Abebe Bikila Costa Santos percorreu um longo caminho até ser BK, um dos mais importantes e celebrados nomes da música nacional. Em quase uma década de carreira, o rapper partiu da Lapa, de onde começou a se apresentar, para viajar o mundo em busca de novos caminhos para a sua arte, ganhando espaço entre massas cada vez maiores.
Desde então, o rap se tornou o gênero mais ouvido pelo mundo, e BK se transformou em um dos símbolos de sua atual geração no Brasil para novos artistas, públicos e direções. “Com o crescimento, vem mudanças — ótimas mudanças, algumas nem tão boas, porque quando a parada se populariza muito e vai crescendo muito, dá uma sensação de que todo mundo pode fazer, e a gente sabe que o rap não é assim, que o hip-hop tem um cuidado maior”, diz.
O rapper também se encontra em uma nova fase em sua trajetória. “Cidade do Pecado”, EP lançado no início do mês, é um dos reflexos de sua transformação artística: o projeto incorpora uma sonoridade inédita e é seu primeiro trabalho de estúdio sob o seu próprio selo, Gigantes, anunciado em maio. “Eu acho que se eu não tivesse me desprendido de algumas coisas, eu nunca conseguiria lançar esse EP”, afirma. “Ser artista também é muito se desapegar de formas que você já dominou, de lugares que você já dominou e buscar outras coisas.”
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Em entrevista ao Tracklist, BK conversou sobre os detalhes por trás do projeto, o retorno aos palcos e o atual panorama do rap nacional. No dia 18, o rapper se apresenta como uma das atrações principais do Amazon Music Festival: Palco Queremos, festival digital que será transmitido ao vivo pela Twitch com performances de Mahmundi, Carol Biazin, Tuyo e YOÙN.
Leia a entrevista completa com BK:
TRACKLIST: Olá, BK! Tudo bem? É uma honra pra nós do Tracklist conversarmos com você! Sobre o seu novo EP, “Cidade do Pecado”, há quanto tempo você e o JXNV$ têm trabalhado nele e de onde surgiu a ideia e as inspirações pro projeto?
BK: Inicialmente, o EP ia ser um álbum, um disco. Mas como esse foi um ano em agitado, no sentido de a gente estar se reestruturando, sair do antigo selo, e como eu já tinha prometido pros fãs que eu ia sempre tentar entregar um material por ano, a gente preferiu focar no EP como algo mais curto mesmo. Continuamos trabalhando num álbum, mas o EP foi pra dar um gostinho pra galera.
TRACKLIST: “Cidade do Pecado” é o seu primeiro trabalho de estúdio sob o seu próprio selo, com a Gigantes. Pra você, como tem sido trabalhar no próprio selo e como isso influencia em seus lançamentos?
BK: A sensação de estar trabalhando no meu próprio selo, da minha própria forma, é a de que eu posso fazer tudo do mesmo jeito. Não que antes não tinha meu jeito, mas acho que agora é 100% livre, tá ligado? Posso fazer o que eu quiser, dar na hora que eu quiser, na forma que eu quiser, e isso influencia nos lançamentos, porque gente tem que ter uma atenção redobrada com a parte do lançamento mesmo. Agora não é só entregar e deixar com o pessoal cuidando, agora é entregar e continuar cuidando, então isso é o que muda nesses lançamentos dentro do selo.
TRACKLIST: No último fim de semana, você voltou a se apresentar no Circo Voador, no Rio de Janeiro, e agora no dia 18, você vai ser uma das atrações principais do Amazon Music Festival. Como tem sido a experiência de retornar aos palcos com músicas inéditas e voltar a interagir com os fãs depois de tanto tempo?
BK: Eu sempre gosto de dizer que meu trabalho é uma experiência completa: é vídeo, é música e é a performance. Eu acho que a pessoa só consegue sentir o trabalho quando a pessoa vê o show, tá ligado? Eu acho que tinha faltado isso no “O Líder em Movimento”… Eu falei: “cara, eu não consegui oferecer a experiência completa”… Em primeiro lugar, porque não teve clipe por ter sido no início da pandemia, então era muito mais difícil de se mexer nisso, e em segundo lugar, porque a gente não conseguiu fazer o show do álbum. Eu fui fazer agora, nesse último final de semana, músicas de um ano e tanto, mas, nossa, funcionou bem demais!
