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Entrevista: Xênia França fala sobre Rock in Rio, carreira e possível terceiro disco

Artista se apresenta no festival no dia 20 de setembro ao lado de Luedji Luna e Tássia Reis

Xênia França Rock in Rio 2024

Xênia França é um dos grandes nomes em ascensão da música brasileira. Vencedora do Grammy Latino com o álbum “Em Nome da Estrela”, a artista se apresentará pela segunda vez no Rock in Rio – neste ano, subirá ao palco com Tássia Reis para participar do show de Luedji Luna no dia 20 de setembro.

Para falar sobre o show, Xênia conversou com o Tracklist, em que também falou sobre sua carreira, processo criativo e experiências de vida.

Xênia França fala sobre Rock in Rio, experiências de vida e processo criativo

Tracklist: Gostaria de falar um pouquinho sobre o seu último disco, “Em Nome de Estrela”, que completou dois anos recentemente. Como é olhar pra esse projeto agora, dois anos depois, toda essa jornada pós-lançamento desde o sucesso do público, levar esse show pelo mundo, até o Grammy Latino?
Xênia França
: Bom, eu tava pensando sobre isso esses dias, né? A possibilidade da concretização sobre ser artista no Brasil e todos os desafios que se impõem para um artista conseguir fazer os próprios desafios internos os desafios externos. E o “Em Nome da Estrela” é uma materialização, assim, eu considero esse disco uma grande vitória antes mesmo do Grammy Latino, porque ele tava programado pra ser feito em 2020, e em 2020, infelizmente, a gente viveu essa catarse coletiva que foi a pandemia, então eu tava meio sem saber se ia ser possível concluí-lo. E quando chegou 2022, que eu consegui entregar, lançar, e como ele ficou bonito, como ele saiu do jeito que eu queria que ele saísse, grandioso.

Aquilo pra mim já era o prêmio, sabe? Conseguir realizar, essa é uma das coisas que eu sempre penso em relação ao meu trabalho. Um artista independente nunca sabe de onde vai sair, a gente vai sempre ter que tirar um coelho da cartola… Então eu nunca soube desde o primeiro disco como eu conseguiria realizá-lo – e ele realmente foi uma vitória. Depois os desobramentos foram acontecendo até chegar na conquista do Grammy Latino que é uma das coisas mais incríveis que já aconteceram na minha vida, assim, em termos profissionais, né? 

Sim, com certeza. Eu estava assistindo a sua entrevista com o pessoal do Mamilos Café e você cita a questão do seu respeito para criar, de saber que nada é definitivo. Com isso em mente, depois do lançamento do seu primeiro disco em 2017 e do lançamento do segundo em 2022, como você se vê para um possível próximo disco? O que mudou em você após esses dois projetos e que você sente que influenciaria esse terceiro disco?
Cara, eu sou uma pessoa que eu preciso muito viver, e acho que um dos desafios do segundo disco justamente era esse. Eu estava vivendo, obviamente, porque eu estava aqui no planeta Terra, mas as experiências de vida, tudo que leva você a ir colecionando assuntos que vão fazendo sentido para você naquele momento em que você está em estado fértil para a criação, aquilo que você fala, isso faz sentido nesse momento para colocar num trabalho. Naquele momento, a gente estava trancado dentro de casa, a experiência era totalmente doméstica – então, contar com o poder da imaginação, que é isso que permeia também, né?

Eu tenho comentado com algumas pessoas, mas eu sou uma pisciana assim, nata de carteirinha, não só uma pessoa muito mística como está posto no segundo disco, mas uma pessoa muito romântica por exemplo, e quase não falei de amor nos meus dois primeiros discos, é uma zona de interesse atual. Eu fui numa exposição da Maria Carolina de Jesus, quase no final da pandemia, e tinha uma frase muito grande, que eu não sei de quem é, porque não tinha o crédito, que falava: “uma mulher negra feliz é um ato revolucionário.”

E aquilo me pegou, eu tirei uma foto e deixei aquilo guardado. Então, uma série de experiências, viajando semana passada eu estava no Piauí, nunca tinha ido ao Piauí. Várias situações de trabalho e várias experiências de vida, de estar no mundo, experienciando as coisas boas que o mundo tem para oferecer, né? Isso é uma coisa que eu tenho percebido que tem ficado cada vez mais forte.

Meu processo criativo está um pouco mais solitário, porque algumas pessoas que faziam parte da minha vida, tanto no primeiro quanto no segundo disco, não estão mais, os planetas foram para outros lugares. Então, eu percebo o meu interesse maior, por exemplo, pela poesia, por textos mais simples. Eu sou muito detalhista, lua em Virgem, então eu tenho percebido como eu tenho estado mais disponível pra beleza cada vez mais, pro amor… Então acredito que o processo criativo do próximo disco já está em curso, ele tá aqui na nuvem, ainda tá virtual, mas já tá sendo co-criado.

Em 2019, você teve a sua primeira participação no Rock in Rio, com o Seal. Como foi essa experiência para ti? E qual o impacto que o festival teve não só na sua carreira, mas na sua vida como espectadora também?
Primeiro que eu nunca imaginei na minha vida que eu ia cantar num festival desse tamanho, né? O Rock in Rio 2019 foi um grande presente, porque eu sou, mais uma vez, uma artista independente, eu não tenho um empresário, eu não tenho uma ação de marketing desde o princípio, sendo manipulada para o meu trabalho, arquiteturas, “você vai fazer isso”, “você vai fazer aquilo”, então existe uma espontaneidade ao receber um convite dessa magnitude. 

