A primeira vez que li sobre a Lexa foi em 2014 ou 2015 em algum portal de música, falando sobre ela ter trancado a faculdade de matemática para investir em sua carreira musical. Lembro de ter achado legal tamanha coragem e de ter gostado da primeira música lançada, “Posso Ser”, mas também achei muito parecido com a Anitta. Olhando para a Lexa de hoje, principalmente com base no documentário “Lexa: Mostra Esse Poder“, percebe-se a importância da Anitta na cena antes dela. Com os anos se passando, Lexa trilha sua própria carreira sem muitas semelhanças e com muita personalidade.
“Lexa: Mostra Esse Poder”, série documental sobre a trajetória da Lexa, foi lançado no dia 24 de junho pela Globoplay. Nela, são mostrados a vida de Lexa antes da fama, bastidores, momentos triviais, atualidade de sua carreira e até uma música exclusiva.
Família e passado
Uma das coisas que me chamam atenção é desde cedo sua mãe estar envolvida em sua carreira e a apoiando. Desde que Léa (Lexa se chama Léa Cristina) era criança, Darlin – que atualmente é a empresária da carreira de Lexa – a incentivava a cantar. Mesmo sendo de origem pobre e uma carreira na música no Brasil ser de difícil retorno financeiro, acreditava no potencial da filha.
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Há momentos emocionantes em que tanto Lexa quanto sua mãe voltam a lugares que relembram suas histórias, como a parte que revisitam a casa que moravam e o antigo trabalho de Léa. A parte do trabalho é algo bonito de se assistir: seu antigo chefe diz que ela vivia cantando enquanto trabalhava e que tinha de pedir para cantar mais baixo. Era algo maior que ela e que felizmente deu certo. Lexa também conta sobre suas memórias musicais, mesmo que como anônima ainda ali, e o quanto delas se tornaram reais.
Lexa e o funk
Outra coisa que faz o documentário ficar bem interessante é não focar apenas na vida da artista, mas também dar um background do funk para entender o sentido do que ela fez até agora e como o cenário foi sendo preparado. Nomes como MC Cacau e Tati Quebra Barraco aparecem falando sobre como era bem no início e as diferenças para hoje, citando Lexa como exemplo.
Para Cacau, primeira MC mulher no funk, não havia tanto espaço para mulheres no início, o que fazia com que as coisas fossem muito mais difíceis, com mais estereótipos sendo jogados em cima dela. Já para Tati, lá pelos anos 2000 as coisas começam a melhorar: a televisão passa a mostrar bailes, mais mulheres lutando pelo seu espaço e cantando sobre outros temas. E, ah, as duas se declaram admiradoras de Lexa.
Verônica Costa, Mc Cacau, Tati Quebra Barraco e Anitta
Uma personalidade que também marca presença é a Verônica Costa Mãe Loira, quem criou a famosa Furacão 2000 e foi responsável por boa parte da produção de funk nos anos 2000. Junto da dona do documentário, conta como Lexa esperou um dia inteiro no estúdio a sua presença e do seu produtor para a escutarem cantar. Diz que de cara percebeu a garra da cantora e seu potencial para gravar mais músicas.
Além de Verônica, aparece também Anitta, mostrando que apesar dos rumores de rixa entre as duas, apenas há a amizade e o apoio. Pode-se perceber também que possivelmente sem Anitta, não haveria Lexa. Apesar de atualmente as duas terem suas originalidades, Anitta foi a primeira a aparecer tendo maior aceitação do público, misturando o pop com o funk e se mantendo em alta. Ela abre o espaço para que artistas como Lexa também tenham seus grandes destaques.
E é tudo um ciclo: sem Tati Quebra Barraco, não talvez não houvesse Anitta; e sem Mc Cacau, talvez não tivesse Tati Quebra Barraco.
É legal perceber que durante a trajetória, por mais que Lexa seja do Rio, estuda o funk paulista, o que pode ser um dos pontos de virada em sua carreira quando começa a ter ainda mais destaque. O destino também une ela com essa parte mais paulista: em 2018, casou-se com MC Guimê, que também aposta nessa vertente do funk. Atualmente, os dois moram em São Paulo.
Momentos de tensão
Dois momentos polêmicos aparecem: quando Lexa quase perde o direito de utilizar seu nome artístico e quando levou um golpe e não conseguiu colocar seu bloco no carnaval de 2019.
Por mais que já soubéssemos dos ocorridos, os episódios nos dão mais detalhes. Em 2016, um registro de sua antiga empresária impedia que a cantora utilizasse o próprio nome, podendo receber multa de R$10 mil a cada uso que fizesse. Sua mãe conta mais o que aconteceu e os sentimentos na época, e, como tudo foi resolvido, a artista pode voltar a usar o nome Lexa.
Já em 2019, em um dos ápices de sua carreira com o sucesso do EP “Só Depois do Carnaval”, Lexa sairia pela primeira vez com seu próprio trio elétrico no carnaval. Infelizmente, acabou levando um golpe e não conseguindo assim realizar o seu bloco. Se você lembra da época, possivelmente também sentiu imensa dor pela Lexa porque ela deveria ter tido aquele momento. No mesmo dia do ocorrido, Preta Gil forneceu o seu bloco a ela, assim como dias depois Anitta também a chamou como convidada do bloco. No documentário, as duas aparecem dando seus depoimentos.
Percepções gerais sobre “Lexa: Mostra Esse Poder”
“Lexa: Mostra Esse Poder” é um documentário fácil e divertido de se assistir. Possui apenas 5 episódios de pouco mais de 20 minutos cada que resumem muito bem tudo que aconteceu em sua carreira até agora. Mostra uma artista completamente adaptável às mais diversas vertentes do funk e transitando entre elas com maestria.
Percebe-se que Lexa é uma artista completa, muito perfeccionista, mas que é humana e que lutou muito para chegar no topo. Gosto muito de como mostra o lado mais pessoal da sua vida e a relação da sua carreira com artistas importantes para o gênero musical. Por fim, ainda nos presenteia com uma música exclusiva, a “Prazer, Eu Sou a Lexa”. Vale muito a pena assistir.