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#TrackBrazuca: por que você precisa conhecer e ouvir o forró piseiro?

João Gomes. Foto: Lucas Facundo/Divulgação

O piseiro explodiu com força pelo Brasil durante os últimos 3 anos. Principalmente com as lives, o estilo musical foi ganhando ainda mais popularidade e deixando de ser uma coisa local do Nordeste do país. De ajuda, teve Duda Beat e Pabllo Vittar se apropriando do gênero, levando-o para a cena pop e mesclando com estéticas mais globais.

No momento em que este post foi escrito, 23 das 50 músicas nacionais mais tocadas do Brasil no Spotify eram piseiro ou colaborações com artistas do piseiro; um número parecido no Top 50 do Brasil e nas músicas virais. Pelo menos oito desses artistas – que normalmente são os mesmos – têm mais de 1 milhão de ouvintes mensais em seus perfis. 

Se você é ligado no pop, principalmente o que vem de fora, e, no máximo na MPB nacional, pode se sentir adentrando num universo completamente paralelo. Afinal, o que está por trás do piseiro, quem são suas novas apostas e o que tem de tão inovador?

O gênero piseiro

O piseiro é uma dentre as várias vertentes do forró, que simplifica ainda mais o tradicional gênero e o liga com o mercado comercial. O forró de raiz surge por volta da década de 1930 e desde então vem passando por significativas mudanças com os sub gêneros. Nos subgêneros, instrumentos podem ser adicionados, tirados e até mesmo a sonoridade ser simplificada – caso do piseiro.

No atual piseiro – ou pisadinha, como também pode ser chamado – , o que acontece é a tirada de camadas de sons, que na maioria das vezes costuma ser os instrumentos de sopros. Normalmente, acabam sobrando a voz e o teclado/sintetizador. Claro que isso tudo pode variar com as constantes disputas dentro do estilo, mas, em grande maioria, é assim que funciona.

A primeira música a popularizar é “Fazer Beber De Novo”, do Nelson Nascimento, lançada ainda em 2010. Não chegou a fazer barulho fora do Nordeste, principal região de sucesso.

Background do piseiro e o que vem antes

Por mais que pareça apenas ter chegado para gente por agora, o ritmo já é uma realidade no Nordeste brasileiro pelo menos desde meados dos anos 2000. Se a primeira música a ser popularizada é de 2010, certamente outras vieram antes. O piseiro sofre muita influência do forró eletrônico, do arrocha e do tecnobrega, sem nenhuma dúvida.

Bandas importantes que certamente ajudaram na construção são Calcinha Preta, Mastruz com Leite, Companhia do Calypso, Garota Safada e Aviões do Forró, para citar as mais famosas que atuam ali a partir dos anos 90 e 2000.

Lembro que todas férias que ia passar na casa dos meus avós na Bahia quando era criança, as músicas que faziam sucesso no Rio de Janeiro tocavam lá em versão de forró/arrocha – inclusive as internacionais e funks. Eu nunca entendia direito, mas adorava. E achava injusto também que quando eu voltava para casa, quase ninguém conhecesse aquelas músicas das mesmas bandas/artistas. Pelo menos não pessoas da minha idade, que era por volta dos meus 8 aos 11 anos.

Com o avanço da internet, o que ia chegando para os jovens do Sudeste do forró eram as versões de músicas como “Umbrella”, “Halo”, “Talking To The Moon” e outras foram viralizando. Quem não lembra? 

Sem dúvidas, algumas dessas versões abrasileiradas de hits internacionais em forró eletrônico ajudaram a preparar o caminho para o piseiro.

O forró eletrônico acaba chegando com força pelo Sudeste em 2019 e agradando a todos com Pedro Sampaio. Com o bregafunk, encanta muitos com a junção do melhor dos dois mundos. De certa forma, já foi uma simplificação para popularização ainda mais do ritmo.

