Nesta terça-feira, 23 de abril, Lemonade, de Beyoncé, finalmente chegou ao Spotify. Lançado exatamente há três anos (no dia 23 de abril de 2016), o disco foi o sexto de estúdio da artista, e quebrou uma série de recordes.
A pergunta que fica, porém, é: por que só agora? Por que, apenas 3 anos depois, a americana resolveu permitir que ouvíssemos o disco pelo Spotify? A seguir, nós falamos sobre o assunto. Mas, antes de tudo, aproveite o Lemonade:
Por que Lemonade finalmente chegou ao Spotify?
Poderia ser simplesmente pelos 60 milhões de dólares oferecidos pela Netflix, e por um acordo semelhante com o Spotify. (Apesar de valores não terem sido divulgados, é difícil crer que Queen B aceitou uma oferta barata do serviço de streaming). Mas nós acreditamos que o motivo para a disponibilização de Lemonade vai bem além.
Durante a sua carreira, Beyoncé falou para várias minorias. Discutiu o empoderamento negro (“Formation”), o empoderamento feminino (“Independent Women”). Falou sobre a importância de valorizar a si mesmo e a sua história (“Flawless”). E o alcance da sua voz sempre foi enorme. Mas, talvez, ainda não tenha alcançado seu potencial completo.
Por que LEMONADE não estava no Spotify?
Lemonade foi, sem dúvida, o álbum mais politizado de Beyoncé Knowles-Carter. Ela falou sobre escravidão, Direitos Civis, padrões de beleza, violência policial, Feminismo, cultura negra e independência da mulher. Tudo em 12 faixas, enquanto ainda abordava a crise em seu casamento com Jay-Z (há rumores de traição por parte do rapper).
Mas, na época em que Lemonade foi lançado, Jay Z investia em um novo streaming de música, o Tidal. O que melhor para atrair o público do que um álbum exclusivo, de um das maiores artistas da atualidade?
Foi por isso que Lemonade não apareceu no Spotify, ou em qualquer outra plataforma. Ainda que os fãs pedissem ensandecidamente, a ponto de o Spotify inserir um comunicado fixo na página da cantora.
Números do LEMONADE
Mesmo que apenas no Tidal, Lemonade alcançou recordes estrondosos. Em 2016, o álbum foi o mais vendido do ano, ultrapassando a marca de mais de 2,5 milhões de cópias no mundo.
A versão visual do disco, lançada como um documentário da HBO, foi outra que alcançou números impressionantes. Foram 787 mil espectadores apenas na estreia do álbum-visual, que foi transmitido outras vezes pelo mundo. Logo depois, alguns vídeos foram disponibilizados no Youtube, acumulando vários outros milhões de visualizações.
Ok, recordes foram batidos. Mas, comparado ao Spotify, que possui 70 milhões de assinantes no mundo, o Tidal é muito pouco. No streaming de Jay-Z, são “apenas” 850 mil assinantes — ou, segundo dados contestados, 3 milhões de usuários.
Já comparados aos 137 milhões de assinantes da Netflix, os 130 milhões de assinantes de TV a cabo no mundo parecem insignificantes. Afinal, quem assina à TV a cabo não está, necessariamente, consumindo produtos da HBO. Muito menos ao Lemonade.
Portanto, se o objetivo de Beyoncé é, e sempre foi, transmitir uma mensagem forte e importante, ela precisa utilizar os canais corretos. E foi por isso que, desta vez, ela optou por lançar seu produto visual na Netflix.
Representatividade na voz de Beyoncé
“Homecoming” chegou à Netflix no dia 17/04. Todo o documentário é marcado por mensagens de superação. Inclusive da própria Beyoncé, que precisou reencontrar a sua personalidade para imprimir o que desejava no grandioso show do Coachella 2018. Após uma gravidez inesperada e cheia de complicações, o trabalho foi árduo.
O vídeo ainda apresenta uma série de pensamentos de nomes importantes da representatividade negra nos Estados Unidos. Ainda assim, vem da própria Beyoncé uma das passagens que mais emociona, principalmente aos que fazem parte das minorias.
