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#TBTrack: Os 12 anos de “The Family Jewels”, de MARINA

Álbum é marcado por composições pop e dançantes com um tom de crítica social

Foto: Divulgação

“Oh, my, god, you look just like Shakira/ No, no, you’re Catherine Zeta/ Actually, my name’s Marina”. Em um dos trechos mais populares do catálogo de Marina (ex And The Diamonds), a música consegue ser sarcástica, divertida e ao mesmo tempo fazer um certo comentário social sobre a indústria da música. A faixa em questão é “Hollywood“, uma das músicas mais populares do seu primeiro álbum de estúdio, o “The Family Jewels”.

Além de ser memorável na carreira, o trecho representa exatamente a voz artística tão característica da cantora britânica, que mais tarde se tornou a sua marca registrada: composições pop e dançantes, com um tom sarcástico e repleto de comentários sociais.

Em 15 de fevereiro de 2010, há 12 anos, o mundo teve o primeiro contato com o repertório que mudaria o rumo da vida de Marina para sempre, mostrando que estava longe de ser uma artista passageira e que o pop ainda estava vivíssimo! Então, nada melhor que um #TBTrack para relembrar e celebrar o álbum de estreia de MARINA, o “The Family Jewels”. Vamos lá?

A onda pop feminina em 2010

Antes de falar do álbum em si é importante observar o contexto do que estava acontecendo na indústria da música naquela época. Ali pelo começo de 2010 era um momento bem interessante na música. Em especial no pop, que passava por um período efervescente de reformulação e surgimento de novos nomes. Afinal, foi nessa época que tivemos o “Teenage Dream”, da Katy Perry. O “The Fame” da Lady Gaga estava nos charts. Florence and The Machine lançava o primeiro disco, “Lugs”. Mais tarde nesse mesmo ano “Ellie Goulding” estreava com o “Lights”. Sem contar com Lily Allen bombando em “It’s Not Me, It’s You”.

Seja no mainstream ou no alternativo, já era perceptível essa movimentação e boa recepção do público com o pop, em especial com as artistas femininas. E a chegada do “The Family Jewels” não foi diferente, em especial em sua terra natal, no Reino Unido. Era o momento em que as portas estavam começando a se abrir mais. Não à toa, o “The Family Jewels” estreou em #5 nos charts britânicos. O que vale até ressaltar que dois anos mais tarde chegaria o álbum “Born To Die”, de Lana Del Rey, que furaria toda essa bolha e juntaria o alternativo com o mainstream.

A liberdade do “The Family Jewels”

Se hoje Marina é conhecida por mesclar o seu lado político e social em canções pop, deve-se muito ao exercício que a britânica começou a executar em “The Family Jewels”. Menos explícito e mais focado nas alegorias criadas para a narrativa, esse é um álbum que fala sobre consumismo, o modelo de vida americano, sexualidade e poder feminino. Temas esses que não soam nem um pouco estranhos para o que a cantora lança até hoje.

Provocativa e com senso de humor, escutando hoje consigo identificar várias inspirações de cantoras que antecederam Marina e ajudaram a construir a sonoridade desse álbum. Como Kate Bush, em sua atitude. Os vocais mais quebrados e irônicos lembram o deboche clássico de Gwen Stefani, mas também sem perder o lado mais “esquisito” e fora da curva, a la Björk.

Porém, o mais interessante de tudo isso é que ainda que Marina usassem dessas referências, diretamente ou não, durante o álbum nada disso se tornou maior do que a própria artista. Ainda que iniciante na época, Marina já conseguia deixar sua própria marca e personalidade em cada verso, melodia e principalmente estética. Algo que nem todo artista alcança em tão pouco tempo assim!

E algo que também fica bem claro durante as 13 faixas do álbum é a liberdade de Marina. Não há aquela pressão do segundo ou terceiro álbum, que muitas vezes até fazem como que o próprio artista se perca. Mas esse senso de “descompromisso” veste bem à britânica, que mistura o pop, quase de musical, com produções pop rock, experimental e com composições afiadas apontando o melhor e pior do mundo capitalista.

Os principais destaques do “The Family Jewels”

A era desse álbum começou com o single “Mowgli’s Road”, ainda em 2009. Mesmo sendo a sonoridade menos comercial para época, hoje pelo menos entre os fãs ainda é muito amada. Misturando solos de guitarra, distorções vocais e backing vocals interessantes, a música desperta a “esquisitice” e experimentalismo que representa muito bem o álbum como um todo. Foi uma escolha pouco óbvia mas que cumpre o seu objetivo de apresentar o diferencial da artista.

“Oh No!” e “Hollywood” são as mais comerciais com bastante electro pop e synth, mas também as minhas favoritas do álbum até hoje. Elas trazem toda aquela composição eloquente com comentários comportamentais da sociedade de uma forma tão divertida, sarcástica e dançante. Esses são verdadeiros clássicos no catálogo da britânica, e que ainda hoje permanecem na setlist de sua atual turnê. “Hollywood” foi um sucesso, tendo o seu maior pique no chart UK na posição #12.

Por último, mas não menos importante, “Obsession” também já é um blueprint do tipo de baladas existencialistas que Marina produz tão bem. Até hoje todos os seus álbuns tem uma: “Teen Idle” (Electra Heart), “Happy” (Froot), “Handmade Heave” (Love+Fear), “Happy Loner” (Ancient Dream In A Modern Land). Por mais que a música não tenha obtido um sucesso comercial na época, atrelada a um videoclipe criativo, o single chamou a atenção do público, incluindo Kanye West.

A força do TikTok e o legado de “The Family Jewels”

Sabemos que mais do que nunca que hoje o TikTok dita o que a musica faz ou deixa de fazer. Não é estranho também algumas músicas mais antigas serem resgatadas e ganharem uma outra vida no aplicativo.

Não foi diferente com o “The Family Jewels”“Hermit the Frog” atualmente é a mais reproduzida no perfil da cantora, contabilizado mais de 72 mil vídeos, seguida por “Are You Satisfied?”, com cerca de 54 mil, e “Oh No!”, com mais de 28 mil de vídeos. Tudo isso prova mais uma vez que o álbum envelheceu como um bom vinho!

No fim, Marina se mostrou logo de cara uma artista liberta e com uma visão certeira de como queria se portar dentro da indústria. O “The Family Jewels” fez parte do movimento que explodiu a bolha entre o mainstream e o indie, contribuindo na dominação feminina do pop, que estava começando a retornar naquela época.

Por ressoar tão bem até hoje e ver que suas músicas ainda fazem sentido com a passagem do tempo, o repertório construído há 12 anos só comprova a qualidade e consistência do ofício artístico de Marina. O que não só fez com que ela criasse um público tão fiel, mas que independente de charts ou vendas, a qualidade de seu primeiro disco foi essencial para construir uma expansividade da sua própria verdade, liberdade e grandiosidade na carreira até hoje.

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