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Review: Coldplay satura dose de otimismo em “Moon Music”

O décimo álbum da banda foi lançado na última sexta-feira (4)

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Foto: Divulgação / Cred. Anna Lee

Não é de hoje que o Coldplay tem mirado as estrelas. Há mais ou menos dez anos, as suas turnês têm figurado entre as mais rentáveis de todos os tempos e o sucesso se deve à inclinação da banda à música pop em seus últimos discos. Porém, enquanto as pulseiras, os confetes e a pirotecnia de seus shows se tornaram uma marca registrada, os lançamentos se tornam cada vez menos marcantes.

“Moon Music”, novo álbum de estúdio do grupo lançado na última sexta-feira (4), reafirma essa tendência. O disco abre mão da identidade do quarteto para se voltar às grandes multidões — uma fórmula que, apesar de já ter funcionado em outras ocasiões para o Coldplay, parece ter saturado em 2024.

Coldplay traz fórmula esgotada para “Moon Music”

“Moon Music” adota a mesma ideia de seu antecessor, Music Of The Spheres (2021), ao reprisar o encanto da banda com o universo. O disco tem início com sua faixa-título, uma orquestra produzida por Jon Hokpins que parece indicar a chegada de algo grandioso. Na sequência, porém, vem “Feelslikeimfallinginlove”, single que não é comercialmente bom para explodir e nem suficientemente autêntico para se destacar.

Já “We Pray”, na teoria, parecia uma ideia interessante com as participações de Little Simz, uma das maiores rappers britânicas da atualidade, e Burna Boy, uma das grandes estrelas mundiais do afrobeat. Ambas as contribuições estão entre os destaques do álbum, mas soam perdidas em meio à sonoridade épica que a banda tenta construir em meio a violinos e batidas eletrônicas, que ainda escanteia as colaborações de Elyanna e Tini na faixa.

Em “Moon Music”, a música eletrônica tem uma influência muito mais presente do que em outros trabalhos do quarteto. Em “Aeterna”, a banda abraça a EDM dos anos 2010 na tentativa de levantar o astral do ouvinte durante o álbum. A dose se repete em “Good Feelings”, com um ritmo dançante que soa pouco convincente e uma composição desleixadamente preguiçosa. Nem mesmo a boa participação de Ayra Starr, cantora nigeriana que está entre as bem-vindas novidades do disco, é suficiente para engolir a dose vazia de serotonina do material.

A positividade exagerada do Coldplay é um problema que tem acompanhado o grupo na última década e afastado os seus fãs mais longevos. Não há problema em escolher ser otimista — na verdade, diante do mundo em que vivemos, talvez seja até mesmo um ato corajoso. Porém, as mensagens que a banda transmitem em suas canções soam artificiais em seu propósito.

O “pop de autoajuda” se tornou a principal referência do atual Coldplay, mas Chris Martin tem pouquíssimo a incentivar os ouvintes a serem tão esperançosos quanto ele. Nas novas composições, o vocalista canta sobre “acreditar em um mundo cheio de amor” em “Moon Music”, ou então sobre “nunca desistir e amar quem você ama” em “Jupiter”, utilizando-se repetitivamente das mesmas metáforas. 

Em um mundo que não sofresse os riscos ambientais que passamos, os abismos sociais em que vivemos e as guerras políticas que enfrentamos, as músicas do Coldplay poderiam representar alguma novidade ao debate. Talvez venha daí o fascínio de Martin por outros planetas: seria muito mais fácil acreditar inocentemente no amor e na união como as únicas soluções de um mundo hipotético em que não vivemos.

Logicamente, tudo faz parte de uma escolha comercial que o grupo tomou há muitos anos. Ao menos desde 2008, a sua sonoridade tem se tornado cada vez mais expansiva e aos poucos a banda perdeu a timidez para se aproximar do pop — uma decisão que pode até ser válida, mas que tem empobrecido o seu repertório gradualmente. Os resultados acompanharam esse movimento: quanto mais simples as músicas soam, mais facilmente elas chegam ao público, mais elas vendem, e mais shows a banda consegue lotar pelo mundo.

Ainda assim, o Coldplay tentou, em “Moon Music”, construir uma atmosfera grandiosa, mas que não decola. O material mescla músicas genéricas com longas instrumentações para dar volume a um disco de poucas faixas.

Uma interrogação quanto ao futuro

Quando o Coldplay lançou “Everyday Life” (2019), tudo indicava uma mudança de direção para a banda com um fôlego criativo que muitos já consideravam improvável. Mesmo que não fosse um trabalho exatamente pioneiro ou inovador, o grupo demonstrava explorar novas influências para renovar a sua sonoridade  — uma curiosidade muito bem-vinda ao quarteto.

Porém, “Moon Music” e “Music Of The Spheres” confirmam o retorno do grupo a uma zona de conforto. Não apenas as letras são idênticas às que Chris Martin tem escrito nos últimos dez anos, mas as produções carecem de novidades, vigor e mesmo de personalidade. Certamente as músicas são animadas o suficiente para se juntarem ao repertório ao vivo da banda, mas talvez nem mesmo o cintilar das pulseirinhas e os coros do público sejam capazes de justificar a sua morosidade.

Em entrevista ao programa de Zane Lowe na Apple Music, Chris Martin revelou que o Coldplay pretende encerrar a sua discografia em seu 12º álbum. “Moon Music”, entretanto, como o décimo disco do grupo, deixa claro um esgotamento de criatividade artística – o que nos resta torcer para que os próximos capítulos sejam diferentes.

A esse ponto, é até mesmo desnecessário comparar o Coldplay atual com aquele que explodiu nos anos 2000. Grande parte da frustração de parcela do público com a banda parte justamente do contraste entre o estilo alternativo que catapultou o quarteto ao sucesso e o pop genérico que consolidou o seu tamanho na indústria musical. Todavia, “Moon Music” não é um álbum que precisa passar pelo crivo da comparação para ser julgado como o que se mostrou ser: um prato servido vazio.

Nota: 3 / 10