Jonathan Ferr, o prodígio carioca do jazz, está prestes a embarcar em mais um capítulo marcante de sua carreira. Reconhecido como o “garoto-estandarte” do jazz carioca pelo jornal El País, o pianista e compositor se prepara para levar sua música ao palco do Rock in Rio 2024, no dia 21 de setembro, celebrando o Brasil com seu som único e futurista.
Em recente entrevista ao Tracklist, o músico comentou sobre as expectativas para sua segunda apresentação em um dos maiores festivais de música do mundo e sobre o futuro do jazz no cenário musical. Confira!
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Em entrevista, Jonathan Ferr fala sobre apresentação no Rock in Rio
Desde criança você é um grande apaixonado pela música. Como foi o convite para se apresentar no Rock in Rio, em um dia que celebra o país? E quais são suas expectativas para essa apresentação?
Desde criança eu amo música. Lembro dos meus pais estarem em casa fazendo as coisas e ouvindo rádio o tempo todo – e quando não era rádio, era um vinil -. Então, cresci nesse ambiente musical, embora nem meus pais, irmãos, ninguém da família, fosse músico efetivamente, era uma referência muito boa que eu tinha dentro de casa.
Por isso, aprendi desde cedo a gostar de música, de ouvir música, de apreciar música. E para mim a chegada desse convite foi muito interessante, inclusive, ele chegou no dia do meu aniversário, 27 de abril. Até brinquei que foi um presente e eu fiquei muito feliz. Foi o Léo Gandelman quem escreveu me convidando, e ele é o cara que lidera esse palco, nesse dia, com a curadoria do Zé Ricardo e foi muito legal!
Celebrar o dia Brasil com a música que eu faço, que é uma música que propõem uma “nova ordem de música” com referência no Brasil.. Acho que artistas como eu, que são meus contemporâneos, que têm muita influência de artistas do mundo todo, têm acesso a muita música com as plataformas de streaming. Acho que, cada vez mais, a música brasileira tem se tornado a música do mundo, não é mais tida como uma música de região especificamente, então o Brasil dita muito musicalmente no mercado musical. Eu com minha música, fazer parte desse lugar, desse dia Brasil, no maior festival do mundo, que é o Rock in Rio, para mim é realmente uma dádiva.
Minhas expectativas estão bem altas, estou preparando muita coisa que é surpresa ainda, mas que será muito bonito para entregar um showçazo nesse dia.
O Global Village é conhecido por apresentar uma diversidade de estilos musicais. Como você acha que seu som psicodélico e futurista se encaixa nesse contexto?
Ah, eu faço o que eu chamo de “música do futuro”, por isso “futurista”, “afrofuturista”, porque tem toda referência afrodiaspórica das coisas que eu pesquiso, da música urbana, da música negra. E se for pensar em música urbana, de uma maneira geral, essa música bem de origem negra, né? Ou sai de um algum lugar periférico preto, ou vem de referência de músicas norte-americanas também pretas, como hip-hop, que é uma música urbana demais.
Então eu trago tudo isso junto com as psicodelias que acho que trazer esse lugar do psicodélico é o psico, é entrar na mente. Então, é uma música que proponho que entre na mente das pessoas e é assim que eu me encaro, que vejo a minha música. Tenho certeza que ela super se encaixa no processo que o Rock in Rio oferece, né, de sofisticação, de experimentação, de alternância, de novas possibilidades de ideias, produção de novos pensamentos, da própria diversidade de estilos musicais, né? O Urban Jazz, a música que faço, é algo que propõe diversidade, até pela miscelânea de sons que eu trago ali junto. É o rock, é o erudito, é a música eletrônica, é o pop, o hip hop, o new soul, tá tudo ali no liquidificador.; músicas que me tocaram e eu não abro mão de nada quando vou compor, quando vou criar, quando vou me apresentar ,tá tudo ali comigo. Costumo dizer que tudo o que eu toco, cada nota, cada dedo, carrego uma história. É a história de mim ,eu falo de mim através de cada nota que eu executo, então, estar no Rock in Rio, além de celebrar os 40 anos do evento, celebrar o Dia Brasil, também é celebrar a minha vida, minha arte, celebrar o que tenho feito. E fico feliz que as pessoas têm notado isso e têm me reverberado não só no Brasil, como fora do país também.
Você e seus companheiros de palco, Antonio Adolpho, Joabe Reis e Leo Gandelman, têm algum plano especial para essa performance? Como será a interação entre vocês no palco?
Bom, sou fã de todos eles, né? Antônio Adolpho, do Joabe, o Léo Gandelman é demais. Quando eu era moleque, eu lembro de ter assistido o show do Léo Gandelman,assim, super novo, e ficar impressionado. Eu falei isso para ele, e isso me referenciou muito. Depois, quando eu fui tocar, essa é uma referência de uma música instrumental muito bonita. E, assim, estamos ainda programando o que a gente vai fazer. Ainda está no âmbito da surpresa realmente, ainda não dá pra trazer, mas tem várias coisas que estamos pensando.
Dividir o palco ali, cada parte uma galera vai tocar, depois talvez tocando um som juntos. Agora, nessas próximas semanas, vamos entender, montar isso, pensar isso e planejar isso bonito, vai ser uma noite linda assim. Eu tava conversando com o Leo Gandelman esses dias pelo telefone, a gente conversou muito sobre as possibilidades, as coisas que ele tem ideia, da proposta, etc. Em conjunto com o Zé Ricardo, que é a produção do Rock in Rio. Então, assim, vai ser uma noite de muita magia, como eu gosto de dizer. Magias acontecerão nesse palco, nessa noite, e vai ser muito bonito estar com outros magos da música instrumental brasileira, fazendo essa coisa acontecer, essa energia gerada de uma maneira tão bonita.
