Desde muito cedo nos holofotes, WILLOW, agora com 20 anos, já passou por vários altos e baixos na sua carreira. Aquela cantora que estreou em 2010, com o hit “Whip My Hair”, 11 anos depois se mostra uma artista com propostas e valores totalmente diferentes, em seu novo álbum de estúdio, “lately I feel EVERYTHING”, lançado nessa sexta-feira (16). Mas como o rock entrou no meio do caminho de WILLOW?
Ao observar a carreira e os projetos que WILLOW já lançou, ela tem cada vez mais se provado uma grande contadora de histórias, e com uma versatilidade musical em cada nova era que se propõe trabalhar – algo que particularmente me encanta. O seu poder de “camaleão”, mostra que a arte que ela faz está longe de ficar presa em alguma “caixinha” criada pela indústria. Esse espírito livre ressoa em cada verso, melodia e sonoridade de seus álbuns, que vão do r&b experimental, em ARDIPITHECUS (2015); o alternativo e folk, em The 1st (2017); até a psicodelia, em WILLOW (2019).
Me tira tudo, menos o rock!
Nesses últimos anos, alguns artistas mais voltados ao pop começaram a dissolver em seus trabalhos essa estética e sonoridade do rock, punk e emo. Sim, não é algo inédito, mas que voltou a tomar força, como tendência, ao invés de apenas alguns casos isolados. Os nomes vão de Miley Cyrus, Machine Gun Kelly, YUNGBLUD e vários outros, que contribuíram, de formas diferentes, a começar a trazer de volta essa sonoridade para o cenário mainstream da indústria. Claro, não que esse gênero estivesse morto, mas ele de fato tinha perdido a sua força no grande mercado pop, como no início dos anos 2000. Mas foi mesmo no começo de 2021, principalmente com WILLOW e Olivia Rodrigo incorporando toda a nostalgia do pop-punk no seu repertório, que de fato esse tipo de sonoridade ganhou destaque no maisntream mais uma vez!
Antes de entrar no álbum em si, não posso deixar de citar outra grande estrela do momento (que tá em todas), Travis Barker. O ex-baterista do Blink 182, se tornou um denominador comum nessa tendência do rock e punk no pop atual, ao ser um requisitado colaborador nessa nova geração de artistas. Se você prestar bem atenção, ele tá ali creditado como feat. em vários lançamentos recentes. Então, SIM…ele é a nova SIA do momento!
Por que o rock?
Você pode estar se perguntando: como viemos do pop radiofônico de “Whipe My Hair”, para as batidas pesadas de pop-punk de “t r a n s p a r e n t s o u l” ? Bom, o rock não é algo novo para a WILLOW não. A sua mãe, Jade Pinkett Smith, foi vocalista da banda de metal, Wicked Wisdom. Então já estava tudo em casa, não é mesmo? Além disso, em seu último projeto “THE ANXIETY”, em conjunto com Tyler Cole, ambos entraram de cabeça em uma sonoridade rock, só que em um lado mais experimental. Inclusive, a própria WILLOW, em entrevista à V Magazine, comentou que desde muito jovem adorava bandas de punk-rock, como Paramore e My Chemical Romance, mas sofria bullying na escola por isso.
Mas sabe o que é mais empolgante de toda essa nova tendência e sucesso? É o fato de WILLOW estar no momento encabeçando um movimento tão importante e ainda quebrando barreiras. O rock por si só é um gênero musical que teve a sua origem por artistas negros, com grandes artistas como Sister Rosetta Tharpe e Chuck Berry, mas que ao longo das décadas sofreu um apagamento da sua origem, por artistas brancos e homens. Até se formos aproximar para a própria cena musical do pop-punk e punk-rock, bem ali no começo dos anos 2000, a maioria das bandas –se não todas- eram predominado por pessoas brancas. Então, ver agora, em 2021, uma mulher tão jovem e negra ocupando esse espaço, na retomada do rock para o mainstream, mandando super bem, é de arrepiar! Inclusive, pra quem ficou a fim de dar uma aprofundada e contextualizada nesse tópico, dá só uma olhada nessa thread.
