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Opinião: “Verdades Secretas 2” não pode se perder na fantasia erótica

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Foto: Divulgação

A nova temporada de “Verdades Secretas” é antecipada desde 2015. Com o sucesso arrebatador da primeira novela das onze da noite na TV Globo, o enredo surpreendeu por diversos motivos – especialmente por tocar em assuntos que são considerados tabus para a família tradicional brasileira. E, com sede de repetir as mesmas métricas impressionantes, “Verdades Secretas 2” resolveu dar um novo ar para a mesma história, boa parte com os mesmos personagens, mas com uma variável que somente o streaming pode trazer: liberdade criativa.

É claro que isso é apenas uma expressão mais bonita para a dose extra de conteúdo +18 apresentada até então. Obscuro, tenso e 100% erótico, “Verdades Secretas 2” traça uma linha pararela com a primeira temporada, mas cria mais pressão no que a TV aberta não poderia mostrar. Temos mais nudez e mais sensualidade, mas o que realmente queremos ver nessa nova parte da história?

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Foto: Reprodução | Rede Globo

“Verdades Secretas 2”: Nada mudou, e tudo mudou

A primeira impressão que temos ao assistir a nova temporada é que, ao mesmo tempo que tudo mudou (a estética), nada mudou (os personagens). A agência de Fanny (Marieta Severo) não existe mais, assim como houve o afastamento de sua dona pela chegada de Blanche (Maria de Medeiros), que também promete ter sua própria linha no enredo. Visky (Rainer Cadete), por outro lado, continua sendo o querido booker, espalhafatoso e mais colorido que nunca, mas também deverá ter suas obscuridades contadas nessa versão.

Seguindo essa linha, Giovanna (Agatha Moreira) é uma personagem que ainda sustenta o DNA da série. Enérgica e imprevisível, ela retorna após seu big break como modelo na Europa. Nesse ponto, chega a ser um pouco decepcionante como ela retorna: a esperança, ao saber que o próprio pai e primo morreram, era ter alguma transformação na personalidade da personagem. No entanto, ela retorna mais sedenta pela sua herança do que tudo, passando como um trator por cima de qualquer um – o alvo, é claro, sendo Angel (Camila Queiroz).

Então, se tudo está como seis anos antes, a impressão que fica é que o tempo passou somente para Angel. Talvez tenha sido a maternidade ou o peso de ter se tornado uma assassina, mas, ao contrário da persona de empatia, ela se mostra mais fria e passional. Chega a ser estranho vê-la ter explosões de raiva com alguns personagens (como é o com a amante do pai de Guilherme, seu marido falecido), dando a entender que, caso seja muito pressionada, pode acabar matando novamente. Mas isso seria algo digno de “You” (da Netflix), e não de uma história sobre prostituição, beleza e luxúria. Ou será?

Enredos paralelos

Uma das melhores sacadas de enredo que “Verdades Secretas” tem é o fato de não ser uma história centrada num único personagem. Aqui, o conto do herói não existe – aquele que persiste, ultrapassa barreiras, e vence no fim. Não existe uma linha de chegada (a prova foi a maneira que a primeira temporada terminou), e todo mundo tem a sua própria hora de ganhar um holofote. Por exemplo, um dos melhores plotlines foi a de uma personagem secundária, a modelo Larissa (Grazi Massafera) que se vê saindo do glamour, para a prostituição e então para a o mundo das drogas. E onde ela estaria agora, após sua redenção?

Se a primeira temporada tocava nesse tipo de problemática em plena TV aberta (e faturava muitos pontos de audiência, mesmo com o horário “na contra mão”), a segunda tem tudo para investir em temas tão importantes quanto. Porém, pelo menos até o momento, ainda cria a expectativa de um pornô artístico. Essa é a “toca do coelho” que não se deve cair – já que, se tudo se resumir a isso, perde-se o grande trunfo que foi construído ao longo 64 episódios no passado.

Por fim, a criação de personagens tridimensionais foi uma das grandes conquistas, já que, pelo menos até 2015, não era algo que a Globo parecia trabalhar muito bem. Tentava com afinco, mas só conseguiu conquistar durante esse meio tempo. Agora, nos vemos encantados e impactados por personagens que, pela premissa da história, não tinham a expectativa de receber tanto destaque. E nada disso pode ser anulado única e exclusivamente para agradar uma parcela de assinantes. Ainda temos muitas perguntas a serem respondidas. Resta saber se 50 episódios serão suficientes para tal.

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