Não há dúvidas de que a voz de “Look at Her Now” é uma verdadeira estrela. Selena Gomez, de apenas 24 anos, passou boa parte de sua vida sob os holofotes da fama. Ela é a pessoa mais popular do Instagram, com 113 milhões de seguidores. Contudo, em entrevista à revista The Newsette, a cantora contou que manter sua saúde mental em dia nem sempre foi fácil.
Debater e conscientizar sobre saúde mental tem sido uma das missões de Selena Gomez durante os últimos dois anos. A artista, que precisou se afastar das redes sociais por alguns momentos, revelou que a mídia distorceu esse assunto.
“Eu tive que desistir das redes sociais. Mas fiquei com tanta raiva por minha história ter sido distorcida em tantas coisas diferentes. A primeira vez que postei [após a pausa], pensei, ‘Eu sou dona minha própria história, então se você não ouvir de mim, então não é verdade.’ Eu fui procurar ajuda? Sim eu fui. Mas eu não tenho vergonha. Eu me sinto melhor e sinto que posso entender muitas coisas agora”, afirmou Selena.
Redes sociais, saúde mental e o corpo perfeito
Sabemos que as redes sociais são uma via de mão dupla e, da mesma forma que carregam um artista à ascensão, também o torna mais vulnerável a inúmeras críticas e assédio. Esses são alguns dos motivos pelos quais algumas estrelas, como Selena Gomez, abandonam as plataformas em detrimento de sua saúde mental.
O pop tem empoderado as mulheres mais do que nunca e, principalmente nesse mercado, são elas que detêm maior atenção. Seja por terem carreiras extremamente sólidas e que rompem as barreiras geográficas (como Madonna, Britney Spears, Beyoncé e Shakira), seja por assumirem uma posição política de contraponto (como Lady Gaga nas últimas eleições presidenciais dos EUA e Anitta — mesmo que depois de muito pressionada pelos seus fãs).
Contudo, é fato afirmar que elas, ainda assim, são altamente atingidas pelo machismo que está enraizado nas estruturas mais sólidas da nossa sociedade. São impostos padrões de beleza quase inalcançáveis: mulheres com corpos magros, cabelos lisos, e — preferencialmente — brancas. Tudo isso é imensamente potencializado pelas redes sociais.
Três artistas mulheres que também foram vítimas dos juízes da vida alheia
1. Demi Lovato
Quem acompanha o mundo pop sabe que Demi está no meio artístico desde muito pequena. A atriz e cantora lutou contra a anorexia, a bulimia, abuso de substâncias, automutilação e transtorno bipolar.
Apesar de receber muito apoio de seus fãs nas redes sociais, nem tudo são flores. Sempre que posta algo em seu Instagram relacionado a seu corpo e a se sentir bem, é bombardeada de críticas e comentários negativos.
A cantora já chegou a bater de frente com comentários desse tipo. Demi Lovato revidou em um troll do Instagram que sugeriu que ela precisa perder peso. Depois de ser marcada em um post mostrando uma foto dela vestindo roupas de academia com a mensagem “Ei Demi, me mande uma DM para que possamos discutir um plano de dieta para você”, a cantora respondeu: “Eu estou escolhendo não fazer dieta e voltar a ter comportamentos pouco saudáveis, com o risco de perder minha sanidade ou minha saúde mental, mas obrigada pela oferta! Super doce”.
“Ficar atrás de um computador dá às pessoas uma sensação de anonimato, mas todos precisam perceber que as palavras – mesmo as que escrevem online – têm um forte poder de ferir as pessoas”, disse a cantora em entrevista.
Um pouco antes de sua última recaída, Demi parece ter deixado o medo de lado e começado a falar sobre saúde mental e sobre pedir ajuda. Tudo isso ficou muito claro na música “Sober”, lançada em 2018. Na canção, a cantora pede desculpas à família e aos amigos por não estar mais sóbria.
Ela se tornou uma das porta-vozes da saúde mental e incentiva que mais pessoas falem a respeito na campanha “Be Vocal: Speak Up for Mental Health” (Expresse-se: Fale pela Saúde Mental).
2. Jesy Nelson
Jesy Nelson da Little Mix revelou em um documentário lançado pela BBC Three que tentou se suicidar devido o bullying online que sofria por causa de sua aparência depois de aparecer no X Factor. No documentário, a cantora também afirma que os comentários negativos afetaram sua mãe, sua irmã, suas amigas da banda e seus relacionamentos.
