in , ,

Opinião: A febre dos reality shows: o que nos faz gostar deles?

Foto: Divulgação

Do último ano para cá, você com certeza já se encontrou assistindo e engajado com pelo menos um reality show. Não importa do que se trata: pode ser de culinária, de relacionamentos ou até mesmo de k-pop. O que importa é que eles nos abraçaram de vez no último ano e conseguem captar toda a nossa atenção em algum momento.

Nos últimos dois anos, a cada final de “Big Brother Brasil”, um recorde era batido como a final mais votada e até mesmo a edição mais assistida. Indo além, cria-se uma narrativa mais forte nos personagens, podendo categorizá-los como um próprio vilão ou como mocinho – como se isso fosse fazer algum grande sentido para o mundo.

Mas quais teorias podem explicar o porquê de os reality shows terem caído tanto nos nossos gostos?

Pandemia, “The Circle” e reality shows

Viver uma pandemia em pleno século XXI e praticar isolamento social em meio ao caos foi (e tem sido) um choque. Em busca de um pouco de entretenimento e distração diante de uma tragédia, não foi difícil encontrar pessoas que se rendessem aos realities shows em 2020.

Um dos programas que acertou em cheio (e sem querer) foi o “The Circle“, que acabou sendo um dos primeiros da nova leva repaginada de realities. Ele estreou em 11 de março de 2020, ou seja, ali bem perto do início do lockdown no Brasil e no mundo.

O conceito era bastante parecido com o que estávamos vivendo: diferente de outros programas em que todos ficam juntos em um mesmo local, os participantes estavam separados por quartos e se comunicando apenas por uma espécie de WhatsApp do programa. Isso nos fez acreditar brevemente que era possível se comunicar e se divertir dessa forma por um curto período de tempo (que durou mais de um ano).

Também ficamos vidrados em realities que mostravam contato físico, mesmo que as experiências vividas nesses programas não correspondessem à nossa realidade ou às nossas preferências. Olhando para o lado de programas como “Casamento às Cegas”, “De Férias com Ex”, “Soltos em Floripa” e “Rio Shore”, temos a sensação de talvez querermos viver experiências, mas não necessariamente na prática. Ficar isolado com pessoas que você não conhece, inclusive com ex? Casar com alguém que você conheceu há um mês? São experiências peculiares e que teriam possivelmente grandes impactos nas nossas vidas. Ainda assim, desejaríamos ter um gostinho de como seria essa energia caótica. Por isso, é ótimo observar o máximo possível de outra pessoa vivendo isso.

Reality shows têm virado febre
Foto: Divulgação/Netflix

Leia também: 5 casais que foram cortados de “Casamento às Cegas Brasil”

De qualquer forma, é impossível não atrelar vários fatores a termos aprendido a gostar tanto de reality show à pandemia. Estávamos trancados em casa e lógico que queríamos ter um gostinho de viver e fazer coisas diferentes. Logo, ver aquilo vivenciado por pessoas que às vezes se pareciam conosco nos deixava um pouco anestesiados e com esperanças de que quando tudo voltasse ao normal.

Assunto entre amigos e a identificação

Seja sincero(a): quando você vê muitas pessoas do seu círculo comum assistindo e comentando alguma coisa, é óbvio que você não quer estar de fora, não é?

Isso foi muito nítido principalmente durante o período de quarentena e isolamento social, quando não se vivia muita coisa diferente – logo, o que rendesse assunto estava valendo.

Através disso, também há a formação de novos grupos, mesmo que ninguém próximo assista ou consuma a mesma coisa que você. Um exemplo que consolida isso são as redes sociais, através do mecanismo de buscas. Vai dizer que você nunca assistiu a uma série que ninguém além de você conhecia assistia, e você jogou na search do Twitter para ver o que estavam falando e criar uma possível interação?

Uma coisa que também acaba prendendo as pessoas nos realities é a questão de identificação, tanto entre os participantes quanto a dos espectadores, que podem se ver imersos naquele universo, até mesmo defendendo tal participante por conta de suas afinidades. Aconteceu comigo em “Casamento às Cegas” quando eu menos esperava: comecei achando uma das participantes chatas, mas, no fim, acabei criando apego por ela, não fazendo ideia do porquê. Quando vi, ela tinha mais a ver comigo do que eu achava que tivesse.

A fama que pode (ou não) vir após os reality shows

Algo que tem sido bastante recente e que tem dado grande resultado é a fama que vem aos participantes após os realities. Quase sempre os participantes ganham grande público online, podendo viver por um bom tempo (na pior das hipóteses, temporário) do alcance na internet. Quem nunca cogitou largar do emprego ou da faculdade e apenas viver da atenção e do dinheiro de virar uma subcelebrity em tempos de Instagram?

No entanto, o efeito contrário também pode surtir: a destruição da carreira antes mesmo dela chegar ou mesmo com ela estabelecida. Ao expor tanto o verdadeiro self, pode acabar acontecendo o cancelamento – injusta ou justamente. De celebridades, é o caso de Nego do Borel e Karol Conká. A volta que Karol Conká deu por cima é também algo interessante a observar, mas isso fica para outro post.

Novas narrativas e pensamentos acerca de reality show

Realities estão atualmente longe de ainda caírem no discurso de “‘é apenas uma forma de alienação” – pelo menos por enquanto por pessoas da nossa bolha, de mesma realidade e idades próximas. É uma forma de enxergar a realidade de diferentes formas, inclusive no aspecto político e social.

Temos o exemplo da questão do feminismo apresentado no BBB do ano passado (bem rasamente, mas, já é algo), quando o grupo de meninas começou a falar sobre sororidade e seu significado, junto do movimento de decidirem não votarem em mulheres para o paredão; já na edição de 2021, houve o caso de racismo entre o Rodolffo e João, que foi amplamente falado dentro da casa tanto por João quanto por Camilla, assim como levantou diversos debates internet afora.

Ou seja: os realities podem até servir como forma de diversão e alienação, mas, se pararmos para refletir, tudo que uma pessoa média consume midiaticamente é um tipo de alienação. De forma que quase tudo que nos é disposto como uma forma de entretenimento e diversão, independente do formato, nos distrai e tira nosso foco dos eventos pesados que acontecem na vida real – e tá tudo certo. Nem tudo é feito para nos fazer refletir, é preciso ter momentos de alívio.

Eles dão também espaços para formação de novos talentos e de fandoms: de exemplo inicial à Juliette, temos a Ana Clara da edição do BBB 18, e, ainda artistas que saem ou têm suas carreiras potencializadas, como “The Voice”, “Masked Singer” e até mesmo o “Girls Planet 999“, que tem como intuito formar girlgroups de k-pop unindo meninas das Coreias, China e Japão.

Agora, nos resta esperar qual vai ser o próximo reality show do momento, e observar se essa febre continuará no pós-pandemia. Será que viveremos coisas parecidas com as que vemos nos realities? Só o futuro dirá.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *