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Caco Grandino, do Nx Zero, fala sobre nova fase, álbum e novas bandas para o Tracklist

Com quase 15 anos de carreira e cinco álbuns lançados, o NX Zero enfrentou uma crise recentemente que quase levou ao fim da banda. Sobreviventes da geração 2000, a banda decidiu embarcar numa nova fase, se desligando da gravadora Universal e do produtor Rick Bonadio.

Por telefone, o baixista Caco Grandino contou para o Tracklist como ocorreu a transição para a gravadora Deck Disc e o processo criativo do novo álbum “Norte”:

“Foi uma coisa de processo natural. Antes de fecharmos com a Deck, ouvimos outras propostas, mas decidimos nos desligar do Rick e também da Universal pra respirar um pouco, sem ter uma obrigação contratual com ninguém, e fazer a coisa andar por si só. Por isso fomos para a praia, compor o EP, uma coisa pra gente se reencontrar mesmo, na música, na arte. A partir daí, começamos a desenvolver melhor a ideia do que seria o Nx futuramente. Nesse meio, está o desenvolvimento do Daniel com a Pitty, que é da Deck Disc também, produzida pelo Rafa da Deck. Então, já conhecíamos o Rafa e começamos a conversar, mostrar algumas coisas, e foi meio como um encontro de almas. Não foi nem uma coisa de business; casou as ideias e o momento de cada um, e achamos que nosso melhor caminho seria fazer esse trabalho com a Deck, entrar na Deck, pra nos ajudar realmente a nortear o Nx Zero daqui pra frente. Então não foi uma escolha, foi uma coisa que aconteceu no fluxo natural.”

Tiveram uma maior liberdade, né?

“Isso! Foi enfim, encontro de almas, cara, a gente se entendeu muito bem, conseguiu extrair o melhor da gente como músico, banda… E a equipe da Deck tá sendo incrível com a gente nesse momento de lançamento, dando o maior suporte e ideias junto conosco. Então, fechamos um puta time com eles.”

Qual é a maior diferença de um trabalho com o Rick Bonadio, um trabalho independente, que foi o EP, e o trabalho atual com a Deck?

“Cada um tem um jeito de trabalhar, né?! Quando você tá independente, você trabalha de um jeito, quando você tá com um empresário (que também é seu produtor), você trabalha de outro jeito. No caso do Rafa, ele é hoje só nosso produtor, então, é meio difícil fazer uma comparação desse tipo porque são formas de trabalho completamente diferentes. A gente sempre teve contato com o Rick e com a Universal, então, tanto pela parte do Rick quanto pela parte da Universal, tivemos prazos pra entrega, um cronograma que deveríamos respeitar de acordo com o trabalho, o que é natural em qualquer gravadora. Independente, a gente fica completamente ao nosso ritmo de datas, de como vamos fazer e quando, e com o Rafa, na verdade, ele entrou pra entender o que a gente queria, como queríamos trabalhar, como o Nx pensava, o que a gente estava esperando para os próximos passos, em função do modelo de trabalho diferente. Não que nenhum deles fosse o correto ou 100% errado, mas cada um tem um jeito de trabalhar.”

Além de ser baixista do Nx Zero, Caco também é produtor de outros artistas, e mesmo sendo integrante da banda, ele tomou a frente da produção do último EP do NX.

“A gente sempre tomou frente em tudo, mesmo com o Rick e até hoje com o Rafa, o Nx sempre foi uma caco grandino entrevistabanda muito ativa e cada um da banda que cuida mesmo de uma coisa. No meu caso, eu cuido mais dessa parte de produção, de áudio e tudo o mais. É natural, não foi uma coisa forçada que a gente fez. Poderíamos ter chamado alguém pra fazer esse trabalho pra gente, mas queríamos, naquele momento, que fosse uma coisa fechada entre nós mesmos, entre a banda, e sabíamos que, em questão de ser capaz de realizar um trabalho, conseguiríamos fazer tudo. Nós já produzimos os nossos próprios clipes, um próprio EP, as próprias artes, o próprio merchandising, então não tem mistério em torno disso. Muitas vezes, por mais que as pessoas enxerguem a gente de um certo tamanho, nós sempre tentamos lidar com as situações da maneira mais simples e objetiva possível.”

Como resultado de tantas mudanças, o novo álbum “Norte” marca essa nova fase do Nx e vem com uma sonoridade bem diferente dos discos anteriores. Algumas referências no novo disco são bem perceptíveis, como guitarras que lembram Arctic Monkeys, a voz do Di no estilo skate rock tipo Charlie Brown e a percussão também lembra um pouco o indie rock do Hozier.

“A banda sempre foi muito eclética, mas nos últimos tempos, a gente realmente expandiu a cabeça e começou a ouvir coisas realmente que estavam dentro, mas que não tínhamos absorvido pro nosso universo. Foi de maneira extremamente natural, fomos trazendo cada um a sua influência. Temos agora um amigo de longa data que está tocando com o Nx, tocando lap steel, teclas, violão e guitarra. Ele é um cara que também trouxe muitas influências. O Rafa fez a gente como laboratório e resgatou muita coisa, nos fez escutar para criar o nosso próprio groove, a nossa própria identidade. Então, além de pessoalmente e individualmente, cada um do Nx Zero trouxe coisas que a gente tinha que ter escutado ultimamente. O Rafa também foi muito importante nesse processo de entender onde a banda queria chegar e de colocar no nosso prato, na nossa mesa, as melhores referências possíveis, então, acho que o Rafa tem 90% do crédito em relação a essa nova fase.”

