desafetos.

À época, também em uma carta aberta, ela desabafou: “Isso é o que acontece quando você assina um acordo aos quinze anos com alguém para quem o termo ‘lealdade’ é claramente apenas um conceito contratual”, escreveu. “Os artistas deveriam possuir seu próprio trabalho por muitos motivos, mas o mais gritante e óbvio é que o artista é o único que realmente conhece aquele corpo de trabalho”.

Regravações de Taylor Swift: “Fearless”, “Red” e a volta por cima

A partir do momento em que se viu sem ter o controle da própria obra, Taylor Swift decidiu regravar seus álbuns antigos. E o que podemos tirar de conclusão disso tudo?

Muito mais do que um relançamento, é uma assinatura de que, naquele trabalho, o que predomina é o controle do artista sobre sua própria arte. Em suma, é disso que se trata a “Taylor’s Version”, o nome dado para as regravações (que se estenderão até reputation, último álbum lançado pela Big Machine).

Acima de tudo, as “Taylor’s Version” serão lançadas sob um acordo que é bom não só para ela, mas para uma série de outros artistas do selo. “Como parte do meu novo contrato com o Universal Music Group, pedi que qualquer venda de suas ações do Spotify resultasse em uma distribuição de dinheiro para seus artistas, não reembolsável. Vejo isso como um sinal de que estamos caminhando para uma mudança positiva para os criadores  —  uma meta que nunca vou parar de tentar ajudar a alcançar, de todas as maneiras que puder” ela escreveu.

É sobre a dignidade do artista

O que para muitos passou despercebido, de repente, estava óbvio: era muito mais sobre a dignidade do artista do que pelo dinheiro. E, no caso do dinheiro, era uma forma de defender que artistas independentes ou com menos visibilidade do que ela  —  que dependem muito mais do recurso financeiro  —  fossem minimamente respeitados e recebessem um pagamento digno pelo seu trabalho.

Como toda boa injustiça histórica, esta também levou anos  —  e algumas boas pedradas  —  para ser corrigida. Por mais que sejam trabalhosas, as regravações dos discos de Taylor Swift são uma vitória contra quem, nas suas próprias palavras, não foi leal, além de abrirem mais um precedente na defesa de que músicos sejam os verdadeiros donos de sua arte.

Enquanto a expectativa agora é para que novembro chegue logo e os fãs possam ouvir o que Taylor Swift preparou para sua versão de “Red“, “Fearless (Taylor’s Version)” já entra para a história como um marco na indústria da música. Ao estrear no topo da parada da Billboard Hot 100, tornou Taylor a única cantora a conseguir o feito com três álbuns diferentes em menos de um ano. Quem acaba ganhando, no fim, são todos os artistas – e o público. Enquanto isso, os “vilões” da história começam a ser ocultados em sua própria insignificância moral.

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