Por Tarcisio Boquady – Quebrando a tradição de ser um festival bienal, o Universo Paralello pegou todos de surpresa na última semana ao anunciar que sua 17ª edição irá acontecer ainda esse ano: de 27 de dezembro de 2023 a 3 de janeiro de 2024. O Tracklist esteve presente na última edição – que aconteceu na virada deste ano – e compartilha um pouco da experiência para quem sabe inspirar novos aventureiros a curtirem uma virada de ano inesquecível na Bahia. Confira a seguir!
Como foi o Universo Paralello #16?
O festival não é apenas o maior festival de cultura alternativa da América Latina – é uma experiência estilo filme “Avatar” em que, por 7 dias, você vive uma nova realidade totalmente regida por arte, música, natureza e encontros. É como viver um sonho lúcido em que você desperta numa vila fantástica toda feita com estruturas de bambu, integrada com a natureza da praia de Pratigi, localizada numa reserva ambiental na costa do Dendê, na Bahia.
Com público de quase 30 mil pessoas e mais de 1.000 artistas, o festival contou com 9 palcos com 24 horas de programação ininterruptas, além da zona de preservação das culturas, artes visuais, performáticas e circenses, oficinas, palestras e terapias holísticas chamada Circulou.
Cada zona tem seu estilo, sua vibração, mas juntos criam uma experiência plural única, extraordinária e muito transformadora. Essa edição de retomada após a pandemia comprovou a consolidação desse festival e seu formato que possui mais de 20 anos de história e ocorre em constante expansão e amadurecimento.
Não dá para escrever sobre o evento falando apenas dos destaques nas atrações musicais – que existem e muitos! Mas é um festival que vai além: proporciona um verdadeiro intercâmbio entre diversas culturas e expressividades sonoras e artísticas, compostas de atrações internacionais, nacionais e tradicionais da própria região baiana.
Dentre as experiências da última edição, estavam uma prática de kundalini yoga no Circulou, uma oficina de malabarismo dragon flow com Gustavo Ollitta, meditar com um grupo de Diksha, partir para o main floor para ver atrações como Vegas ou Neelix e interagir com um grupo de performers fantasiados do grupo Maya Lila.
Mais atividades foram realizadas no evento – dentre elas, relaxar dançando no Chill Out depois do almoço, ver uma exposição de arte na galeria do Circulou com direito à mostra de vídeos em realidade virtual, assistir a uma palestra sobre cultivo de ervas medicinais, ver um cortejo do grupo de Zambiapunga de Nilo Peçanha, assistir a uma roda de capoeira ou tambor de comunidades quilombolas da região, ver um grupo afro indígena futurista de vogue ballroom, curtir um pôr do sol com Bhaskar, Monolink, Vintage Culture, Illusionize ou Who Made Who no palco UP Club na praia.
Os presentes também puderam assistir a shows de artistas como Céu, Tulipa Ruiz, Chico César – que fez um agradecimento especial à Juliette ao cantar ”Deus Me Proteja” -, Marcelo Falcão e Otto no Palco Paralello à noite, e ainda ir até o chão com o baile black O Pente direto de Salvador. Também foi possível curtir uma pistinha com Cashu, da Mamba Negra, ou Tessuto, da Capslock – famosos coletivos paulistanos na novíssima pista Synkro, depois sentir um pouco do som dark da pista Tropikalien.
Há quem queira descansar para o dia seguinte, há quem opte por não dormir e ver o espetáculo que é o amanhecer na praia. Porém, é recomendado repousar e programar um despertador para ver o nascer do sol com meditação no Circulou ou já curtir um psytrance na praia como a 303 ou um house na Alternativa ou ainda a pista Pirata – a qual você pode chegar com um pendrive e mandar um djset por se tratar de um palco aberto. Ufa!
É realmente impressionante a quantidade de coisas que você pode fazer e curtir num único dia de festival. Muita gente fica até perdida com tanta atração, mas uma coisa é fato: não tem como perder a virada do ano, comandada por Avalon, no Mainfloor – em que todas as outras pistas desligam por uma hora – e também o show do Alok, cheio de lasers e fogos de artifício, sempre com um set especial sabendo que o público do festival é bastante exigente no que tange à música eletrônica.
Um dos momentos mais emocionantes é ver toda a família Petrillo – realizadora do festival – reunida durante a apresentação do Lógica. O Lógica é um duo formado pelos irmãos gêmeos Alok e Bhaskar que acontece apenas durante o festival, como uma forma de honrar as raízes que levaram ambos à carreira de sucesso internacional que todos conhecem. Ambos começaram, quando ainda crianças, tocando juntos no festival, guiados pelos seus pais, os djs Swarup (Juarez Petrillo) e Ekanta. É um momento de pura nostalgia e celebração da memória viva desses 20 anos de história do festival.
A décima sexta edição do festival ganhou um tom mais especial por trazer a ancestralidade como tema, dando muito destaque e espaço à presença de indígenas – que sempre estiveram presentes no festival. Foi possível participar de alguns rituais de cura e até casamentos.
Em conversa com Alok, ele falou sobre a importância de escutarmos e valorizarmos a cultura dos povos indígenas pois eles são os que melhor sabem cuidar da floresta, possuem as sabedorias da floresta e, diante de tanto desmatamento e degradação, é urgente que escutemos e aprendamos com eles para conseguirmos preservar o meio ambiente, nos conectarmos com a natureza para manter a qualidade de vida no planeta. Aproveitando esse gancho, Alok confirmou que o projeto que gravou com indígenas “O Futuro é Ancestral” sai ainda no primeiro semestre deste ano – que além de um álbum, também contará com um documentário.
O festival se faz grandioso por uma proposta autêntica abrangente, inclusiva e plural em solo brasileiro. Demanda força e coragem para encarar os 7 dias, mas vale a pena diante de uma experiência imersiva e singular.