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Entrevista: Drik Barbosa dialoga sobre o afeto como resistência em nova música, “Calma, Respira”

Drik Barbosa

Diretamente de Santo Amaro, Drik Barbosa fez sua voz ser ouvida por todo o Brasil por meio de suas vivências. Aos 29 anos de idade, a cantora se tornou uma das mais importantes referências do rap nacional dialogando sobre as diversas formas de resistência do povo negro em sua carreira — entre elas, o afeto, um tema central em seus últimos trabalhos.

Em entrevista ao Tracklist, a rapper conversou sobre o seu mais novo single, “Calma, Respira”, parceria com ninguém mais, ninguém menos que Péricles liberada nessa quinta-feira (5). A música é o terceiro capítulo de “Nós”, projeto que reúne faixas de vários estilos lançadas ao longo dos últimos meses, como “Sobre Nós”, colaboração com o rapper Rashid, e “Seu Abraço”, gravada com Psirico e RDD.

A canção é um pagode que une o talento artístico da paulistana com uma das vozes mais emblemáticas da música brasileira. “O convite ao Péricles era uma coisa que eu queria muito na vida como fã, como artista, ter essa parceria com ele”, disse Drik sobre a experiência de gravar com Péricles. “Ele se sentiu tocado pela música, e também disse que já tinha ouvido algumas coisas minhas, e aí eu fiquei super feliz! Foi dessa forma que a gente se conectou pra fazer ‘Calma, Respira’”.

A cantora também enxerga a música como uma possibilidade de se abrir para novas possibilidades dentro de sua arte, uma marca registrada de seus últimos lançamentos. “Pra mim, o lugar ideal pra se fazer isso é no rap, e também é um convite pra outros gêneros também se juntarem ao rap e levarem esse conhecimento”, comentou. “A música tem esse poder de unir mesmo, unir ideias, unir lutas, e é pra isso que eu acredito que o rap existe, sabe?”.


Leia a entrevista com Drik Barbosa na íntegra:

TRACKLIST: Drik, muito obrigado pela entrevista! É um prazer enorme estar conversando contigo! A gente teve a oportunidade de ouvir “Calma, Respira” e a gente amou! Como aconteceu esse contato entre vocês dois e como foi gravar com um dos maiores ídolos da nossa música?

DRIK: Fico feliz! Foi muito emocionante, está sendo muito emocionante pra mim. O convite ao Péricles era uma coisa que eu queria muito na vida como fã, como artista, ter essa parceria com ele, mas eu ainda não tinha tido contato com ele pra além de estar no público nos shows, e curtir, e gritar e tudo mais. E aí, o Evandro Fióti, que também é compositor na música e é meu empresário e já tinha feito outras coisas com a Lab [Laboratório Fantasma] também, entrou em contato com o Péricles, enviou a música. Ele se sentiu tocado pela música, e também disse que já tinha ouvido algumas coisas minhas, e aí eu fiquei super feliz! Foi dessa forma que a gente se conectou pra fazer “Calma, Respira”.

TRACKLIST: Nesses últimos meses, você lançou várias parcerias com artistas de outros estilos musicais, como o Rashid, o Psirico e agora o Péricles. Como tem sido pra você reunir vários desses mundos na sua arte?

DRIK: Pra mim, é muito natural! Todos esses gêneros fazem parte da minha vida, das minhas playlists pessoais desde sempre. Eu tenho memórias muito bonitas e especiais ouvindo o Psirico, ouvindo o Péricles, ouvindo o Rashid, que é uma referência muito grande pra mim dentro do rap também, uma inspiração. Então, pra mim é muito natural fazer essa mistura, eu tenho feito já desde o meu primeiro EP, o “Espelho”, o álbum “Drik Barbosa”, e não seria diferente no projeto “Nós”, e quero fazer mais, cada vez mais ainda!

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TRACKLIST: Por falar no projeto “Nós”, essa já é a terceira música que a gente já conhece dele, e ainda podemos esperar mais coisas vindo por aí, certo? Como tem sido pra você trabalhar nesse projeto durante esse tempo?

DRIK: Olha, tem sido uma experiência muito marcante por conta do que a gente tá vivendo. Eu acredito que tudo tá muito mais intenso, então poder criar nesse momento, ter o apoio pra isso, ter uma base pra isso, tá sendo muito especial. Tá sendo muito gratificante poder fazer esse projeto nesse momento tão difícil, eu sou muito grata por ter apoio, por ter a Laboratório Fantasma pra me ajudar a realizar a minha arte. E também tá sendo uma experiência de cura pra mim, é algo muito íntimo, tudo que eu venho cantando no meu trabalho, e agora não seria diferente também no projeto “Nós”. Então, eu também tô abrindo meu coração nessas músicas, sabe? Esse carinho que eu recebo também das pessoas se identificando com o que eu tô cantando também serve de abraço pra mim, assim como eu quero que essas músicas sejam abraços pra elas. Tá sendo muito, muito especial.

