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Review: XYLØ faz debut confortável, mas sem monotonia em “Unamerican Beauty”

XYLØ em "Unamerican Beauty"

Nesta sexta-feira (10), XYLØ lançou seu álbum de estreia, “Unamerican Beauty”. Com influências do indie pop e synth pop, a cantora, cujo nome de batismo é Paige Duddy, fez seu debut oficial como solista após o rompimento com seu duo (e também irmão), Chase Duddy.

XYLØ não é exatamente o que chamamos de one-hit wonder. Seu trabalho mais conhecido é, provavelmente, o EP “America” (2016), no qual é possível ter uma ideia bem clara da proposta musical da artista – isso, ainda enquanto dupla de Chase. Mais recentemente, em 2019, “Yes & No”, somente a faixa-título contabiliza quase 36 milhões de streams no Spotify.

No entanto, beirando a psicodelia e a melancolia que relembra os trabalhos mais antigos de Tame Impala e Tove Lo, XYLØ decidiu trazer em “Unamerican Beauty” o que imprime como sua verdadeira identidade, totalmente descolada da realidade pop atual. Sem pressa ou qualquer pretensão, o álbum se preocupa apenas em ser conciso e direto, com começo, meio e fim.

XYLO GROOVER
XYLØ faz sua estreia como cantora solo em “unamerican beauty”, lançado nessa sexta-feira | Foto: Divulgação

“Unamerican Beauty”: Produção e conceito do álbum

Em tradução livre, o álbum pode ser interpretado como “beleza nada americana”, o que já pode explicar muito da sensação que temos nas letras. XYLØ não poupa em nada as descrições bem feitas sobre sentir-se totalmente deslocada no mundo – sem conseguir relacionar bem com os outros, uma total apatia, e até mesmo recorrer à criaturas extraterrestres para conseguir socializar.

Essa viagem é própria e ultrapessoal, e pode ser até meio difícil para o ouvinte colocar-se em seu lugar – ou totalmente o contrário: somos capazes de entender perfeitamente. Tudo isso pode ser encarado também contra o conceito da beleza americana, das relações superficiais e o quão “plástico” tudo se tornou.

Em fevereiro deste ano, XYLØ já havia contado para o Tracklist sobre a relação entre seus antigos trabalhos e seu álbum de estreia. Um ponto em comum é a produção de Lee Newell, que a ajuda a encontrar sua própria voz e amplificá-la para aqueles que se sentem como outsiders. Isso fica evidente em faixas como “family politics” e “starfucker”.

Highlights

Além da própria faixa “unamerican beauty” e “aliens” (o primeiro single desse projeto), “something to cry about” é uma excelente canção que exalta, em até certo alto astral, a mágoa de querer ser amado. Essa é uma das músicas com pano de fundo mais psicodélico, e com influências do sintético e sensual Børns. Fica evidente, pelo menos aqui, que ambos bebem da mesma fonte.

Para quem busca algo mais empolgante, o álbum não é recheado de faixas eletrizantes. No entanto, é possível ter algo semelhante a isso com “sugar free rush”, que nos deixa mais familiarizados com outras canções da discografia da cantora. Ela mistura elementos eletrônicos de maneira mais orgânica, com um riff em seu refrão que é facilmente viciante.

Essa mesma experimentação é levada para a faixa “home video”, onde já conseguimos ouvir mais instrumentos como guitarras e baixos, mas com muita distorção. É a faixa que dá início ao fim, criando o cenário macabro – que é exatamente como a cantora enxerga seu mundo. “don’t let them change you babygirl” também carrega esse receio de acabar se “vendendo” a esse mundo superficial, lutando contra o impulso de, a qualquer custo, crescer rápido demais e sofrer por isso. Neste ponto, entendemos como se XYLØ falasse com uma versão mais jovem e ingênua de si mesma, numa lullaby confessional.

Por fim, “driving (sonata 2011)” retoma o ritmo com um house fino para encerrar a jornada de “unamerican beauty”. Aqui, XYLØ despede-se do ouvinte também de forma pessoal, criando um cenário no qual repensa suas atitudes, erros e acertos até esse momento, e como não há como voltar atrás. Então, deixa sua mensagem final: não sei quando vou chegar, então vou continuar dirigindo.

Conclusão: “Unamerican Beauty” investe mais em qualidade do que quantidade

De maneira muito simplificada, “Unamerican Beauty” será lembrado posteriormente como um dos trabalhos mais interessantes de XYLØ, embora não algo de fato memorável (como “Afterlife”, do EP “America”). Porém, fica evidente que a cantora buscou mais qualidade e coesão entre as faixas do que quantidade de hits. 

Existe também o mérito de relatar histórias (e críticas) tão pessoais e que, ao mesmo tempo, que conseguimos relacionar com nossa própria vivência. E, além disso, é importante ressaltar que essa lacuna pode ser facilmente preenchido em álbuns futuros, dando espaço para o crescimento e amadurecimento da cantora enquanto artista solo.

Nota: 8,5/10

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