Desde que a música se tornou um negócio rentável (há mais de 60 anos), até os dias atuais os grupos sempre responderam por uma fatia considerável do faturamento, seja das grandes gravadoras ou das agências e empresários do showbusiness. Porém, foi de duas décadas para cá que um nicho interessante de mercado começou a ganhar força: o dos hiatos e reuniões.
Na semana passada, um forte rumor de reunião do Oasis – ao mesmo tempo que seu líder e mentor Noel Gallagher completou 50 anos – passou a pipocar em sites e publicações especializadas. Com Manchester ainda em choque após o atentado no show da cantora Ariana Grande, no último dia 22 de maio, o show beneficente em favor das vítimas ocorrido no último dia 4 pareceu a oportunidade perfeita para a realização do sonho dos fãs do grupo inglês. Uma reunião do Oasis parece inevitável e até mesmo premeditada – desde o momento da ruptura, em 2009 – mas não foi o que ocorreu dessa vez. Ficou para a próxima. Apenas Liam Gallagher subiu ao palco e brindou o público com uma bonita interpretação de “Live Forever”.
Na mesma semana, especulou-se sobre a reunião do Them Crooked Vultures, supergrupo formado por Dave Grohl (Foo Fighters, bateria), Josh Homme (Queens of the Stone Age, guitarra e vocal) e John Paul Jones (Led Zeppelin, baixo). O motivo foi a declaração de Dave Grohl sobre a possibilidade:
“A gente conversa a respeito. De vez em quando você está lá, bebendo uma garrafa de vinho sozinho, à noite, aí assiste a algum vídeo ao vivo do Crooked Vultures no YouTube e pensa, ‘Nós éramos tão bons!’ e aí mandamos mensagens um para o outro dizendo, ‘Sentimos a sua falta, cara!’” O Foo Fighters acaba de lançar seu novo single, “Run”, então isso deve demorar para acontecer. Porém, os fãs desse projeto tão singular têm duas esperanças um pouco mais alimentadas com a fala de Grohl.
No ano passado, a badalada reunião do Guns n’ Roses, que a cada ano um novo veículo alegou estar confirmada, finalmente saiu do imaginário das pessoas. Ainda que capenga (apenas Slash e Duff McKagan se juntaram aos empregados de Axl Rose para a turnê mundial, deixando de fora os guitarristas Izzy Stradlin e Gilby Clarke e os bateristas Steven Adler e Matt Sorum), a tour girou o planeta e segue lotando estádios por onde passa. Em poucos anos, os membros da reunião mudaram seus discursos, passando de “nunca vai acontecer” para “era inevitável”. Curioso, não? Talvez tenha a ver com o motivo que deixou Izzy de fora. O guitarrista que ficou de fora não teve papas na língua e justificou sua ausência com um curto e grosso: “Eles não quiseram dividir o lucro, simples assim” em sua conta no Twitter. Reunião tem dessas coisas: às vezes alguns integrantes se julgam ou até mesmo são mais importantes que outros.
Na seara da música pop, a bola da vez é a reunião das Spice Girls, já confirmada por Geri, mas com Mel C alegando que não participará. A “mãe das girl bands” planeja novo álbum e turnê mundial. Além das inglesas, quem voltou à ativa recentemente, com um álbum muito interessante, foi o Gorillaz, que já tem passagem pela América do Sul agendada para o próximo mês de dezembro. Já no campo dos sonhos, a reunião do Destiny’s Child, grupo que catapultou Beyoncé ao sucesso mundial, é sempre aquela que é lembrada com mais carinho.
Mas quando se fala em reuniões, os holofotes sempre apontam para a mais aguardada de todas: o Led Zeppelin. Desde a morte do lendário baterista John Bonham, em 1980, a banda subiu ao palco apenas em duas ocasiões, no Live Aid, em 1984, com Phil Collins na bateria e nas duas noites de shows em Londres, em 2007, com Jason Bonham, filho de John, comandando as baquetas. Há especulações sobre a participação do Led na próxima edição do Desert Trip (mega festival que, no ano passado, contou com Paul McCartney, Rolling Stones, The Who, Neil Young, Bob Dylan e Roger Waters). Caso isso aconteça e, finalmente, Robert Plant ceda às tentativas, certamente o Led Zeppelin protagonizará o maior dos shows de reunião da história.
O que une todos esses hiatos e muitos outros é a expectativa gerada. Por vezes, a razão para o reencontro é a vontade de fazer música novamente com aquelas pessoas. Por exemplo, as reuniões do Pixies e do Foo Fighters (após hiato de quatro anos entre “Echoes, Silence, Patience & Grace” e o excelente “Wasting Light”). Outras vezes, o dinheiro fala alto, como nas turnês de Reunião do Police e do Sex Pistols, quando o trio já deixava claro para a imprensa que não tinha lá muito o hábito de se falar e a lenda do punk rock berrava aos quatro ventos que tinha voltado porque o dinheiro havia acabado. E em outras, ainda, a oportunidade de fazer algo muito grande novamente é o norte, como aconteceu com o Black Sabbath ao percorrer o mundo após o lançamento de “13”. E, por fim, existe ainda a simples vontade de tirar férias ou de dedicar-se à família ou a outros projetos. Isso gera anúncios naturais e sem grandes traumas, como os recentemente anunciados hiatos de Pearl Jam e O Rappa.
O ponto é que hiatos são uma coisa poderosa. Saber que o seu artista preferido não está em atividade e que não existe uma previsão de quando (e, em muitos casos, se) ele vai voltar à ativa é algo que gera expectativa e apreensão, prendendo a atenção do público. No fim das contas, a verdade é que todo mundo gosta muito de ver reunida uma banda de sucesso. Do ponto de vista artístico, é uma oportunidade de fazer música novamente, de resgatar a química e a criatividade que existiu, em outro momento, entre aqueles artistas. Do ponto de vista do negócio, todo mundo gosta de matar a saudade e de presenciar um momento histórico. E isso, inevitavelmente, vende muito. Todos saem ganhando – principalmente os fãs.
Foto: Lawrence Watston