Os melhores momentos de “lately I feel SOMETHING”
Repleto de nostalgia e muito rock, o álbum com 11 faixas, tem menos de meia-hora de duração. A produção fica compartilhada entre WILLOW e seu constante colaborador Tyler Cole, que também assinam as composições. Além de ter colaborações com Travis Barker, Ayla Tesler-Mabe, Tierra Wack, Avril Lavigne e Cherry Glazer. Então, pega o lápis de olho, a sombra preta, o coturno e vem conferir os melhores momentos de “lately I feel SOMETHING”.
t r a n s p a r e n t s o u l feat. Travis Barker
Falando do novo disco, é impossível começar sem falar desse grande hit orgânico que deu o pontapé a nova era. A música que saiu em abril desse ano, fez com que lentamente a indústria voltasse a olhar para o seu trabalho. O single teve uma estreia tímida, até alcançar a posição #19 no Spotify americano e começar a viralizar no TikTok. As batidas pesadas de Travis Barker e o refrão viciante (que dá vontade gritar) conquistou o público, com uma letra fácil de qualquer um se identificar: lidar com pessoas falsas! A produção exala nostalgia em cada corpaço, é energética e dá vontade de se meter em uma festinha bem apertada para bater cabelo na frente do palco, né?
naïve
Com uma sonoridade mais post-punk, esse é o primeiro momento que o disco tem uma considerável desacelerada, com um dos momentos mais ricos, em termos de narrativa. O tom questionador e reflexivo da canção, de forma tão crua e sincera, me pegaram de primeira. Os vocais poderosos e grandiosos do refrão, deixa a vulnerabilidade de WILLOW ainda mais exposta, com aqueles questionamentos que todo mundo já teve, principalmente em momentos de solidão. “Será que tô fazendo o certo? será que tô sendo ingênuo?”. E digo mais, é aquela trilha sonora perfeita para um dia chuvoso dentro de casa, para dar um choradinha no quarto, com essa música no volume no máximo. Ah, e em vez de apenas se prender a isso, WILLOW brilhantemente contextualiza o seu em torno, ao ilustrar a composição de detalhes, citando protestos, correr da polícia e não querer fazer o que “a rádio manda”.
G R O W (WILLOW & Avril Lavigne feat. Travis Barker)
Essa facilmente é a música que mais grita 2004 no álbum! Com certeza entraria na trilha sonora de The OC ou até como abertura de Malhação (saudades). Uma das grandes inspirações que é possível escutar durante o álbum é Avril Lavigne, então nada mais justo do que a própria participar da faixa, ao lado também, de Travis Barker na bateria. E quando eu falo que tudo tem a cara do início dos anos 2000, é realmente tudo! Desde os acordes pesados de guitarra, a bateria frenética, e principalmente a forma que os vocais foram executados. Destaco em especial o refrão que é simples, mas consegue emula aquele coro clássico com a repetição de uma palavra, nesse caso “Grow”, que escutamos bastante em músicas do pop-punk e rock-pop 2000, bem a cara de Blink-182. Além, é claro, do encontro das vozes de WILLOW com Avril, que foi um grande match e não vou mentir…queria ver mais disso!
¡BREAKOUT! feat. Cherry Glazerr
Fechando o disco da melhor forma, nessa faixa a energia fica lá em cima, e literalmente dá vontade de sair chutando tudo! Trazendo mais uma vez uma combinação mais pesada de guitarras, que junto com os vocais quase berrados, criam uma das músicas mais divertidas e energéticas do disco – que me lembraram até um pouco do Arctic Monkeys no primeiro disco. Combinando com a composição, a música capta toda a energia e rebeldia de WILLOW e Cherry Glazer, que juntos falam sobre sair de um momento tão difícil, para finalmente viver livremente, sem a opinião e permissão de ninguém.
Considerações finais
No final, o nome “lately I feel EVERYTHING” traduz exatamente a proposta do álbum: desencapsular um turbilhão de sentimentos. A raiva, tristeza, rebeldia e empolgação estão presentes no decorrer de todo o álbum, envoltas em produções de rock, pop-punk e post punk, mas de uma forma ainda divertida e leve. O repertório se torna ainda mais rico quando é transportado para as músicas, não só sentimentos que todos podem se identificar, mas a vivência da cantora e a sua geração. Livre de qualquer rótulo que a indústria queira colocar, WILLOW pode estar fazendo história na nossa frente, ao ocupar esse espaço na indústria da música e a reverberação que tem causado. Se antes ela era excluída por amar rock, agora WILLOW não só canta com seus ídolos, mas como também prova que é uma grande rockstar, que todos amariam passar o recreio juntos.