É muito bom poder voltar a olhar no olho das pessoas, ver as pessoas cantando aquilo, trocar essa energia… Não tem nada melhor. O show é a melhor parte de todas. A gente fez três dias seguidos, e no terceiro dia a gente achou que não ia conseguir fazer tão bem porque a gente tava cansadaço, quase duas horas de show todo dia! Mas a gente foi, entregou tudo, foi muito maneiro, muito bom poder voltar, muito bom…
TRACKLIST: “Cidade do Pecado” traz um som muito diferente em relação aos seus outros trabalhos, e é muito curioso ver como você consegue mudar seu estilo de um álbum pro outro. Pra você, como é transitar dessa forma entre diferentes influências no estúdio?
BK: Em todo álbum, eu tento apresentar coisas que eu gosto de ouvir, coisas que eu tô experimentando… Só que eu acho que, às vezes, quando a gente muda muita coisa diretamente no álbum, dá um estranhamento. Então, eu falei: “vamos começar com poucas coisas, com um EP primeiro, e amadurecer isso pro álbum”. Pro álbum, a gente vem com a mesma sonoridade, mexendo algumas coisas aqui e ali, vendo os feedbacks… Mas eu quero investir mais nessa sonoridade puxada pro funk, tá ligado?
Transitar nisso são por coisas que eu gosto de ouvir, que eu quero fazer também. Eu tento sempre fazer coisas que eu gosto, então é isso. É primeiro estudar, errar, até a gente conseguir acertar e entregar um trampo acima da média, que foi o que a gente entregou com todos os discos.
TRACKLIST: Desde o “Castelos & Ruínas”, você atravessou uma longa trajetória no rap nacional até se tornar um dos grandes nomes do gênero no país, da Lapa até o Egito. De lá pra cá, como você diria que mudou pessoalmente e artisticamente?
BK: Artisticamente, a gente consegue evoluir, né? A gente consegue testar mais coisas. Eu acho que, com o tempo, eu vou me desprendendo de algumas coisas, vou conseguindo testar mais coisas. Eu acho que se eu não tivesse me desprendido de algumas coisas, eu nunca conseguiria lançar esse EP, eu nunca conseguiria lançar “Gigantes”, tá ligado? Eu acho que ser artista também é muito se desapegar de formas que você já dominou, de lugares que você já dominou e buscar outras coisas. Eu acho que tô conseguindo ter essa evolução nesses quase oito, nove anos aí de correria.
E pessoalmente, eu acho que a gente fica mais responsável. Eu acho que tive que me tornar um cara mais responsável por várias questões, tentar se cuidar mais por causa das performances e tal… Mais responsável com o que você vai falar, da forma que você vai se portar… Acho que por aí. A arte já vai abrindo nossas cabeças e levando a gente pra outros lugares, e além desse crescimento, acho que tem a responsabilidade também.
TRACKLIST: O rap também passou por várias transformações no Brasil desde que você surgiu na cena, e hoje há um espaço muito mais aberto pra outros gêneros e influências musicais, por exemplo. Como você enxerga o atual panorama do rap nacional?
BK: Cara, eu acho muito legal porque o rap se tornou o estilo mais escutado no mundo, e isso deu uma abertura muito grande pro rap crescer aqui no Brasil. Com o crescimento, vem mudanças — ótimas mudanças, algumas nem tão boas, porque quando a parada se populariza muito e vai crescendo muito, dá uma sensação de que todo mundo pode fazer, e a gente sabe que o rap não é assim, que o hip-hop tem um cuidado maior. Mas o ponto positivo é esse, a galera agora tá tendo liberdade de fazer o que quiser, de experimentar coisas… Tem público pra todo mundo. Tem públicos mais pra uns, menos pra outros, porque é isso, o rap não é uma parada nova. Acho que tem formatos que trazem muita invenção, muita informação, e aí um público assimila mais rápido, outro demora mais, outro às vezes não assimila, mas aí já vai da escolha do artista e da capacidade dele de estar criando coisas e tentando se comunicar.
TRACKLIST: Pra finalizar, o que podemos esperar de seu show no Amazon Music Festival e o que podemos esperar do BK para os próximos meses?
BK: No meu show no Amazon Music Festival, eu misturo um pouco de tudo. Trouxe um pouco de “Castelos & Ruínas”, trouxe um pouco de “Cidade do Pecado”, trouxe um pouco de “O Líder em Movimento”, “Gigantes”… Meus shows são bem assim, eu gosto de ir misturando e trazendo de tudo um pouco, e lá não vai ser diferente. Quem já viu a performance já tá acostumado, é flow pra caramba, é muito rap, é muito papo reto, e é isso. Amazon Music Festival, tamo juntão!