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Dos palcos ao YouTube: a explosão da cultura drag no Brasil

A cultura drag no Brasil tem conquistado cada vez mais espaço de importância no mercado nacional.

drag Brasil
Foto: Reprodução/Instagram

Seja nas redes sociais ou nos palcos, encontrar artistas drag em posição de destaque tem sido cada vez mais frequente. A cultura drag no Brasil tem ganhado popularidade e, para a sorte dos amantes do entretenimento, ocupando espaços e abrindo as portas de um universo rico que exalta a comunidade LGBTQIA+.

Com o passar dos anos, o leque de formatos, personalidades e meios de acesso à arte drag no Brasil se expandiu e, depois de muito trabalho, a ideia de que drag precisava – exclusivamente – apresentar shows de dublagem ficou para trás. Drag é dança, é humor, é conteúdo e é toda maneira de expressão que leva entretenimento e brinca com os limites da masculinidade e feminilidade.

Um dos pontos-chave da inclusão e popularização da cultura drag no Brasil é o seriado “Rupaul’s Drag Race“, apresentado pela drag RuPaul, que reúne artistas em uma competição para definir a próxima celebridade drag dos Estados Unidos e é transmitido nas principais plataformas de streaming, como Netflix. O impacto do Drag Race entre os brasileiros é tanto que incentivou a criação da Realness, empresa brasileira que promove festas e festivais em São Paulo e Rio de Janeiro com a presença de algumas das participantes do reality.

Realness: a festa com as drag de Rupaul que ganhou popularidade no Brasil

Foi na posição de fã do seriado de Rupaul que Paulo Matos, de 22 anos, enxergou uma oportunidade de negócio que abalaria as estruturas da cultura drag no Brasil. Em 2017, ele fundou a Realness, empresa que promove festas em São Paulo e Rio de Janeiro e coloca as “queens” de Rupaul em contato direto com os fãs nacionais.

“Eu comecei a assistir o seriado, e aí da minha paixão por cada uma das personalidades, das artes drag e shows, eu percebi que tinha um ponto de contato para trazer elas para o Brasil”, disse Paulo.

No mesmo ano, a Realness promoveu seu primeiro evento no Rio de Janeiro e abriu caminhos para uma história que já conta com mais de 15 edições no país. Em conversa com o Tracklist, Paulo lembrou das dificuldades do começo do projeto, que encontrou barreiras que não faziam parte do universo do jovem fã de Rupaul, como as burocracias quanto ao visto, passagem e hospedagens das artistas no país.

Depois de muito trabalho no Rio de Janeiro, a Realness viajou para São Paulo e conquistou espaço no cenário cultural da cidade. “Nossa primeira edição foi com a Alyssa Edwards, que é uma drag da quinta temporada, e foi quando a gente despontou em São Paulo”, contou Paulo e relembrou: “Eu sou de São Paulo, mas ia para o Rio só para fazer as edições por lá, então sempre tive esse desejo de fazer em São Paulo também e aí, em 2018, a gente conseguiu a primeira edição em São Paulo e foi um sucesso”.

Oferecendo ao público a chance de presenciar verdadeiras celebridades do universo drag se apresentando no país, a Realness caiu no gosto dos fãs de Drag no Brasil e passou a ser canal de contato dos fãs de Rupaul com as artistas. O público passou a procurar a organização dos eventos para fazer pedidos e sugerir nomes das drags convidadas.

No entanto, como em diversos setores da nossa vida, a pandemia de Covid-19 interrompeu a história da Realness, que prepara um retorno e tanto para 2022.

drag no brasil
Crédito: Reprodução/World of Wonder

No dias 4 e 5 de março de 2022, a Realness promete movimentar São Paulo e Rio de Janeiro com apresentações conjuntas de Yvie Oddly – vencedora da 11ª temporada de “Rupaul’s Drag Race” – e Brooke Lynn Hytes, que ficou em segundo lugar.

Sobre o evento com as estrelas da 11ª temporada, Paulo adiantou que o público pode esperar várias surpresas. “A gente que voltar com tudo e estamos preparando a festa mais icônica com batalhas de dublagem não só com artistas internacionais, mas com nomes brasileiros também”, disse.

Na expectativa para o show, Yvie Oddly mandou um vídeo exclusivo para o Tracklist para convidar os fãs da cultura drag no Brasil para acompanhar a apresentação. Assista:

Dragbox: drags brasileiras fazem sucesso na internet

Apesar da força da Drag norte-americana, é importante destacar que a cultura Drag no Brasil vai muito além de Rupaul’s Drag Race. Para Tatá M Shady e Olive Oil, donas do canal ‘Dragbox’, o trabalho de Rupaul serviu como o primeiro contato de muitos com a cena drag no Brasil, mas não é tudo.

