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Entrevista: Zé Ricardo, do Rock in Rio, revela detalhes da edição de 40 anos do festival

Vice-presidente artístico da Rock World, Zé também é curador dos palcos Sunset, Espaço Favela e Global Village

Foto: Divulgação

Pouco menos de um mês para a edição de 40 anos de um dos maiores festivais do país, o Rock in Rio, o Tracklist teve a oportunidade de conversar com Zé Ricardo, vice-presidente artístico da Rock World, empresa que criou, organiza e produz o evento. Zé, que também é curador dos palcos Sunset, Espaço Favela e Global Village, destacou novidades que chegam este ano na edição que promete ser uma das maiores que o festival já teve. Confira!

Zé Ricardo, do Rock in Rio, revela detalhes da edição de 40 anos do festival

Tracklist: Este ano teremos novamente o Espaço Favela. Quais novidades teremos por lá?
Zé Ricardo:
O Espaço Favela, primeiro de tudo, ele mudou de lugar na Cidade do Rock, porque na última edição ele teve uma demanda tão gigantesca de público que a gente colocou em um lugar onde ele está com o dobro de capacidade de público. O palco também teve um aumento significativo para entrar nesse lugar, do tamanho que ele merece.

O Espaço Favela está tendo uma diversidade muito grande de estilos em todos os dias, não só dos artistas novos, mas de artistas consagrados. Uma das funções que a gente quer do Espaço Favela é fazer com que as pessoas percebam a importância que ele tem dentro da curadoria do Rock in Rio cada vez maior. 

[Este ano] A gente tem nomes gigantescos como Belo, DENNIS, TZ da Coronel, MC Hariel, MC Poze do Rodo… Temos uma diversidade muito grande de artistas e de estilos, e a gente tem o embaixador do palco que é o Xande de Pilares, que é um artista maravilhoso. Fora a Brisa Flow. A gente tem um line-up muito diverso.

Como foi a curadoria desse line-up?
O Espaço Favela sempre foi feito muito indo nas favelas, na busca dos artistas que possam trazer um frescor sobre o que é favela. Por exemplo, este ano, no Dia Brasil, temos o Nathan Amaral, que é um músico de favela incrível que mora em Berlim hoje, e que está sendo muito respeitado e cuidado em todos os lugares por onde ele passa. E ele está fazendo com a Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem, é um encontro muito poderoso de música clássica, porque eu quero que as pessoas entendam que favela também é música clássica. 

Favela é funk e favela é trap, mas favela também é MPB, é rock, heavy metal, pop, soul, música clássica. Favela é tudo! A favela tem uma diversidade gigantesca de expressões artísticas, principalmente expressões musicais. A missão do Espaço Favela é mostrar a potência da favela na sua parte criativa e na sua parte artística e musical. 

E quanto ao Global Village? Queria saber como surgiu o planejamento dele.
O Global Village foi uma ideia do nosso criador, o Roberto Medina. Ele queria falar, depois de um mundo pós-pandêmico, a gente entra em duas guerras: existe uma necessidade muito grande de a gente falar da união dos povos, da mistura. Então, através da música, a gente criou um palco que é basicamente de world music.

O Global Village tem uma cenografia belíssima que cita vários pontos icônicos do mundo. O palco desse espaço representa o nosso teatro musical, mas a gente tem Japão, Índia, Espanha, vários países sendo representados aqui, e eu acho que isso tem um valor, uma força muito grande quando pensamos em conexão com o mundo.

O palco tem artistas de diferentes lugares do mundo e de diferentes regiões do Brasil – essa foi uma busca minha. A gente tem a Angelique Kidjo, que é uma rainha africana, a gente tem cantor palestino, cantora israelense, a cantora portuguesa Carminho, e temos gênios dos estilos diferentes como o Hermeto Pascoal. É um line-up muito diverso em que temos o Recife de Lia de Itamaracá e Almério e Martins, o Amazonas de Victor Xamã e o Rio Grande do Norte com a Juliana Linhares. É um palco que tem muitas propostas, não só de world music, de vários países, mas também como se a gente fizesse uma curadoria de world music pelos estados do Brasil. 

Acho que ele tem uma narrativa muito bonita, que vai emocionar muita gente. A gente tem o Sambaiana, que é uma banda baiana só de mulheres que faz uma roda de samba inacreditável de talentosa. Então eu fico feliz com o resultado do que a gente está apresentando, sabe? Tem o show da Larissa Luz, que é uma artista incrível. A gente tem a Katú Mirim, essa artista indígena que faz um trabalho belíssimo. Acho que o Global também tem essa função de provocar sobre quais caminhos o mundo pode seguir e, através da arte da música, é um caminho muito bonito.

E como estão as expectativas do Rock in Rio para a recepção desses espaços?
O Espaço Favela é uma realidade dentro do festival. A gente tinha problemas de não caber a quantidade de público na frente do palco na última edição. Então acho que o Espaço Favela já é a paixão do público do Rock in Rio, as pessoas se programam para estarem no Espaço Favela. Neste ano, elas vão estar lá com mais conforto, com mais espaço, vão poder curtir o festival e viver o Espaço Favela em um ambiente maior, com mais conforto, mais espaço.

