O Capital Inicial anunciou, recentemente, o projeto “Capital Inicial 4.0” – e o vocalista Dinho Ouro Preto cedeu uma entrevista ao Tracklist para comemorar a nova fase! A ideia é comemorar a história de quatro décadas e o legado do grupo, focando no que ainda está por vir, e também na conexão com o público.
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Para isso, a banda preparou uma programação separada em três frentes: álbum, DVD e turnê. A fase promete trazer grandes clássicos para todas as gerações, o que inclui novas gravações de sucessos da banda brasiliense.
O primeiro single da nova era é uma versão de “Natasha”, com Marina Sena, que será lançada no dia 22 de julho. Essa e outras regravações – que também contam com participações de artistas como Pitty, Samuel Rosa e Vitor Kley – poderão ser vistas no novo DVD, gravado na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro.
Além disso, as faixas estarão disponíveis no novo álbum da banda, que possui lançamento previsto para o dia 26 de agosto. Os lançamentos irão preparar o terreno para a nova turnê do grupo, que começa no dia 9 de setembro, no Rock in Rio.
Confira os destaques da conversa!
Entrevista com Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial
Capital Inicial e a música urbana brasileira
Este ano, o Capital Inicial completa 40 anos desde a sua formação – e a comemoração será em grande estilo: “A ideia é celebrar essa estrada. O que nos aconteceu, essa surpreendente história”, diz Dinho.
O cantor relembra a fase inicial da carreira do grupo, que nasceu em 1982: “Quando nós éramos adolescentes, ainda em Brasília, era tudo muito diferente. Tudo muito despretensioso. E talvez essa falta de ambição, essa falta de planejamento, seja um dos motivos para os quais a gente chegou tão longe”.
Dinho Ouro Preto afirma que, ao pensar sobre o que aconteceu desde aquele período até aqui, uma palavra parece vir à mente: surpresa. De acordo com ele, era improvável que sua geração (que coincide com a formação de bandas como Legião Urbana e Aborto Elétrico) fizesse sucesso – os artistas estavam distantes do eixo Rio-São Paulo, e os temas abordados nas letras eram diferentes do popular.
“Eu acho que a nossa geração não inventou o rock brasileiro, sabe? Ele precede. Ele vem desde os anos 50; depois você tem a Jovem Guarda, Os Mutantes, tem o Raul [Seixas], você tem a Rita [Lee]. Mas o que a nossa geração fez foi popularizar o rock no Brasil”, fala o vocalista.
Ele explica que o projeto Capital 4.0 é, portanto, a celebração de toda essa história. “Eu acho que, em parte, o que o nosso DVD, o nosso especial faz, é celebrar a parte que cabe ao Capital dessa festa […] Eu acho que a nossa geração ajudou a criar o que eu denomino como a música urbana brasileira”.
Novo álbum, DVD e colaborações
Para concretizar parte projeto, o Capital Inicial montou um time de colaborações de peso. Os artistas integraram regravações de clássicos da banda, que estarão no novo álbum – versões, essas, que foram apresentadas na gravação do próximo DVD.
Dinho compartilhou um pouco do processo de recruta das parcerias. “A primeira pessoa que consultei foi o Samuel [Rosa]. E ele topou antes mesmo que eu dissesse qual era a música”, diz Dinho, sorrindo. “E depois, a Pitty também marcou. Mas essas eram as pessoas que nós conhecíamos”. A cantora baiana participa da regravação de “O Passageiro”, que será lançada no dia 12 de agosto.
“O Carlinhos Brown também. Conheço o Carlinhos há muitos anos. Mas eu já tinha visto o que ele tinha feito com o Sepultura, é animal a participação dele. E a gente chamou ele para ele cantar também. Ele canta em ‘Música Urbana’”.
Mas, além dos veteranos, o Capital convidou nomes da nova geração, como Marina Sena, Vitor Kley e Ana Gabriela. De acordo com o vocalista, as colaborações se tornaram especiais pois todos tinham um envolvimento emocional com as músicas.
“Foi determinante para a qualidade do que foi feito ali. E eu agradeço muito, cara. O talento deles, a paciência deles. Foram dias hardcore de gravações. Vários dias, várias gravações. E todos fizeram com um sorriso no rosto”, afirma.
Uma nova turnê
A terceira frente da celebração do grupo é a nova turnê. E esse período irá marcar uma nova relação do Capital Inicial com os shows: “As nossas turnês antes eram intermináveis. Elas iam emendando uma na outra. E pela primeira vez, a gente vai ter uma turnê que tem começo, meio e fim”.
A mudança na mentalidade veio após a pandemia, quando a banda precisou parar as apresentações. “Quando parou tudo por conta da pandemia, para a gente foi uma freada… estranhamos de uma maneira estar ficando em casa”. E, quando os eventos presenciais começaram a retornar, os músicos perceberam que seria ideal embarcar em turnês mais espaçadas.
“A última coisa que faltou o Capital fazer é ter turnês mais humanizadas para nós. Que tenham temporadas”, disse, e confirma que com isso a banda espera ter um maior tempo para respirar. “Estamos ficando velhinhos”, ri.