Percebendo o sucesso que o bregafunk acaba fazendo, principalmente entre os jovens, mais produtores e artistas acabam pouco a pouco entrando na onda dessa “reciclagem” do forró.

Barões da Pisadinha e lives

Por mais que o grupo Barões da Pisadinha já fosse bastante conhecido antes da pandemia, é inegável que o momento deu um boom para o estilo musical e para o grupo.

Com a pandemia e a ausência de eventos físicos, a internet foi a grande mola impulsionadora do entretenimento nesse período. As lives bombaram nas redes sociais – e, é claro, os artistas do gênero piseiro também aproveitaram a oportunidade.

Assistimos e ouvimos falar de inúmeras lives de artistas já consagrados no universo piseiro; muitas delas contavam com participações especiais. Porém, artistas mais novos também se aventuraram nos shows on-line, o que os ajudou a aumentar a sua popularidade.

Também tiveram casos em que as lives “da pisadinha” foram além de uma simples apresentação via redes sociais. Diversos artistas apostaram em grandes transmissões, devido ao investimento pesado dentro do próprio gênero no Nordeste – aquele era o momento de mostrá-lo para o resto do Brasil. A partir de então, o piseiro se estendeu para o streaming e continua acontecendo (e crescendo).

Atentos ao mercado fonográfico, cada vez mais os músicos tentam simplificar o forró para melhor entendimento, maior atenção e vendas. O resultado é o piseiro com uma força gigante e sem previsão de pausa nas paradas. E, sinceramente, não acho que isso vai acontecer tão cedo. Que bom.

Pabllo Vittar e Duda Beat

Enquanto o grande movimento já acontecia, Duda Beat e Pabllo Vittar se apropriaram do gênero, ajudando-o a se espalhar para mais pessoas. As duas fazem isso com maestria, juntando o subgênero com uma estética mais globalizada.

Pabllo Vittar se une ao gênero no EP “111” lançado no ano passado, mais especificamente no remix de “Clima Quente”, com Biu do Piseiro, um dos fenômenos da música. É uma música que facilmente dá pra tocar em um churrasco da família tradicional brasileira que ninguém vai se estressar perguntando o por quê de Pabllo Vittar. Mas ainda assim, ela está ali inserida e isso é incrível.

Já Duda Beat insere o gênero durante praticamente todo o seu álbum “Te Amo Lá Fora” – nem que a faixa tenha minimamente um quê da pisadinha. Mas o destaque mesmo fica por conta do single “Meu Pisêro”, que possui uma estética completamente oposta do se esperado do gênero.

Leia também: Review: “Te Amo Lá Fora” da Duda Beat traz sonoridade mais fria

Nova geração inserida e alcance midiático

Percebendo o engajamento da geração mais nova como público do piseiro, cantores mais novos começam a ser produzidos, e estéticas mais próximas das realidades do adolescente/jovem adulto são incorporadas. O maior exemplo disso é o Zé Vaqueiro, que no clipe “Volta Comigo bb” utiliza de elementos do retro futurismo, bastante popular no pop internacional. Com um styling bem pensado, difere-se da grande maioria dos artistas de mais ou menos sua idade do estilo.

Além do Zé Vaqueiro, vários outros nomes surgem como aposta dessa nova geração. O principal e mais atual deles é João Gomes, mas pode-se também falar de Mari Fernandez, Nattan e Brisa Star. Normalmente, a maior parte deles se aproveita do hype de aplicativos como o TikTok para viralizar com dancinhas, e, seguir o fluxo em streamings.

Apesar do estrondoso sucesso do Zé Vaqueiro e de seu talento inquestionável, praticamente todas as suas músicas são infelizmente assinadas por DJ Ivis. O DJ foi responsável por grande parte dessa nova onda do piseiro, mas recentemente agrediu violentamente sua ex-esposa e encontra-se preso. Muitos dos artistas repudiaram os comportamentos, inclusive, Zé. Estamos curiosos para ver como ficarão as futuras músicas de Zé Vaqueiro sem DJ Ivis e desejamos muito sucesso. Afinal, foi livramento. Repudiamos qualquer tipo de violência.

