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Review: Rina Sawayama reafirma sua força criativa com “Hold The Girl”

Em seu segundo disco, a cantora se consolida como uma das artistas mais imprevisíveis da atualidade

rina sawayama
Foto: Divulgação

Até então, Rina Sawayama tinha apenas um álbum e alguns EPs em sua carreira, mas a sensação é de que já havia feito muito mais. Com o lançamento de seu trabalho de estreia, “Sawayama”, em 2020, a cantora surgiu como uma das grandes novidades da música nos últimos anos e conquistou seu próprio espaço dentro do pop internacional.

Além do seu talento em casar influências pessoais e criar um som autêntico a partir delas, Rina se destacou pela ambição de suas músicas. Com tamanha criatividade e confiança, as canções de seu primeiro disco não parecem feitas por uma artista estreante na indústria, mas sim por uma diva pop há anos no mercado, explorando estilos e possibilidades e fugindo das fórmulas óbvias.

“Hold The Girl”, o seu segundo trabalho de estúdio lançado nessa sexta-feira (16), é ainda mais grandioso, diverso e tocante do que o seu antecessor. Apesar do enorme desafio que é dar sequência a um álbum de tanto sucesso, a cantora nipo-britânica segue os passos que a tornaram reconhecida pelo mundo: com ainda mais originalidade, o disco a consolida como um dos nomes mais inovadores do pop atual.

Uma viagem pelas influências de Rina Sawayama

Desde que ganhou maior projeção na indústria, o principal talento de Rina Sawayama tem sido as várias maneiras que encontra para mesclar gêneros com o seu toque pessoal. A cantora não só manteve a mesma essência em “Hold The Girl”, como também passou a explorar ainda mais possibilidades para as suas novas músicas.

Para o seu sucessor, a artista abriu mão dos riffs marcantes e das influências de metal de “Sawayama” e parte para uma direção mais voltada ao pop, mas ainda muito autêntica. O álbum incorpora vários nuances do pop punk, do trance, do country e do rock britânico para dar vida a canções grandiosas, com instrumentações complexas e coros feitos para as arenas.

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A faixa-título é um excelente exemplo da sonoridade do disco, oferecendo a dose experimental que marca o restante do disco. Em poucos segundos, a música reúne batidas frenéticas, refrãos poderosos, orquestras e teclados para nos apresentar a “Hold The Girl” — porém, trata-se apenas de uma das muitas versões que Rina mostra de sua versatilidade musical. 

Logo em seguida, “This Hell” nos introduz ao lado mais dançante e eufórico do álbum com ritmos, letras e ânimos dignos de um verdadeiro hit. A canção celebra a união da comunidade LGBTQIA+ ao responder às condenações homofóbicas promovendo a autoaceitação — tudo isso em meio à uma grande mistura de country e dance que somente funcionaria nas mãos de Sawayama.

São vários, aliás, os momentos em que a cantora alterna entre arranjos mais frenéticos e outros mais simples para dar vida ao disco. Duas das melhores faixas, “Your Age” e “Imagining”, flertam com influências do trance e da música eletrônica, enquanto “Hurricanes” e “Phantom” têm a presença de uma banda completa e dão destaque a solos de guitarra e um ritmo mais pesado, mas igualmente vibrante.

Um disco mais maduro e corajoso

Em “Hold The Girl”, Rina parece se encontrar em sua versão mais livre, corajosa e completa como artista — não apenas musicalmente, mas também como compositora. A cantora aborda diferentes temas sobre a sua vida íntima, como as relações com a sua família e o seu processo de autoaceitação, e narra uma história de crescimento pessoal ao longo das faixas.

O disco nos apresenta à uma escritora mais madura e próxima de si mesma do que em “Sawayama”, contando abertamente suas próprias experiências para os fãs. A bela “Catch Me In The Air” reflete sobre a sua relação com a sua mãe em diferentes momentos da vida, enquanto “Holy (Til You Let Me Go)” descreve como a religião a impactou durante sua infância e como ela passou a questioná-la.

“Send My Love To John”, entretanto, talvez seja o mais claro exemplo da evolução de Rina como compositora. A canção acompanha a perspectiva de uma mãe se desculpando por ter sido tão dura com seu filho por conta de sua sexualidade — uma mensagem poderosa e comovente para todos que sofreram da mesma rejeição ao longo da vida.

Sawayama idealiza, produz e escreve suas músicas com um tato que pouquíssimos artistas têm com a sua obra nos dias de hoje. O álbum é um reflexo do perfeccionismo e do cuidado com os quais a cantora reúne suas ideias e as transforma em um trabalho extremamente coeso. Ainda que incorpore várias de suas inspirações, desde Shania Twain até Lady Gaga, a marca de Rina Sawayama se faz cada vez mais presente.

“Hold The Girl” não é só um retrato de seu crescimento como artista durante os últimos anos, mas também um mergulho em seu passado e como sua trajetória a transformou. A cantora carrega uma força criativa única em cada passo de sua carreira, e o novo disco talvez seja o maior deles: um grito de liberdade e afirmação que a consolida como uma das artistas mais imprevisíveis e intrigantes da atualidade.

8 / 10

Melhores momentos: “Catch Me In The Air”; “Imagining”; “Send My Love To John”

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