O Global Village eu acho que as pessoas vão se encantar com tudo que acontece dentro dele, porque esses espaços temáticos que representam os países – em alguns deles, você pode entrar. Quando você entra em um deles está tocando jazz, em outro tem uma roda de samba, em outro tem um pianista tocando, então a pessoa vai poder entrar e viver um pouco dessa mágica que a gente está propondo do lado de fora, mas também não é só para olhar de fora, você pode entrar também. Você vai marcar uma hora e vai conseguir viver um pouquinho dessa mágica lá dentro. 

A gente pode esperar algo semelhante como o Global Village e o Espaço Favela em um The Town?
Olha, o The Town tem o mesmo DNA do Rock in Rio, mas tem uma personalidade muito própria. No The Town nós temos um palco que foi um tremendo sucesso no ano passado, que é o São Paulo Square, um palco de jazz. A gente quer trazer os principais artistas de jazz do mundo e do Brasil para cima desse palco. Então, ele se conecta com o Global Village em algum lugar, porque alguns artistas de jazz também são artistas de world music, mas eles têm personalidade e narrativas diferentes. 

E o Favela é uma necessidade. Acho que o mundo não caminha mais nos próximos anos se a gente não discutir favela, trazer a favela para perto, incluir, propor, aproveitar os talentos, entender tudo de bom e positivo que as favelas têm, como a gente pode ampliar a conversa do Espaço Favela. Acho que o The Town e o Rock in Rio, quando você fala dos dois palcos, você não vai ver o mesmo palco nos festivais, mas você vai ver a mesma proposta de narrativa.

Para a gente encerrar, eu queria saber como foi a curadoria do Palco Sunset e se teve algum artista que quase fechou, mas que não veio.
Olha, isso acontece todos os dias da minha vida (risos). São muitos artistas que a gente tenta e que, por questões de logística, não puderam vir, ou nós não pudemos fechar. Às vezes por uma semana para frente, uma semana para trás, o artista quer muito vir, fica desesperado de não vir, mas tem uma equipe muito grande, e quando alguns membros da equipe não podem eles não vêm, ou tem uma turnê muito grande agendada…

A dificuldade de montar um line-up para um festival magnânimo, que recebe 100 mil pessoas por dia, são imensas, né? Todos nós queremos todos os artistas que mais tocam no nosso line-up, e eles também, pela força da marca Rock in Rio, querem estar com a gente. Os problemas de logística são os que mais atrapalham a gente fechar. A curadoria do Sunset este ano tem muitas mensagens subliminares, por exemplo, como o nosso Dia Delas, que é um dia das mulheres que eu propus para todos os palcos do festival, no Palco Sunset são mulheres pretas de gerações diferentes. 

No dia 22, a gente tem no Palco Sunset um passeio pelos estados do Brasil antes de chegar na Mariah Carey. A gente tem OlodumBaiana trazendo a Bahia, Ney Matogrosso trazendo Mato Grosso, a Alcione sendo homenageada com a Orquestra Sinfônica Brasileira e vários artistas trazendo Maranhão, então é uma passagem por estados do Brasil que tem uma conversa muito interessante.

No dia 19 é uma provocação que eu faço sobre o que é o novo pop. Nós vivemos durante alguns anos tendo o pop como Jota Quest, Titãs, todas essas bandas maravilhosas, mas elas eram a cara do pop. Hoje o pop brasileiro mudou. O pop brasileiro tem trap, tem pagode, tem afoxé, o pop brasileiro tem as batidas de dance com soul misturadas. Então, no dia 19, eu abro com Pedro Sampaio, depois eu tenho Filipe Ret com Caio Luccas, depois eu tenho Ferrugem com Gilsons e tem Gloria Groove.

O que eu estou provocando aqui? Eu estou fazendo uma provocação sobre qual é o nosso novo pop. Então, o Palco Sunset é construído de um jeito muito artesanal, com muitas provocações e mensagens subliminares, e este ano ele está recheado de histórias subliminares assim. Eu fiquei muito feliz com o resultado da curadoria do Sunset, porque ela apresentou várias provocações interessantes. 

Você não teria um nome para falar para gente que quase veio, mas que, por algum motivo, não conseguiu trazer?
Olha, sabe por que eu não posso te falar isso? Porque eu vou trazer essa pessoa no próximo. Aí a pessoa já sabe que eu estou querendo trazer ela, e eu já furo o lançamento para mim. O que eu posso te dizer é que os grandes nomes que você queria ouvir, que eu queria ouvir, que todo mundo queria ouvir, a gente foi buscar, e a gente está sempre atrás primeiro desses grandes nomes. 

A gente conseguiu montar um line-up de Rock in Rio recheado de estrelas em um ano que não foi muito propício para a contratação de artistas internacionais. Muitos artistas saindo com as suas próprias turnês feitas para arena. Quando um artista monta um show para arena é muito difícil de ele conseguir fazer um festival, porque tem que mudar cenografia, equipe, luz… é muito complexo. Este ano foi um ano de muitos artistas em arenas. Foi difícil encaixar, mas a gente acabou entregando um line-up muito rico, muito plural e diverso para comemorar os nossos 40 anos.