João Gomes

João Gomes lançou em junho seu primeiro álbum “Eu Tenho A Senha” e desde antes disso tem explodido nacionalmente.

João Gomes. Foto: Lucas Facundo/Divulgação

Atualmente, a faixa “Meu Pedaço de Pecado” é a música nacional mais escutada no Spotify, com mais de 8 milhões de reproduções na semana. Junto disso, mais cinco músicas do álbum entram nas 50 músicas mais tocadas da plataforma de streaming. É um sucesso completo: só no dia 25 de julho, ele teve 5,9 milhões de streams.

João tem apenas 18 anos. Aproveitando o hype, já lançou parcerias com artistas com outros grandes artistas como Tarcísico do Acordeon e Vitor Fernandes.

Mari Fernandez

No piseiro, tem lugar pra todo mundo. Mari Fernandez está lado a lado de João Gomes entre as músicas mais tocadas no Brasil, com sua música “Não, Não Vou”. Ela tem apenas 20 anos e sua música viralizou nas dancinhas do Tiktok.

Mari tem algo interessante: mescla o piseiro com o sertanejo sofrência e o resultado é bem legal. Possui mais algumas músicas entre as mais escutadas do Brasil e na faixa viral, acumula mais de 60 milhões de streams. Em maio, também lançou seu álbum de estreia, “Piseiro Sofrência”.

NATTAN

Com 21 anos, Nattan é do Ceará e frequentemente aparece dentre os vídeos em alta do YouTube. Com mais de 4 milhões de ouvintes mensais no Spotify, segue lançando músicas frequentemente e é conhecido por “Não Te Quero”, parceria com Zé Vaqueiro (a música é a versão brasileira e piseiro de “Heaven”, do Bryan Adams. Lembra das versões do arrocha/brega dos anos 2000? Olha a influência aí!) e possui uma versão do viral do TikTok de “O Carpinteiro”, colaboração com o autor da música, Elias Monkbel.

Brisa Star

A mais nova de todas dessa lista é Brisa Star, mineira de 14 anos que estourou recentemente com a música “Se Joga no Passinho”, uma versão de “We Can’t Stop”, da Miley Cyrus, e já é uma das mais escutadas no país. Mais uma vez, vemos as versões aparecendo de volta e de forma rejuvenescida para o grande público! Em breve, Brisa Star deve lançar também uma parceria com Zé Vaqueiro.

Visão geral

A música brasileira não é apenas o que é produzido pelo Sudeste e nossa imersão na internet com a pandemia nos fez abrir ainda muito mais portas para artistas de outras regiões, vendo o imenso potencial de outros gêneros. No nosso caso, damos total destaque para o piseiro.

Em minha opinião, completamente merecido. Já faz imenso sucesso no Nordeste há anos, mas parece que sempre houve receio de exportação para o restante do país ou nunca havia atenção suficiente de grandes gravadoras para esse processo acontecer. Ao perceberem na imersão on-line durante a pandemia, o grande público estava curtindo, passam a investir em marketing e assinar com artistas.

Importante citar o rejuvenescimento do gênero, com maior parte dos artistas que estão em altas sendo adolescentes ou jovens adultos, que têm amplo acesso à tecnologia e às redes sociais, fazendo que isso chegue em grande parte para o mesmo publico consumidor – o que não rolava tanto antes. Tendo isso dito, é inegável a importância do TikTok para ajudar a popularizar o gênero.

Muitas das músicas acabam virando imenso sucesso após viralizarem com coreografias, e passaram para as músicas mais escutadas no dia a dia. É um suspiro de apenas gêneros como funk, sertanejo e pagode em alta (longe de serem ruins, mas os charts eram quase que unicamente constituídos por isso).

Portanto, se você ainda não conhece o piseiro, fica a dica: vale a pena se adentrar no gênero. Vai ser, no mínimo, divertido. 

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