Você já parou para pensar do porquê a maldade existe? As pessoas nascem más? Ou será que a maldade é lançada sobre elas? Essa é uma reflexão já muito familiar para os fãs de “Wicked“, musical que há 21 anos lota o Gershwin Theatre na Broadway e ganha adaptações diversas ao redor do mundo. Agora, a história não contada sobre as bruxas do “Mágico de Oz” ganha as telas do cinema em um dos filmes mais aguardados do ano.
“Wicked” chega aos cinemas do Brasil nesta quinta-feira (21) e, para o alívio dos fãs que tanto aguardaram por ele, faz jus à expectativa. Para os admiradores que há anos amam o musical, a experiência no cinema promete ser arrebatadora. Para aqueles que não conhecem a história, essa é uma grande chance de passar a amá-la.
Uma trama teatral na grande tela
Era um dia de celebração em Oz quando Glinda (Ariana Grande) informou à população sobre o falecimento da Bruxa Má do Oeste. Enquanto canta sobre o mau ser desprezado, Glinda é tomada pelas memórias que construiu com Elphaba (Cynthia Erivo) quando seus caminhos se cruzaram anos antes na escola.
A narrativa então nos leva a uma retrospectiva da história de Elphaba, desde a sua infância desafiadora devido à cor verde da sua pele até os acontecimentos estranhos de Oz que a levaram a ser considerada a Bruxa Má do Oeste. É nesse ponto, logo nos momentos iniciais do filme, em “No One Mourns The Wicked”, que se esclarece a visão simultaneamente intimista e grandiosa do diretor Jon M. Chu para essa adaptação.
O palco de um teatro carrega grandiosidades que vão além da compreensão. Baseado no livro de Gregory Maguire e apoiado pelo roteiro de Winnie Holzman – autora do libreto original do musical da Broadway – em parceria com Dana Fox, o diretor não apenas se manteve completamente fiel ao musical apresentado nos palcos, como também soube usar da magia do cinema para enriquecer a narrativa com recursos visuais que nos transportam para um verdadeiro voo imersivo pela história das bruxas. Grande prova disso são as cenas da Elphaba bebê e criança, quando já se encarregava de cuidar de sua irmã Nessarose (Marissa Bode).
A história clássica se encontra com um elenco encantador não somente nas protagonistas, mas em figuras como Madame Morrible (Michelle Yeoh), Fiyero (Jonathan Bailey) e Boq (Ethan Slater), e o resultado não poderia ser outro.
Durante duas horas e quarenta, o filme nos apresenta uma sequência de acertos que honram a expectativa depositada nele. Em um contexto em que muitas produções hollywoodianas tentam mascarar a sua origem musical, Wicked mais uma vez se prova grandioso e atemporal nas letras e melodias de Stephen Schwartz, que ganham nova vida nos números adaptados para o cinema. As horas passam voando para o telespectador em uma fusão síncrona de letra, figurinos e, principalmente, coreografia, que se destaca em momentos como “What Is This Feeling” e “Dancing Through Life”.
O frescor trazido por Jon M. vem apoiado de um trabalho também primoroso do figurinista Paul Tazewell e do designer de produção Nathan Crowley. As mais de 9 milhões de tulipas plantadas para o número inicial do filme mostra os esforços da produção em criar uma Oz palpável, moderna e inovadora, ao mesmo tempo que se mantém essencialmente a mesma da que conhecemos no clássico “O Mágico de Oz”.
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As bruxas de Oz: quem são as personagens principais de “Wicked”?
Glinda, A Boa
Não dá pra falar de Oz sem falar das bruxas que protagonizam Wicked. Glinda é uma jovem rica, mimada, acostumada a ter tudo o que quer, do jeito que deseja. Determinada, ela vai para a Universidade de Shiz com o desejo de se especializar em feitiçaria. Por ironia do destino, a loira se torna colega de quarto de Elphaba, uma garota de pele verde que é seu imediato oposto, mas carrega poderes mágicos e incontroláveis.
Ariana Grande rouba a cena ao interpretar a patricinha loira que nós amamos assistir nos mais diversos títulos. Ela coloca em sua Glinda o equilíbrio perfeito entre o drama e o timing cômico que fazem da Bruxa Boa uma figura complexa, repleta de nuances e inevitavelmente fascinante. Não à toa, a sala de cinema cai na risada em diversos momentos em que ela brilha, como na excepcional “Popular”, o grande momento de Glinda na primeira parte da história.
Mesmo preterida por muitos desde anunciada no elenco, Ariana abraçou a personagem e desapareceu nela no melhor sentido possível dentro desse contexto. As expressões, maneirismos e trejeitos caricatos da personagem em nada se assemelham à estrela pop Ariana Grande – e esse é um dos grandes triunfos da produção. Grande se dedicou de corpo e alma para entregar a melhor Glinda que podia, mas ela tomou conta por completo e orgulhou Kristin Chenoweth, intérprete original da personagem.
“Ela não me pediu um conselho, ela estava muito nervosa. Ela disse: ‘Quero prestar uma homenagem a você, mas estou com medo. Quero deixar você orgulhosa’. E eu disse: ‘Bem, você já me deixou orgulhosa, então não importa. Você já fez isso'”, comentou Kristin durante entrevista ao programa Kelly Clarkson Show.
As batidas de cabelo e a bondade superficial admirada por toda Shiz contrastam com o apreço que surge em Glinda à medida que ela passa a conhecer melhor a Elphaba no desenrolar da trama, evidenciado as complexidades da personagem e estabelecendo o fio condutor para entendermos o desenrolar da história da Bruxa Má do Oeste.
A Bruxa Má do Oeste
Toda essa assertividade na Glinda só é possível com uma Elphaba igualmente certeira. Nesse sentido, Cynthia Erivo é um show à parte. Indicada ao Oscar e consagrada por seu trabalho em “A Cor Púrpura”, Cynthia é a grande prova de que a direção de Wicked acertou em cheio ao escalar atrizes já familiares do teatro.
Elphaba carrega uma história difícil. Foi menosprezada pelo pai ao longo de sua vida e alvo de duras críticas devido ao tom da sua pele. Isso a fez uma pessoa reclusa, séria e muitas vezes irônica. Mas mesmo em meio às adversidades, Elphaba nunca deixou de sentir esperança, e é aí que mora o grande ponto de identificação do público com essa personagem.
O drama e a sobriedade de Elphaba são perfeitamente equilibrados por Cynthia, que refinou a história da bruxa ao incorporar suas próprias perspectivas nela. Em “The Wizard And I”, a atriz comanda a tela com a sua voz e arrebata a sala de cinema nota após nota. É ali que ela transparece toda a essência da Elphaba e o faz com maestria, tornando-se forte candidata de melhor interpretação para essa que é uma das músicas mais importantes do musical. O mesmo acontece na extraordinária “Defying Gravity”, que finaliza a primeira parte da história de forma mágica e quase inacreditável.
“Wicked” é uma obra sobre amizade, casa e coragem. Elphaba e Glinda são opostos complementares que juntas, são capazes de construir uma imensidão. Pelo bem ou pelo mal, quem se permitir explorar esse mundo verde e rosa vai se ver verdadeiramente mudado por esse encontro que tem tanto a ensinar, se deixarmos aprender.
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