TRACKLIST: Uma das coisas mais especiais em relação ao rap nacional, não só na sua música mas também na de vários outros artistas atuais, é que ele é um gênero relativamente novo, mas ele tem esse poder de promover encontros entre tantos outros estilos clássicos da música brasileira, como o pagode e o samba, que você comentou que fazem parte das suas influências também. Como você enxerga esse resgate cultural por meio do rap atual no Brasil?

DRIK: Eu enxergo como algo necessário, sabe? O rap é uma ferramenta de expressão das nossas vivências, da nossa realidade, é um espaço em que a gente pode denunciar coisas e celebra coisas também. Então, por que não usar esse espaço pra reverenciar esses artistas, esses gêneros que também fazem parte da nossa cultura, e também disseminar conhecimento sobre nós mesmos, sobre tudo que faz parte da gente e da nossa expressão no país. Então, eu acredito que o rap é sim esse espaço onde a gente pode fazer com que as pessoas conheçam mais sobre a nossa cultura, que as pessoas entendam melhor sobre o que a gente está falando, sobre o que a gente está lutando, sabe? Pra mim, o lugar ideal pra se fazer isso é no rap, e também é um convite pra outros gêneros também se juntarem ao rap e levarem esse conhecimento.


TRACKLIST: Nas suas redes, você comentou sobre a necessidade de falar sobre o afeto e o cuidado com os outros no período em que a gente vive. Pra você, qual a importância de pautar e abordar esses assuntos como parte do seu trabalho?

DRIK: Uma importância gigantesca. Eu venho fazendo isso desde o início, fazendo esse convite, no projeto “Nós” esse convite tá sendo ainda mais direto. A gente sabe que existe uma grande parcela da população que sofre muito com essas doenças mentais e emocionais, e a gente sabe que a gente precisa caminhar muito ainda pra conseguir acolher e entender o que a gente pode fazer e como a gente pode agir pra conseguir mudar essa realidade. Eu vejo a arte também como esse lugar pra trazer essa pauta, e não só pra compartilhar com as pessoas através da minha música, mas também pra me alertar isso, porque a gente negligencia muitas vezes coisas importantes. E no nosso caso, se tratando de povo preto brasileiro, faz parte dessa estrutura de desumanização afastar a gente desse autoamor, desse afeto, da gente se sentir parte de algo. Eu vejo como algo extremamente necessário e que eu sempre vou abordar nas minhas músicas.

TRACKLIST: O pagode também foi muito responsável por levantar essa autoestima entre os negros quando surgiu, né?

DRIK: Super! O surgimento do pagode nas mídias foi muito importante. A gente vê artistas pretos falando de amor, sobre sensibilidade, a gente vê homens negros falando sobre se abrir pro amor, foi algo muito representativo e ainda é, e com certeza abriu a mente de outros caras, de outras pessoas e de outras mulheres também a se abrirem pra isso. A gente sabe que existe também muita coisa que precisa ser mudada, mas eu vejo o pagode como essa ponte, sabe? De representatividade e também de afeto. Falar de amor é sempre muito especial e muito importante e fazer com que as pessoas se abram pro amor também.

TRACKLIST: Você também comentou sobre como isso te ajudou a passar por um dos momentos mais difíceis da sua jornada, acredito que muito por conta da pandemia também, né? Como foi pra você compor e gravar durante esses últimos meses e como tem sido traduzir essas temáticas dentro do seu som?

DRIK: Nossa, tá sendo desafiador! Como eu disse, eu tenho essa gratidão pela Laboratório Fantasma de me ajudar a fazer tudo de forma segura, como deve ser, e manter a segurança de todos envolvidos no projeto. Mas realmente tá sendo um desafio, ainda está sendo, né? A gente tá tomando todo o cuidado, eu só realmente vou pro estúdio quando eu não consigo fazer algo da minha casa, testar, tudo direitinho pra que a gente consiga realizar o trabalho da melhor forma. E tá sendo esse desafio porque eu também encontrei outras coisas que eu precisava fazer pra ter contato com o meu público, mas que eu nunca tinha feito, não sabia que eu tinha nem jeito pra fazer! Eu apresentei um programa na Twitch durante muitos meses no ano passado, e essa experiência de apresentadora foi uma novidade pra mim e que eu amei, que eu quero mais! Então, nesse tempo eu também descobri coisas novas sobre mim como artista, mas ainda assim tudo que a gente tá fazendo ainda é com muito medo do que pode acontecer, a gente tá com as emoções muito afloradas. Por isso que é importante ter calma e respirar e entender como se movimentar, sabe? Então, eu fui com muito cuidado, a gente tá indo com muito cuidado.

TRACKLIST: Por falar em testar novos formatos, a gente já tá sabendo que vem um podcast por aí! O que a gente pode esperar?