E o pontapé inicial dessa bateria de concertos será dado no dia 9 de setembro, no Rock in Rio. Os brasileiros irão dividir o Palco Mundo com Fall Out Boy, Billy Idol e Green Day. E Dinho Ouro Preto também compartilha o que o público pode esperar desse show.
“A gente vai fazer um show mais nervoso, por causa da natureza. É uma noite de pop punk. A gente vai tocar ‘Veraneio Vascaína’, ‘Fátima’, ‘Que País É Esse’, ‘O Passageiro’. Vai tocar também ‘Primeiros Erros’, ‘Natasha’, ‘À Sua Maneira’. A gente deve tocar também uma versão de alguém, eu pensei em talvez tocar alguma coisa do The Clash. Mas vai ser uma noite de mais adrenalina”.
Longevidade
Uma das características mais marcantes da carreira do Capital Inicial é a longevidade. E qual é a chave para manter a relevância no cenário brasileiro durante tantas décadas? Dinho responde que nem ele saberia dizer com precisão. Mas tem um palpite:
“É você olhar para o futuro sempre. Você não se deixar pautar por nostalgia, sabe? Porque você poderia, em algum momento, se dar por satisfeito; mas acho que você acaba mofando, acaba ficando com cheiro de naftalina”.
E, durante os 40 anos de estrada, a banda brasiliense conseguiu colecionar momentos inesquecíveis. Dinho relembra o episódio do Rock in Rio 2001, quando dividiram o line-up com Red Hot Chilli Peppers, Silverchair e Deftones. “Lembro que fomos prontos para sermos executados. Morrendo de medo”, confessa.
Mas aconteceu justamente o contrário: “Eu lembro que a gente entrou muito cautelosamente; e as pessoas começaram a cantar, colocar os braços para cima. E o Capital saiu dali aclamado. Uma surpresa geral. Essa foi uma das noites mais incríveis”.
“Mas se você não se der por satisfeito, se você não começar a ficar embevecido com a sua própria história, isso nunca acaba. A capacidade de você se emocionar e se surpreender”, fala Dinho. Ele diz, então, que recentemente a banda fez uma turnê pelos Estados Unidos, uma experiência que também o marcou.
“Não foi a primeira vez que a gente foi aos Estados Unidos, mas foi a primeira vez que foi tão bem. Foi emocionante”. Ele aponta, então, para o futuro: “Quantas noites dessas ainda virão?”
Política
Uma esfera que marcou a trajetória do Capital em diversos momentos é a política. Filho de um cientista político, Dinho Ouro Preto sempre se interessou pelo assunto, o que também influenciou em suas composições – como “Autoridades”, “Saquear Brasília”, “Cristo Redentor” e “Viva a Revolução”.
E, em um período tão emblemático na história brasileira, o vocalista sente que precisa compartilhar suas opiniões. “Eu acho que o Brasil está passando por um momento muito complicado, com uma ameaça real à democracia brasileira. Eu não consigo entender como alguém possa querer que isso continue. Mas, ao mesmo tempo, viva a democracia, não é isso? Contanto que a democracia seja mantida, que hajam vozes, opiniões diferentes”.
Ele compartilha, ainda, que não acha que todos os artistas precisam se manifestar neste sentido. “Por obrigação, não. Eu acho que tem vários grandes artistas que nunca falaram de política, e não é isso que determina a qualidade de um artista”.
Para as próximas gerações
É difícil resumir uma história de décadas. Portanto, quando perguntado sobre qual faixa do Capital Inicial poderia resumir a banda, Dinho não possui uma resposta concreta. “Ah! ‘Independência’, talvez. Mas eu não sei, na hora que sai da minha boca eu já fico pensando em outra”, fala.
Mas ele também tem outras favoritas: “‘Fátima’ também, ‘Fogo’, putz, vai embora. Eu não saberia, tem várias. ‘Olhos Vermelhos’. Tem várias músicas que eu gosto”.
E, por fim, Dinho Ouro Preto deixa um conselho para os artistas que estão iniciando suas carreiras. “Eu vejo, às vezes, um excesso de cálculo. As pessoas querem ficar pensando muito na repercussão do que elas vão dizer, como vão ser percebidos. Como aquilo vai se encaixar dentro de uma nova mídia”, começa.
Ele continua: “Eu tenho a impressão de que tudo parece, às vezes, a palavra que me vem à cabeça é essa: calculado. E às vezes eu acho que falta espontaneidade, sabe? E é dessa espontaneidade que vem a maior sinceridade, a maior legitimidade, a maior verdade. Isso não tem preço”.
“Se eu fosse dar um conselho para alguém, eu diria: esqueça. Tem o refrão de uma música do Capital, que é ‘O Mundo’; que fala: ‘Se eu for ligar para o que é que vão falar, não faço nada’. É isso, não ligue para o que vão falar, para o que vão dizer. Seja você mesmo. Esse é o meu conselho. Com toda a minha sabedoria”, finaliza, rindo.
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