Houve alguma adaptação específica no seu repertório ou na sua performance para este festival?
Eu tô sempre experimentando, né? Eu tô sempre experimentando coisas no meu repertório para adaptar. Eu sou um músico inconformado. Eu, inclusive, tenho feito várias coisas com a minha banda de experimentações, laboratórios, para gente se provocar, né? Se provocar para que os sons que saiam, saiam sempre diferentes, né? Acho que é um exercício. Nós somos atletas da música, né? Então, o atleta não pode se conformar com uma coisa já que está pronta. É uma eterna experiência de aprendizado, uma eterna experiência de lapidar aquilo que já está pronto para chegar até o âmago daquilo ali. Então, eu sou esse tipo de artista que gosta de experimentação e de ir até onde eu acho que é possível dentro do repertório.
Atualmente, por exemplo, fiz um show “Especial Djavan“, onde toquei Djavan do jeito de Jonathan Ferrer de tocar, com outros arranjos, com outra roupagem, com outro lugar, trazendo para o hip-hop, trazendo para o New Soul, essa coisa mais psicodélica também. E foi lindo.
Eu gosto dessa experiência, dessa provocação, desse desafio. Então, a minha performance no Rock in Rio, e no festival de ano passado, mas no Rock in Rio, vai ser bem especial, vai ser bem diferente. As pessoas estão acostumadas a ver um jazzista clássico, assim, de tal, de fraque, de terno, ou sei lá, uma forma X de tocar, e eu já quebrei esses padrões para minha vida já há muito tempo.
Então, eu subo no palco pra provocar as pessoas e pra a ocupar esse palco de uma maneira muito específica, assim, muito a ver com o lugar que eu venho, de Madureira, das histórias que eu tenho, de ser um homem preto pianista e tudo mais, isso também tem um outro lugar de colocação no palco, então, com a moda também, todas as coisas que eu trago, enfim, instrumentos diferentes também, o vocoder, que eu uso bastante, E, enfim, vai ser bem bonito. Eu tô muito animado. Vai ser uma experiência. Vai ser a minha segunda vez tocando no festival, no Rock in Rio. E vai ser completamente diferente da primeira, assim, mais potente, eu acho. Não que a outra não tenha sido, mas eu acho que a minha maturidade como pessoa, como artista, como músico, como performer, vai me trazer também um outro lugar nesse palco.
Como você acredita que sua participação no Rock in Rio pode impactar sua carreira e a visibilidade do jazz no Brasil e internacionalmente?
Ah, ter participado do Rock in Rio em 2019, que foi a minha primeira participação, foi muito importante, impactou muito na minha carreira. Eu fui o único artista de jazz e músico instrumental daquele ano no festival inteiro. Então isso por si só traz uma responsabilidade muito grande. E ele me deu muita visibilidade. Muita gente me conheceu pelas matérias que saíram na época do Rock in Rio, pelo show que assistiram no festival, enfim, tudo que saiu de televisão, enfim. O Rock in Rio me trouxe muita visibilidade e muitas experiências, muitos aprendizados.
Tenho muito carinho pelo festival e pelas pessoas que o organizam, que são generosas e ajudaram-me a amplificar esse trabalho. O Zé Ricardo e todos os membros da família Medina, que me abraçaram e me adotaram quase, acreditaram na minha história e revelaram quem sou: um pianista que veio de Madureira e fez uma música para o mundo. Isso é muito bonito. E é interessante que é um jazzista tocando no festival de rock isso foi sensacional porque realmente eu me sinto muito em casa, muito família tocando pela segunda vez no Rock in Rio. Eu realmente me sinto acolhido. É um lugar de afeto muito bonito.
Quais são seus próximos projetos após o Rock in Rio? Há algum novo álbum ou turnê no horizonte?
Minhas expectativas para os próximos projetos depois do Rock in Rio é uma turnê internacional que eu vou fazer em outubro e inclusive eu estou indo para uma importante feira chamada Womex que vai acontecer no final de outubro. Eu sou o único artista brasileiro da feira, que vou tocar numa feira importantíssima de mercado musica.l Por acaso faz 40 anos também de Womex esse ano, então assim, vou fazer duas celebrações, uma no Rock in Rio e depois em outra em Manchester, no Reino Unido, tocando, e vou passar por outros países também.
Eu tô muito feliz porque realmente, a minha música está me levando para outros lugares. Eu estou percebendo que ela tem muita aceitação internacional. As pessoas têm querido ouvir quais são os novos sons que estão sendo produzidos no Brasil, nesse pós-pandemia. Quais são as novas sonoridades. Não que as coisas que foram feitas antes e estão sendo feitas com referência nas músicas mais de trás não tenham relevância, mas eu sinto que existe uma busca por entender que Brasil é esse, que música é essa que está sendo produzida. E essa música afrodiaspórica também, que estamos em um momento de muita visibilidade negra, indígena, então que música está sendo feita no Brasil, que é um país afrodiaspórico muito grande. Eu me sinto realmente feliz de sair do Rock in Rio e já me mandar numa turnê na Europa para poder apresentar minha música.
Então realmente estou saindo batizado aqui do Rio para me jogar no mundo e poder mostrar o melhor que o Brasil tem e inspirar outras pessoas, outros pianistas, outros músicos a acreditarem em seus sonhos e trilharem o caminho, que não é fácil, mas tudo que a gente sonha é possível de realizar. E eu me sinto realizado e, bom, quero ser inspiração para outras pessoas, outras crianças, outros moleques de periferia que sigam no mesmo espaço. É isso.