DRIK: Cara, vai ser muito massa! Eu não posso dar muito spoilers ainda, mas também vai abordar questões e pautas que eu tô trazendo, principalmente no projeto “Nós”, também sobre saúde mental, sobre reumanização. Falar sobre o povo preto principalmente, as nossas questões que precisam urgentemente serem erradicadas e muitas resolvidas. Vai trazer essa mesma atmosfera do projeto, sabe? Mas aí também com outras coisas a mais que eu ainda não posso contar! (risos) Trocar uma ideia com pessoas que eu admiro também pra que elas falem sobre a visão delas sobre essas pautas, como elas agem dentro da vida delas e lidam com essas coisas, vai ser muito legal! Tô muito empolgada também!

Foto: Divulgação/Lara Pinho
Foto: Divulgação/Lara Pinho


TRACKLIST: Nos últimos anos, o rap nacional conquistou seu espaço e sua valorização na mídia popular por aqui, ainda que um pouco tardiamente, e ele tem dialogado com cada vez mais públicos e se colocado dentro daquilo que a gente costuma chamar de mainstream, né? Você, inclusive, tem sido uma das vozes mais importantes pra essa democratização, sobretudo entre as mulheres. Como você enxerga a popularização do rap e o aumento do seu alcance na música brasileira?

DRIK: Eu enxergo como necessária também. A gente faz rap pra comunicar coisas, sentimentos, vivências, pra que outras pessoas se identifiquem e que a gente caminhe junto e resista junto, então por que não levar essa mensagem pra mais pessoas? A gente sabe, obviamente, que ali nos anos 90, principalmente, existia uma brutalidade em parte da sociedade pra nós que ainda existe, mas que era muito mais forte, então realmente era muito difícil pra que artistas do rap conseguissem não falar sobre essas violências e tivessem espaço pra falar sobre outras coisas, que a gente também vive e que a gente também sente. E conforme o tempo foi passando, essas denúncias foram de fato sendo ouvidas e foi havendo essa revolução também que ainda está acontecendo, eu acredito que abriu esse espaço que a gente também precisava pra se expressar como humanos, saca? De falar de amor, de falar de dança, de falar de celebrar, a gente vê isso presente na maioria dos trabalhos dos artistas de rap de hoje, e isso é uma vitória pra nós, isso quer dizer que a gente tá caminhando bem. E eu quero mais, eu quero que mais artistas de rap sejam ouvidos, que o público absorva a nossa música de forma positiva e que se instale sim, porque a música tem esse poder de unir mesmo, unir ideias, unir lutas, e é pra isso que eu acredito que o rap existe, sabe?

TRACKLIST: Drik, a gente tem passado por várias tentativas de desmonte cultural ao longo dos últimos anos — na música, no cinema, nas artes como um todo — e nomes como você e vários outros da cena nacional têm resistido por meio da sua própria obra. Qual mensagem você acredita que a sua jornada e o seu trabalho podem deixar pras pessoas dentro da luta que a cultura vive hoje?

DRIK: Eu acho que ser artista no Brasil é pura resistência, ainda mais com tudo que eu carrego também e que eu trago na minha arte. Acho que a palavra que definiria é “resistência”. A gente continua resistindo através da cultura pra continuar levando esse legado do nosso povo, da nossa cultura afro, da nossa criação, da nossa arte. Pra mim, é resistir, e eu quero que as pessoas entendam a importância de valorizar os nossos passos e também entender por que a gente tá dando esses passos, sabe? Realmente é muito complicado, é muito difícil, e é uma tristeza profunda acompanhar tudo que tá acontecendo, mas a gente continua resistindo, né? Foi assim que eu comecei, assim que eu vou seguir pra que, algum dia, espero que não demore tanto, a gente possa viver livremente criando e fortalecendo nossa cultura.

TRACKLIST: Pra finalizar, quais os próximos passos que a gente pode esperar de Drik Barbosa nos seus próximos trabalhos?

DRIK: A gente vai finalizar o projeto “Nós” ainda esse ano, então vem mais um single antes do podcast, ou vem o podcast junto com o último single! Pode esperar mais feat aí vindo pra música final, ou feats, enfim! Não sei ainda se é no plural! (risos) E eu pretendo começar a pensar num novo álbum, teve o “Drik Barbosa” que o pessoal curtiu muito, tá curtindo ainda, mas quero trazer mais músicas, quero fazer mais colaborações com artistas que eu admiro. Quero ocupar mais espaços também dentro da cena e poder levar minha música pra cada vez mais pessoas e que mais pessoas se sintam tocadas pela minha arte. Eu espero que as coisas melhorem pra nós, tanto na questão de segurança quanto a pandemia, como soluções que a gente necessita urgentemente no nosso país, nesse desgoverno. Que as coisas realmente mudem pra que a gente consiga caminhar e eu trazer mais música e mais arte também!

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