“Back to Black”, o derradeiro álbum de Amy Winehouse, completa 10 anos hoje (27). Ainda dói falar dela e a memória é recente. É difícil lidar com a perda de uma artista como Amy Winehouse, no auge da carreira e aos 27 anos. Ainda mais difícil quando cogitamos se tudo poderia ser diferente… Se o ex-marido, Blake Fielder-Civil (com o qual manteve um relacionamento abusivo) jamais a tivesse conhecido ou a introduzido às drogas para depois deixá-la; se o pai Mitchell Winehouse (ele contesta essa versão, mas é assim que é retratado no documentário de Asif Kapadia) fosse mais presente na vida da cantora, observasse que ela não estava em condições de fazer turnês; e também não vamos esquecer: se a mídia não tivesse se aproveitado de cada queda para fazer uma manchete e muitos “fãs” não estivessem esperando por isso ao pagar um ingresso para vê-la ao vivo.
Ao contrário de “Frank”, no qual Amy revelava sua faceta mais animada, “Back to Black” representa a queda vertiginosa da cantora (não musicalmente, claro). Ele desnuda a faceta mais triste, sombria da artista, logo após o rompimento com Blake. “Rehab” é a música de abertura, na qual ela deixa claro que não quer ser internada, e que, segundo o pai, surgiu no meio de uma conversa dela com o produtor Mark Ronson (bom, pelo menos, o conhecido “no,no.no) . Em seguida, vamos para “You Know I’m No Good”, onde ela afirma que é “problema” e chora por amor no chão da cozinha.
“Me & Mr. Jones” é sobre o rapper Nas, com quem Amy teve um breve romance. “Just Friends” é uma música sobre amizade colorida e também chega a mencionar a bebida, seu grande vício. “Back to Black”, faixa-título do disco, é a canção que mais simboliza a atmosfera densa do material, na qual a artista está em luto (não literalmente) pela perda de um amor, que preferiu ficar com outra pessoa ( no caso, a música retrata o triângulo com Sarah Aspin, namorada de Brake após o término). “Love is a Losing Game” é sobre a descrença total no “amor”; “Tears Dry On Their Own” expressa sofrimento pela despedida de um amor, é tipo um complemento da faixa-título. “Wake Up Alone” também é triste, mas acena para a recomposição depois da perda (apesar de expressar que ela está bem somente durante o dia, quando não bebe e limpa a casa). Em “Some Unholy War”, Amy se dispõe a lutar ao lado de seu homem na guerra; “He Can Only Hold Her” mostra o estado de vulnerabilidade total no qual a personagem feminina da música se encontra, no qual só pode ser abraçada (embora, preferisse que o amado a beijasse); “Addicted” fecha o álbum, uma música na qual a cantora reclama que o namorado da amiga fuma toda a sua maconha; de longe a mais leve de todo o material.
Referência para artistas como Adele, Lana Del Rey, Sam Smith e uma lista gigantesca, Amy morreu diante dos nossos olhos e seus momentos de vulnerabilidade foram acompanhados por olhos sedentos de paparazzis. E talvez, isso nos faça sentir meio juízes, a ponto de avaliar as circunstâncias que levaram ao fatídico fim da cantora. Mas, será que conhecemos todas as facetas de Amy? O documentário de Kapadia é bom ao recuperar imagens antigas, nos mostrar a diva do soul antes do boom de sua carreira, como naquele vídeo em que canta “Happy birthday to you” na adolescência com o já famigerado vozeirão que a caracterizou. Podemos sentir e nos impactar novamente. Mas também sabemos que só mostra um lado, uma vez que é impossível colocar toda a vida de uma pessoa dentro de um filme. O pai não gostou e alega que foi retratado da pior forma possível, como culpado pelo que aconteceu à filha.
“Foi horrível. Eu disse a eles que eles eram uma desgraça. Vocês devem ter vergonha de si mesmos. Tiveram uma oportunidade de fazer um maravilhoso filme e fizeram isso (Mitch Winehouse em entrevista ao The Guardian)”
O ex-marido também não assume a culpa (mas quem assumiria?).
“Eu não acho que eu arruinei ela. Acho que nos encontramos e algumas pessoas tem que entender que ela teve outros vícios antes de me conhecer. Ela não era feliz, uma jovem mulher bem ajustada… e eu acho desrespeitoso dizer que eu era um fantoche maquiavélico. Eu ainda amo alguém que não está aqui. Eu penso nela todos os dias. ( Blake Fielder-Civil em entrevista)”
Talvez, nunca saberemos ao certo tudo o que aconteceu. Mas, a verdade é que através do seu legado, Amy alcançou a imortalidade. É pelas canções de “Back to Black”, que lhe rendeu uma longa turnê pelo mundo, que a cantora alcançou o maior prestígio. Mas, o seu maior prestígio – para nossa tristeza – também foi responsável pela sua queda.