“Em cada uma de nós, outra mulher ou menina pode ver um reflexo de si mesma. Do próprio valor, do seu potencial ilimitado. A juventude precisa ver a sua grandeza refletida nos nossos olhos. Avancem. Mostrem que somos reais”, diz a cantora em um dos trechos de bastidores no documentário.
Para uma menina, uma mulher, um homossexual, um negro, um imigrante, a representatividade é algo forte. Algo importante, um sentimento difícil de explicar. Mas é essencial, de formas que pudemos ver, por exemplo, com o “simples” lançamento do primeiro super-herói negro da Marvel nos cinemas, “Pantera Negra”.
Se ver na tela foi algo que marcou crianças, jovens e adultos. Apresentou um mundo de possibilidades para um grupo que, muitas vezes, não se vê representado em espaços de poder, não se vê incentivado a ocupá-los.
Com “Homecoming”, Beyoncé possui o mesmo objetivo: de fazer as pessoas se verem no palco, de mostrar que elas podem se destacar, independentemente da sua origem, cor da pele, gênero ou orientação sexual.
Ao levar toda essa mensagem à Netflix, Beyoncé certamente a coloca à disposição de um público maior e mais diverso. Para quem deseja causar impacto, o serviço de streaming é uma das principais plataformas hoje.
Por que disponibilizar LEMONADE agora?
E, então, voltamos ao Lemonade. Após três anos, o álbum chega ao Spotify, com mensagens de empoderamento feminino, a luta contra a violência policial e a cultura negra.
Não há nada mais poderoso do que um artista que usa a sua voz para destacar temas importantes. E, ainda melhor, se essa voz puder ser ampliada para o maior número de ouvintes possível.
O objetivo de Beyoncé sempre foi este: empoderar. Não o número de reproduções, não o número de likes em suas faixas. Ela mesmo diz, em “NICE”, faixa do disco “Everything Is Love” (2018, The Carters — Beyoncé feat. Jay-Z). “Se eu ligasse para quantidade de streams, eu teria colocado Lemonade no Spotify”.
É claro que os fãs se sentiram privados de aproveitar o álbum em uma plataforma mais popular. Mas o disco transmitiu sua mensagem, deu um up no Tidal, e foi divulgado como ninguém. O simples fato de ele não ter ido para o Spotify rendeu manchetes e mais manchetes. E a amplitude da voz de Beyoncé só aumentou.
Disponibilizar Lemonade agora é garantir que a mensagem de um álbum poderoso chegue de forma mais simples ao público. Empodere. Faça refletir. Não há ninguém melhor do que Beyoncé para essa tarefa.
Da mesma forma que no Spotify, Lemonade foi disponibilizado na Apple Music. O disco conta com a participação de The Weeknd, Jack White, Kendrick Lamar e James Blake.
Se você ainda não ouviu ao Lemonade, corra! Testemunhar o álbum se tornar, novamente, um marco (3 anos após seu lançamento), é algo que você não vai querer perder.
Beyoncé na Netflix e rumores de álbum novo
Segundo a Variety, “Homecoming” não será o único projeto de Beyoncé com a Netflix. O acordo milionário ainda renderá 2 outros produtos. No entanto, não há previsão de lançamento ou outras informações divulgadas.
Os fãs apostam em um novo documentário, ou mesmo em outro álbum visual — como foi o Lemonade para a HBO. Até porque, em 2018, surgiram rumores de que a cantora havia reservado datas para gravar um videoclipe no Coliseu, em Roma.
“Ela tem trabalhado duro em seu próximo álbum e ele está tomando forma. Ela quer que o disco seja ainda mais arrojado e mais impressionante visualmente que o ‘Lemonade’, e está buscando locações que deixem as pessoas chocadas”, afirmou uma fonte ao Huffington Post Italy.
Resta aguardar pelo que Beyoncé vem preparando para o sucessor de Lemonade — já que “Everything Is Love” é um álbum conjunto com Jay-Z.