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Review: “Mercury – Act 1” é uma ferida aberta para o Imagine Dragons

"Mercury - Act 1" é o quinto álbum de estúdio do Imagine Dragons

Dan Reynolds nunca escondeu sua vulnerabilidade. O frontman do Imagine Dragons, conhecido por advogar pela saúde mental, permitiu colocar isso em evidência no novo projeto da banda: o álbum “Mercury – Act 1”, que ganhou vida hoje e já se encontra nas principais plataformas de streaming.

A palavra-chave “vida” é importante aqui, uma vez que se trata de um álbum que relata, em especial, o amor, a morte e o luto. Os primeiros singles, “Follow You” (mais romântico) e “Cutthroat” (mais rebelde) já deixavam em evidência que o álbum seria uma montanha-russa. E, de fato, é a primeira impressão que fica – confuso, emocional, delicado e brutal.

O cenário muda com o lançamento do terceiro single, “Wrecked”, que reflete mais a solidez que sustenta o álbum: um retrato de dor, que fez e faz parte da vida dos integrantes. Reynolds relata que teve problemas em aceitar processos que fazem parte da vida de qualquer ser humano: lidar com a perda.

“Eu passei um bom tempo da minha vida sem expressar a minha verdade, escrevendo sobre problemas, como crises de fé, de maneira metafórica para que a minha família não soubesse do que eu estava falando”, comentou. O cenário mudou quando ele se deu conta de que estava indo em muitos funerais, o que o fez contemplar a fragilidade humana. 

Principal faixa do álbum, “Wrecked” é um relato pessoal do cantor. Reynolds perdeu a cunhada para o câncer, e isso provocou uma série de reflexões sobre a perda. Quem viveu algo semelhante se identifica rapidamente. Sendo uma doença cruel, é algo que faz a família inteira adoecer junto, e, muitas das vezes, deixa danos irreparáveis. E, ao ouvir, sentimos a dor de Reynolds como se fizéssemos parte da história – o que é incrivelmente doloroso.

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“Mercury – Act 1” é o quinto álbum de estúdio do Imagine Dragons | Foto: Reprodução

“Mercury – Act 1”: nada linear, totalmente à flor da pele

O quinto álbum de estúdio do Imagine Dragons não é do tipo que está recheado de hits (algo comum na discografia da banda). Remediar a própria expectativa é essencial para entender o que foi produzido em camadas, e que cada faixa é apenas uma peça de um quebra-cabeça. A sensação é que está incompleto, o que provavelmente é a intenção.

É válido destacar que, além de ser um trabalho mais pessoal, marca o retorno da banda, que anunciou uma pausa em 2019. O timing foi certeiro com a pandemia, que fatalmente obrigou artistas a se manterem longe dos holofotes e reinventarem sua própria imagem. Portanto, os integrantes não são os primeiros a passarem pela experiência (e sentirem a necessidade) da mudança.

Tendo isso em mente, “Mercury – Act 1” traz diferentes influências e, contrário de álbuns consagrados da banda, como o “Night Visions” (2012) e “Evolve” (2017), não segue uma única linha de raciocínio. A ordem das faixas também não tem a pretensão de fazer o trabalho de guia, o que é propositalmente incômodo.

Experimentos e expectativas

A escolha certeira do Imagine Dragons para esse novo projeto é a escolha do pop punk, que trouxe um pano de fundo mais agressivo em momentos decisivos. É algo evidente na faixa “Easy Come Easy Go”, que, mesmo não sendo o clímax do disco, precisa estar ali para fazer sentido. O mesmo é observado em “Dull Knives”, que por sua vez é muito mais tensa, um verdadeiro grito de raiva, harmonizando com o objetivo principal do disco, com o que se deseja apresentar.

Giants” já nos deixa muito mais familiarizados, e nos relembra que essa é a mesma banda que criou “Radioactive” anos atrás. Imagine Dragons abusa de distorção de vozes, mas mantém a raiz pop, assim como a faixa seguinte, “It’s OK”. Além disso, “Lonely”, “One Day” e “No Time for Toxic People”, reúne as harmonias mais alegres, mas com histórias tristes – o uso de medicamentos antidepressivos, solidão, dissociação social, a necessidade de afastar-se para estar são.

Em conclusão, dificilmente “Mercury – Act 1” será um álbum lembrado por hits, já que se mantém mais morno, não tão marcante quanto os demais. Mas é importante para a banda “tirar o bandaid” em um mundo de crise – pessoal, política, sanitária -, que deixa e continuará a deixar marcas profundas. Então, como uma ferida aberta, é algo que demanda resiliência, cuidado, aceitação e tomar ação para a cura.

Nota: 6,5

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