O álbum também conta com uma colaboração especial do Lulu Santos na música “Fração de Segundo”. Caco contou como aconteceu esse encontro de gerações:

“Uma vez, pediram pra gente explicar como era ter o Lulu no disco, mas a gente ainda não entende, porque foi um sonho, ainda estamos meio maravilhados com isso. Sempre fomos muito fã de Lulu. O Diego é muito amigo dele, e a gente, na verdade, quis chamá-lo para ele contribuir como instrumentista, porque poucas pessoas sabem o guitarrista que ele é – um dos primeiros caras a usar o slide-bar aqui no Brasil, um guitarrista que trabalha bem nessa técnica, e é o que queríamos para a música. Daí, um amigo nosso, que trabalha com o Lulu, deu a ideia, bateu e o chamamos. Ele pirou, foi lá, passou um dia inteiro com a gente, criando tocando, e foi incrível ter o Lulu participando do disco, é como se fosse uma chancela, ele nos chancelou a música.”

Vocês tão prestes a completar 15 anos de banda agora, e são uma das poucas bandas da geração 2000 que continuam na ativa. Qual foi a maior dificuldade e o segredo pra se manter no cenário?

“Dificuldade todo mundo encontra o tempo inteiro. Não quer dizer que hoje uma banda conhecida como o Nx a gente não passa por dificuldades; a gente se entendeu com as outras partes, que eram o Rick, a gravadora… Isso tudo dá um certo… não digo desgaste, mas leva tempo para os assuntos que você precisa resolver. As dificuldades que a gente passa hoje em dia são as mesmas que todo artista passa, né, a gente tem que buscar nossos caminhos, os nossos espaços, sempre, e cada vez mais buscar expandir a nossa música e mostrá-la pra cada vez mais pessoas. Então acho que a maior dificuldade esse tempo foi essa, encontrar os caminhos do Nx. Na verdade, a gente já reencontrou esse caminho, e nos estruturamos agora; Nx é o próprio empresário, a gente tem o nosso manager – Ricardinho – que é a figura mais importante. O escritório é nosso, e fazemos meio que um trabalho praticamente 360 junto com a Deck também. Então, encontramos nosso espaço novamente, onde temos que estar e qual é a melhor maneira de trabalhar com o Nx; como que a gente vai se entender como banda e como empresa. Então, conseguimos alinhar tudo isso hoje em dia.”

Vocês já têm um bom tempo de estrada. O que vocês acham das novas bandas e das novas tendências do rock nacional?

“Eu acho incrível, porque se está realmente pipocando uma nova cena; novas bandas tão vindo, e o que é extremamente necessário. Às vezes, as pessoas fazem a mesma pergunta que você fez com um tom de concorrência, de se isso vai afetar o Nx ou afetar o trabalho e é completamente pelo contrário; é só uma soma de energias e, na verdade, faz com que as pessoas se interessem mais pelo rock quando o rock é mais falado na mídia. Se você tem um número maior de bandas fazendo um puta trabalho e tendo acesso à mídia, isso faz com que as pessoas escutem mais, absorvam mais, faz com que a cena como um todo cresça. Eu tenho visto o trabalho que o Scalene fez, outra banda que chama Versalhes, que também tava no Superstar, o Supercombo… São bandas que tão descobrindo seu espaço e que tão trabalhando e mostrando uma nova cena que ta chegando. Ah, Vivendo do Ócio, Vespas Mandarinas… Eu posso passar a tarde inteira falando. O que a gente espera é que venham cada vez mais bandas e que cena fique cada vez mais forte.”

Voce falou do SuperStar, e muitos roqueiros gringos, como o Dave Grohl, criticam esses programas como The Voice, The X Factor, etc, mas o que você pensa dessas novas formas de ascensão?

“É um espaço de mídia, não vejo nada de errado nisso. Absolutamente nada de errado. O contexto americano é completamente diferente do contexto brasileiro. O rock não teria, talvez, a mesma oportunidade que teria num programa como o Superstar, de ter essa alavancada num curto espaço de tempo, com uma exposição tão grande. Nos EUA, o rock é um mercado muito maior em relação a gente, então, para eles, isso se torna uma coisa efêmera. Pra nós, é uma oportunidade de mostrar bandas novas que estão fazendo um puta trabalho. Então, eu não vejo absolutamente nada de errado. Na verdade, o meu desejo é que cada vez mais os veículos de mídia olhem pra cena de rock que tá acontecendo e abram cada vez mais espaço, porque tem muita gente boa que precisa de espaço pra mostrar o trabalho.”

E o que os fãs podem esperar desses novos shows de divulgação do álbum?

“A gente tá produzindo show novo e estamos em um momento provisório de turnê, em que montamos um palco, mas não é o que vai ser usado na turnê. A gente está numa sequência, num ritmo diferente, e estudando as possibilidades de como vamos trabalhar o repertório dos shows, de como vamos fazer a parte técnica. Então, isso ainda é muito pra falar, mas a galera com certeza pode esperar um Nx diferente, talvez até mais dançante, mais grunge, mais feeling.”

Nós também ouvimos e destrinchamos o novo disco do Nx Zero. Confira aqui a nossa resenha sobre o “Norte”.

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