As rivalidades são marcas registradas de reality shows como o Big Brother Brasil. Desde as primeiras edições (ou “BBB raiz”, como muita gente gosta de chamar), o programa foi lembrado por provocar embates diretos entre dois participantes que, em muitos aspectos, dividem a mesma força, mas são de personalidades completamente distintas. Dr. G e Jean Wyllys (BBB 5), Anamara e Elieser (BBB 10), Dicésar e Marcelo Dourado (também BBB 10) fizeram história. Para o BBB 22, Arthur Aguiar e Jade Picon protagonizam a disputa da vez, e não há como não comparar com edições passadas – especialmente com Manu Gavassi e Felipe Prior.
Manu e Prior entraram para a história não por terem brigas infinitas dentro da casa, trocarem farpas frequentemente em jogos da discórdia ou combinação de votos. Mas, sim, pela votação aberta ao público que bateu níveis astronômicos em toda a história do programa, ultrapassando a marca de mais de um bilhão de votos. Não à toa, a marca foi registrada no livro de recordes mundiais, o Guinness Book.
Se você acompanha o programa, já deve estar cansado de ler por aí como a edição de 2020 mudou por completo a trajetória do reality show, que vinha capengando e perdendo o amor do público nas edições pós-2010, ano após ano. Foi um cenário bastante complexo por diferentes motivos: a perda total do interesse no BBB 19 (para muitos, a pior edição da história), a popularização dos streamings (que pulverizou o público da TV) e a ascensão de celebridades nas redes sociais são apenas alguns dos pontos que exigiu uma mudança.
Manu Gavassi e Felipe Prior foram a experimentação mais certeira do programa naquela edição. Era preciso mudar, e a mudança foi bem executada. Deu um novo ar para o que se conhece como Big Brother. Ainda era possível resgatar a devoção do público. A partir disso, as duas edições seguintes buscaram uma história tão impactante quanto aquela.
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BBB 22: Arthur Aguiar e Jade Picon são as pessoas certas na edição errada
Acompanhar o Big Brother Brasil pelas redes sociais é o equivalente a ver, todos os dias, alguém reclamando do quão morna a edição está. Seja pelo elenco, pelas discussões, pela abordagem dos personagens criados dentro da casa, não há nada tão impactante quanto se esperava vindo de pipocas x camarotes. Se o BBB 20 focava na rivalidade entre homens e mulheres, o BBB 21 elevou o nível da conversa para briga de egos. E o BBB 22, nessa conversa, onde fica?
Até o momento, pelo menos, não há nada que caracterize a edição tão bem quanto as outras. Nada tão lembrável. Exceto, talvez, pela “rivalidade” entre Arthur e Jade. Entre aspas, porque, diferente de outros rivais, ninguém parece ter exatamente comprado essa briga. Muito disso, há de se falar, por um elenco que não suporta esse tipo de movimentação, por falta de carisma e comprometimento.
As diferenças entre Manu x Prior e Arthur x Jade
Se vamos comparar as duas duplas, precisamos entender quem é quem. No BBB 20, Prior tinha um objetivo: desmantelar o grupo “da paz”, que não queria jogar. Seu alvo foi direto em Manu por, até aquele momento, ela não mostrar nenhum posicionamento firme no jogo, mas ser uma peça importante por sua fama fora da casa.
Ao sair do programa, Felipe Prior explicou que sua rivalidade com a cantora despertou o fascínio do público porque, ao parecer, eles queriam ser amigos, mas estavam em lados opostos da casa. Como um “Romeu e Julieta da amizade”, com provocações amistosas. De fato, não era um certo ou errado – era uma queda de braço popular. A saída de Prior, querendo ou não, deu uma história para Manu seguir adiante no jogo, algo que ela não tinha até aquele momento.
O cenário já é um pouco diferente quando falamos de Arthur x Jade. É visível que um lado está constantemente apontando erros do outro, e quer que o público compre as dores de um dos lados. São duas pessoas famosas, com públicos diferentes, e, mais do que isso, percepções totalmente diferentes de quem está assistindo.
Isso porque Arthur Aguiar não é exatamente um candidato favorito, mas já falamos aqui sobre como ele tem tentado conquistar a simpatia do público. Jade Picon, por outro lado, tem um público forte nas redes sociais, mas a verdade é que ninguém quer ver um milionário ganhando mais dinheiro. Arthur vende um personagem mundano, enquanto Jade é muito mais lifestyle. Em ambos os casos, não são fatores determinantes para engajar o público. Um potencial desperdiçado por um cenário que não favorece ninguém.
A prova disso é a movimentação que é quase inexistente entre os famosos. Se na votação Manu x Prior tivemos Bruna Marquezine dentre tantas outras globais ao lado da cantora, Prior (aqui, importantíssimo ressaltar que era um anônimo contra uma famosa), tinha apenas o público cativado por sua personalidade explosiva. Já com relação Arthur x Jade, ninguém põe a mão no fogo, mas muitos têm o receio de que o programa “acabe” no momento da saída dos dois.
Conclusão: Precisamos sentir o impacto da saída de um deles
Não ter um enredo próprio no BBB é algo perigoso. Nesse aspecto, as duas rivalidades são bem parecidas: um deles deu história para o outro, e o final costuma ser bem parecido. Um lado sai, o outro se fortalece.
Foi a saída de Prior que rendeu mais espaço para Manu estar mais confortável e confiante para jogar. Chegou ao Top 3 por finalmente saber se movimentar e apaziguar quando necessário, abandonando muito de seu discurso do “retiro espiritual”. Ironicamente, não dá para descansar quando você é um participante do BBB, uma casa complemente isolada do resto do mundo.
Só saberemos se Jade e Arthur são tão grandes quanto se espera no momento em que um deles sair primeiro. É preciso avaliar se realmente vale a pena voltarmos na mesma conversa em círculos – “você não me deu parabéns”, “você me botou duas vezes no paredão” são frases previsíveis demais a cada semana que passa. Não é possível que nós, enquanto espectadores de duas edições com temperaturas altíssimas, chamemos isso de entretenimento.
Entretenimento é criar histórias. Foi o recado que o próprio Tadeu Schmidt deu durante um discurso de eliminação. Se o enredo é apenas esse, é fato que um deles precisa sair para que todos sejam forçados a se reinventarem. Em dois meses de programa, sinceramente, é o que mais se precisa naquela casa.