“Eu tinha cerca de cem mensagens do Facebook na minha caixa de entrada, e a primeira que apareceu foi de um homem qualquer, dizendo: ‘Você é a coisa mais feia que eu já vi na minha vida, você não merece estar nesta banda de garotas . Você merece morrer’,” disse a cantora.
“Foi a pior época da minha vida”, afirmou ela. “O mundo inteiro tinha uma opinião sobre mim, e não eram coisas boas. Eu não era conhecida como uma das cantoras do Little Mix. Eu era conhecida como a gorda e feia. Meu cérebro começou a acreditar em tudo o que as pessoas estavam dizendo sobre mim”, continuou.
A cantora percebeu, então, que precisava buscar ajuda. Ela diz que a ideia de realizar o documentário não foi apenas para ajudar outras pessoas que passam por situações parecidas, mas também para tirar o peso desse segredo de suas costas. “O que eu não percebia era que não falar sobre isso me fazia pior”, disse Jesy.
3. Lizzo
A voz de “Truth Hurts” também foi vítima do cyberbullying. No fim do ano passado, Boyce Watkins, um autor e economista americano foi ao seu perfil do Twitter atribuir o sucesso da cantora ao seu peso.
“Lizzo é popular porque há uma epidemia de obesidade na América. Em vez de encorajar as pessoas a fazerem melhor, estamos simplesmente mentindo para elas e dizendo que estão bem do jeito que estão. Infelizmente, muitas dessas pessoas estão morrendo de diabetes e doenças cardíacas”, afirmou Watkins.
A cantora rapidamente respondeu o comentário: “Eu sou popular porque escrevo músicas boas, sou talentosa e faço shows com muita energia e uma hora e meia de muito amor. A única pessoa que precisa melhorar é você. Tire meu nome da sua boca e se olhe no espelho antes de falar sobre mim.”
“Aqui está a atenção que você queria”, concluiu Lizzo. Apenas com esse tweet, a dona de “Good as Hell” acumulou quase 400 mil curtidas e 56 mil respostas.
Lizzo é uma das principais defensoras do autocuidado. Ela recebe muitos elogios por abraçar, aceitar e exibir suas curvas dentro e fora do palco e é uma das poucas cantoras que faz isso em uma indústria que atribui um valor mais baixo em comparação àquelas que não seguem os padrões que são impostos.
Billie Eilish também se pronuncia
Em maio deste ano, Billie Eilish publicou um vídeo em forma de protesto no seu canal do YouTube. Nele, a cantora traz à tona o debate sobre imposição de padrões ideais de beleza e a sexualização do corpo feminino.
Intitulado “NOT MY RESPONSABILITY” (Não é minha responsabilidade, em tradução livre), o curta conta com um poema, escrito e recitado por Billie:
“Você gostaria que eu fosse menor? Mais fraca? Mais frágil? Mais alta? Gostaria que eu ficasse quieta? Meus ombros te provocam? Meus seios? Eu sou a minha barriga? Meus quadris? O corpo com o qual eu nasci não é o que você queria? Se eu vestir o que é confortável, não sou mulher. Se eu mostrar algumas camadas, sou uma vagabunda. Mesmo que você ainda não tenha visto meu corpo, você me julga, e me julga por isso. Por que? Fazemos suposições sobre as pessoas baseadas em seu tamanho. Nós decidimos quem eles são. Nós decidimos o que eles valem. Se eu visto mais, se eu visto menos, quem decide o que isso me faz? O que isso significa? Meu valor é baseado apenas na sua percepção? Ou sua opinião sobre mim não é minha responsabilidade?”
O que fazer, afinal?
Sabemos que a sociedade é carregada de imposições e exigências, quando se trata do corpo das mulheres, para que todas estejam dentro do padrão pré-determinado. Isso é reforçado pela indústria e potencializado pelas redes sociais, bem como a objetificação e a sexualização dos corpos.
Todos os dias somos bombardeados com fotos e vídeos de corpos perfeitos e ideais. O fato é que as chances de conseguirmos esse estereótipo tão almejado são quase nulas. Isso gera pessoas cada vez mais frustradas, que se submetem a inúmeros processos estéticos e dietas sem acompanhamento apenas para se tornarem aceitas.
No final, nada do que fizermos vai estar bom aos olhos da sociedade, que vai procurar algo para criticar ou inventará um novo padrão. O corpo perfeito não existe. O que existe é o corpo que cada um acha melhor para si.
Por isso, precisamos ser menos duros conosco, precisamos nos libertar cada vez mais desses padrões e dessa visão tão limitada de beleza. Contudo, esse processo não é fácil. Leva tempo, mas é libertador.
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