“Entendemos sim a importância que a Rupaul e o reality tem no cenário drag, não apenas nacional, como internacional, mas também entendemos que a nossa riqueza cultural vai muito além do que é mostrado dentro de Drag Race, e precisamos cada vez mais enaltecer outros estilos de drags, como Drag Kings, Drag Monsters, Drag Queers, e outras inúmeras formas de apresentar a arte drag”, dizem. “Essa forma de arte vem para romper paradigmas e levantar questionamentos, e não simplesmente replicar uma fórmula que dá certo”.

Além do discurso, Tatá e Olive promovem as diversas facetas da arte drag na prática. As artistas são donas do canal Dragbox, que tem ganhado popularidade na internet com a criação de conteúdos que fogem do esperado, como um quadro de conhecimento gerais (o EAD com Dragbox), Game Plays e reações às perguntas dos fãs nas redes sociais.

De acordo com as drag queens, o Dragbox nasceu como um hobby, mas logo transformou-se em uma ocupação mais séria e que estimula suas liberdades criativas.

“O nosso primeiro ano de canal foi um grande hobby que se transformou no nosso maior sonho, por isso realmente só pegamos no tranco no início da pandemia que foi quando começamos a nos dedicar de verdade para que tudo pudesse acontecer. Atualmente o que mais nos alegra sobre o canal é que podemos nos dedicar 100% a nossa criação de conteúdo. Ter a liberdade criativa e o tempo pra poder focar em entreter e divertir milhares de pessoa não tem preço!”

Dragbox sobre a criação do canal no YouTube.

Sobre a abertura do mercado publicitário para a cultura drag no Brasil, Tatá M Shady e Olive Oil são otimistas e apostam que, ao longo da história, o movimento nunca teve tanto espaço e relevância na mídia como atualmente.

“Ainda não estamos em todos os lugares, porém acredito que estamos caminhando para isso. Cada vez mais não só as marcas como também a própria sociedade entende mais que drags não estão destinadas a fazerem uma coisa só, a gente pode estar na música, nos jogos, no entretenimento e até mesmo na cultura, por exemplo”, explicam.

No entanto, as artistas destacam que ainda temos muito o que evoluir enquanto sociedade até que cheguemos ao cenário ideal.

Apesar disso, as youtubers celebram a evolução da aceitação do público com o movimento drag no Brasil. “E uma das coisas mais incríveis é que o consumo de conteúdos produzidos pela cultura drag vai além do público LGBTQIA+, por exemplo. Uma das coisas que mais inspira é poder ver diferentes tipos de drags sendo bem sucedidas em diferentes âmbitos, desde Silvetty, Márcia Pantera e outras drags mais antigas na cena, assim como Pabllo Vittar e Glória Groove marcando a história da música nacional, Samira Close entretendo massas com as sua gameplays, Bianca Della Fancy com sua personalidade, além de receber sábios conselhos da Lorelay Fox e até mesmo conhecimento e militância com Rita Von Hunty“, dizem.

Pabllo Vittar, Glória Groove e a explosão das drags cantoras

Quando fala em drag no Brasil, é praticamente impossível não destacar as drags cantoras que tem conquistado cada vez mais sucesso e alcançado lugares que antes eram inimagináveis para a comunidade. Pabllo Vittar, por exemplo, é a drag queen mais seguida do mundo nas redes sociais – com mais de 12,3 milhões de fãs no Instagram – e no YouTube se aproxima da marca de 2 bilhões de visualizações em seus clipes.

O mais popular deles, “K.O”, conta com mais de 387 milhões de views. Assista:

Outro nome que movimenta uma multidão de fãs brasileiros na internet é Gloria Groove. A drag queen, que está trabalhando o lançamento do álbum ‘Lady Leste’, se destaca por sua voz potente, visuais de tirar o fôlego e parcerias que eternizam a artistas em diferentes gêneros musicais. Glória ostenta parcerias com nomes como Lexa, Iza, Preta Gil, Leo Santana e até Iggy Azalea.

No entanto, foi com Ludmilla que Gloria Groove abriu o leque de sua carreira e alcançou o mais variado público de sua carreira. A drag participou do “Lud Session”, projeto ao vivo da funkeira, e movimentou mais de 50 milhões de visualizações em poucos meses. Com o projeto, que estourou a bolha da comunidade LGBTQIA+, Glória colaborou como ninguém para a popularização da cultura drag no Brasil. Assista:

E não para por aí: Gloria Groove foi o grande destaque do Show dos Famosos, da Rede Globo, e comandou a primeira temporada do ‘Nasce Uma Rainha’, série especial da Netflix e que aborda a arte drag como ferramenta de transformação.

Além de Pabllo Vittar e Gloria Groove, que fazem parte da lista das principais artistas do país e frequentemente estão nos principais programas de TV, o movimento das drag cantoras tem ganhado cada vez mais força no país.

Para a nossa sorte, o Brasil está cada vez mais aberto à música drag e não é raro encontrar representantes nos mais diversos gêneros musicais. Dentre os principais, Lia Clark, Aretuza Lovi, Kaya Conky e Kika Boom. Ouça a música drag brasileira em uma playlist especial no Spotify:

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