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Review: Lil Nas X canta sobre suas vulnerabilidades em “MONTERO”, seu disco de estreia

Montero, disco de estreia de Lil Nas X - Foto: Divulgação
Montero, disco de estreia de Lil Nas X - Foto: Divulgação

Após uma série de postagens anunciando a chegada do seu filho, Lil Nas X “deu à luz” nesta sexta-feira (17) a “MONTERO”, seu primeiro disco de estúdio.

Carregado de muita expectativa desde que conseguiu deixar seu single de estreia “Old Town Road” no topo da Billboard por 19 semanas, o material traz 15 faixas e inclui parcerias com Jack Harlow, Miley Cyrus, Megan Thee Stallion, Elton John e Doja Cat.

Confira:

Montero, disco de estreia de Lil Nas X - Foto: Divulgação
Montero, disco de estreia de Lil Nas X – Foto: Divulgação

Imersão no mundo de “MONTERO”

Se antes já era fácil associar Lil Nas X a pessoa que ele é, desde que “Montero (Call Me By Your Name)” foi lançada, essa similaridade ficou ainda mais fácil. Escolhida para abrir os trabalhos do disco, a música faz analogia ao filme de mesmo nome e ainda traz no título o nome de batismo do cantor, Montero Lamar Hill.

Bem produzida, audaciosa e cativante, “MCMBYN” foi o suficiente para todas as atenções se voltassem para Lil e para o que ele ainda poderia apresentar. Começa aí, de forma lírica e genuinamente bem abordada, a primeira mostra da sua luta por autoaceitação. É impressionante ver a proporção que o debut single de MONTERO tomou e o quanto a pauta de uma bicha preta foi levada para o mainstream de forma orgânica. A semente foi plantada e o caminho bem semeado para o que viria.

“Dead Right Now” é a segunda faixa do projeto e aqui o cantor reflete sobre amigos que duvidaram do seu trabalho e o quão difícil foi abandonar a faculdade e seguir a carreira musical. Confesso que por causa da faixa antecessora, não esperava algo tão vulnerável e explícito assim em seguida.

Terceiro single oficial do álbum – “INDUSTRY BABY“, possui nada mais, nada menos, que Kanye West na sua composição e produção. Essa daqui é chique. Desde a letra, o clipe, até a performance mais recente no VMA. Nas consegue criar todo um ambiente para canção, que aliás deixa muitas músicas de hip-hop lançadas recentemente no chinelo. O destaquei aqui também é para participação do Jack Harlow que compra a ideia do Lil e dá o seu nome no verso que lhe coube.

Thats What I Want” foi a faixa escolhida para promover o álbum no dia do lançamento. A forma que Nas canta sobre a solidão e a objetificação do homem negro gay , enquanto ataca questões heteronormativas americanas no clipe como a igreja, a família tradicional, e o futebol e ainda por cima sob um instrumental pra lá de OutKast me cativou na primeira audição. De longe uma das minhas favoritas.

Antes de chegarmos na segunda parceria do disco, temos a intro “The Art of Realization” onde o cantor se questiona se está feliz e no caminho certo. Imagino que para um artista em crescente como o Lil Nas X essa deve ser uma pergunta recorrente, assim como para a sua próxima colaboradora. “Scoop” é o melhor dos dois mundos de Lil Nas X e Doja Cat, inclusive é minha aposta para single, se não for, vai ser um desperdício.

A solidão e a validação são temas recorrentes

Quando vi que Elton John estaria no “MONTERO” fiquei muito ansioso para ouvir o resultado do contraste de dois ícones de gerações diferentes da comunidade LGBTQIA+. Para a minha surpresa, Elton John não aparece cantando e sim tocando piano em “One Of Me”, uma das canções mais intimistas do álbum. “Você é um meme, uma piada, foi um truque desde o começo” “Agora, consegue provar? Tá todo mundo esperando” canta Lil sobre a pressão da indústria com seus lançamentos e sobre o que pode entregar enquanto artista.

“Lost In the Citadel” é por natureza um hino de término. A música mostra seu lado mais suave do artista “Preciso de tempo para me levantar e sair do chão, preciso de tempo para perceber que não posso ser seu”, canta Lil entoado por guitarras que lembram canções dos anos 80.

“Dolla Sign Slime” é uma parceria com a rapper Megan Thee Stallion e parece ser feita perfeitamente para o streams: Curtinha, versos pegajosos e batidas que podem ser encaixadas nesses apps de músicas de vocês já conhecem – uma canção completamente diferente da sua sucessora, a lentinha “Tales of Dominica”.

“Sun Goes Down”, foi um dos singles que anteciparam o álbum e também um hit confessional para era. “Esses pensamentos gays sempre me assombraram, rezei para que Deus os tirasse de mim”, indaga o cantor sobre os estereótipos que assolam a homossexualidade.

Os pensamentos não mudam muito quando chegamos em “VOID”, uma das músicas mais experimentais de todo o disco. O ambiente aqui é de solidão e de inconstância. “Estou passando todos esses meses sombrios de tempo preso na vida solitária. São muitos altos e baixos”, completa o cantor.

A solidão também é tema central das duas próximas canções, “Don’t Want It” e “Life After Salem”. De tanto que ele fala disso o enredo fica meio chato de lidar nesta parte do álbum.

Pra finalizar o disco temos a aguardada colaboração com Miley Cyrus, em “Am I Dreaming“. Assim como a colaboração com Elton John a faixa surpreende no quesito sonoridade. Se formos pegar os recentes lançamentos de ambos com certeza não resultariam em “Am I Dreaming“. Aqui o destaque fica em como combinação das vozes soam incríveis juntas. Ansioso para uma live.

Conclusão

Por mais hitmaker que Lil Nas X seja, o seu disco de estreia vai em contrapartida a algumas coisas do que esperam de um “onehit wonder“. Fórmulas não são excessivamente repetidas, nem tudo soa como um desespero por outro hit, mas majoritariamente como um grito de liberdade pessoal e expressão artística. Claro que algo tão confessional pode soar estranho em uma primeira audição, mas por mais difíceis que sejam os temas abordados nas músicas, todas possuem a personalidade de Montero Lamar Hill .

Precisamos reafirmar também a potência que Lil Nas X é, aliás estamos falando de um homem negro, gay no meio do Hip-Hop/Pop, ocupando lugares que até então eram ocupados por pessoas que não traziam essas vivências para pauta diária. Queria eu ter nascido em uma época que tivesse um artista como um Lil para que eu pudesse entender tantos questionamentos que assolam a vivência de um homem negro gay e sua masculinidade tóxica.

Alguns excessos ali, outros aqui, mas nada que atrapalhe a apreciação de “MONTERO”. Pode ser que agora ele ainda não bata com tanto impacto em algumas pessoas, mas te garanto que daqui alguns anos ele vai sim.

Nota: 8

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