Se existem pessoas com energia criativa em alta após o período de quarentena, Lana Del Rey, certamente, é uma delas. Não satisfeita com o lançamento de “Chemtrails Over The Country Club” (de março deste ano), a cantora decidiu investir em “Blue Banisters”, seu oitavo disco de estúdio. Ainda na esfera melancólica e cinemática que criou para sua persona, dessa vez a cantora investe mais em vocais, e menos em produções bem elaboradas.
Lana Del Rey é uma viajante no tempo. Desde sua estreia na indústria, com “National Anthem”, a cantora nos leva para a ambientalização de Hollywood dos anos 40 e 50, algo que, para o pop dessa era, não deveria nos envolver tanto quanto o faz. Com “Blue Banisters”, não é muito diferente. Durante as 15 faixas que compõem o álbum (uma conquista incrível numa década de artistas do segmento que lançam majoritariamente singles e EPs), Lana aprofunda mais em suas próprias feridas e histórias.
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“Blue Banisters”: produção e storytelling de Lana Del Rey
Assinado pelos produtores Gabe Simon, Drew Erickson e Barrie-James O’Neill, todas as faixas são composições próprias de Del Rey. O álbum tem o pontapé inicial com um dos principais singles, “Text Book”, que abre uma cicatriz em uma problemática, infelizmente, conhecida: decisões amorosas doloridas pela falta de referências na família. Del Rey discute a falta de uma figura paterna presente em sua vida e como isso a leva a criar ilusões com quem se relaciona.
Seguindo a primeira parte do disco, seguem as excelentes “Blue Banisters” (faixa-título) e “Arcadia”, que por sua vez dá à Lana Del Rey a oportunidade de explorar mais sua própria voz, atingindo notas mais altas do que de costume. A sensação é que estamos ouvindo um relato mais pessoal e íntimo, e tão doloroso quanto as primeiras. É, provavelmente, uma das melhores faixas do álbum, exatamente por ser a mais diferente, assim como “Violets for Roses”.
O mérito da produção está na escolha de sequências de faixas, dando a impressão que são dos álbuns em apenas um. Ao mesmo tempo, nada parece tão desconectado entre si, mantendo a mesma atmosfera intimista e melancólica de início ao fim. Por ser um disco longo, com faixas de até 5 minutos cada, pode ser cansativo, mas que, pelo menos, completa o seu próprio ciclo e encerra de maneira bem planejada. Pouco ousado, mas, ao menos, bem feito.
Distante de outros trabalhos de sua discografia, Lana Del Rey não parece ter a pretensão de criar algo tão memorável desta vez. O que não é exatamente o problema, mas também não será exatamente um disco que irá envolver tanto seus fãs quanto “Ultraviolence” (2014) e “Norman Fucking Rockwell!” (2019).
Não é nada fácil de ser digerido, especialmente quando paramos para pensar que Del Rey já foi chamada atenção por “glamourizar” histórias de amor abusivas em sua aura de mistério. Simultaneamente, não é nada muito além do que alguém que conhece a artista pode esperar. Poderá, talvez, ser um álbum que irá envelhecer bem com o tempo e que entrará em playlists calmas e suaves, mas nada tão empolgante que o torne único como outros trabalhos, que foram pontos mais altos de sua carreira.
Nota: 7/10