Eu acho que foi a primeira experiência que eu tive, de fato, com o mainstream. Foi a primeira vez que eu me relacionei com o mainstream em todas as vertentes. O Rock in Rio talvez esteja na lista dos, pelo menos, dos cinco maiores festivais do mundo. Pra cantar com um dos maiores artistas do mundo, topo da pirâmide do mundo pop, é uma lenda já, não só cantar com um artista do pop, mas cantar com uma lenda do pop, tal qual.

Foi uma surpresa e também foi um assombro. Eu não sabia como eu ia ser, o que eu ia fazer, como eu ia lidar… Coisas simples, né, de como, o que eu ia falar pro Seal quando eu estivesse de frente com ele. Essas coisas bem até ingênuas, tipo, eu poderia falar: “nossa, foi o máximo, eu cheguei lá e pá”, mas não, eu tava assim: “ai meu Deus, o que eu vou dizer pra ele?”.

Ele é uma pessoa muito doce, muito querido e me acolheu, eu já cheguei ele já me abraçou, foi incrível. Me deu flores, falou que eu era dramática igual à irmã dele, foi super generoso na construção ali do nosso momento. Perguntava o que eu achava, e aí eu fui me soltando, e a experiência do palco em si foi incrível, foi magnífica, 60 mil pessoas naquele momento, foi mágico.

E eu acho que a coisa mais importante disso, em relação ao que o Rock in Rio possa ter me dado de positivo, foi a confiança de que eu sou uma artista que sou capaz de chegar em vários lugares diferentes, criar realmente uma trajetória, subir degraus em relação ao que a gente pode esperar como carreira a longo prazo, construção de carreira a longo prazo.

Com certeza, e sabemos que você vai subir cada vez mais nessa escada! E neste ano você se apresentará com a Luedji Luna e a Tássia Reis. Como está sendo a preparação desse show em conjunto e o que a sua experiência de 2019 traz como bagagem para criar essa nova apresentação desse ano?
Dessa vez eu vou cantar uma música minha. Vou cantar uma canção minha que me deu muitas coisas felizes. Não vou contar agora senão vocês vão ficar sabendo, não vou dar spoiler, mas é uma música que me deu muitas felicidades e vou cantar uma música com a Luedji, que é uma música que a gente tem agora em comum esse ano, né, que é a música da novela [“Lua Soberana”, trilha da novela “Renascer” da Rede Globo].

Eu estou muito mais calma. A gente vai ter a mesma dinâmica – afinal de contas é o show dela [Luedji] e eu vou participar do show dela, então a gente vai se encontrar para ensaiar, nas vésperas do show. A gente já organizou tudo e acho que vai ser uma coisa muito legal e especial. Estou muito feliz pela Luedji. Ela está em ótimo momento da carreira dela e estou feliz de poder contribuir com essa experiência  e poder chegar lá com uma certa experiência, já fui lá, já vi como é.  

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Desejo que ela seja muito feliz, assim, quero que ela seja muito feliz nesse palco, que ela seja muito amada nesse palco tal qual o Seal foi, foi uma epifania, assim, até ele ficou surpreso assim, de tantos fãs de tanta gente que saiu de tantas partes da América Latina pra poder vê-lo, pra cantar aquelas músicas com ele, ele desceu do palco se jogou lá no meio da multidão.

E espero que a gente seja muito feliz, que haja uma conexão muito especial e vai ser, já está sendo. Só da gente chegar nesse espetáculo dessa maneira tão preciosa, tenho certeza que vai ser uma coisa muito mágica, vai ser muito magnífico.

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Qual é a sua opinião sobre o que festivais como o Rock in Rio, por exemplo, representam para essa nova geração de artistas brasileiros? Trazendo essas oportunidades para artistas independentes, como você mesma citou, terem esse espaço para se apresentar, divulgar seu trabalho e crescer ainda mais?
Ó, eu gosto muito de ficar no YouTube assistindo coisas antigas. E imagina, tipo, sei lá, teve um show da Tina Turner na década de 90 que é o maior recorde de público da história da carreira dela, que ocorreu no Rock in Rio. 

E imagina tudo o que aconteceu, né? Acho que, logicamente, o formato tudo como era feito, mudou bastante para como é feito hoje. Mas imagina um artista independente que não tinha o tamanho da Tina Turner na época tocar no mesmo dia que ela e ter a chance de ser visto por esse público. Então, eu acho que a coisa mais legal de um festival é essa sincronicidade de públicos porque é um negócio de uma magnitude tão grande que eu não sei quantas pessoas, a porcentagem de pessoas que têm acesso a essa apresentação.

E a gente lá no meio, então imagina a gente poder se apresentar para esses dois públicos. É incrível, é maravilhoso. Essa é uma chance muito boa de poder se divertir no palco, de cantar para tanta gente diferente, de poder cantar minha música. Eu acho que vai ser algo muito especial, é uma iniciativa incrível.

Os festivais cresceram muito ao longo das décadas, tem muito mais festival hoje do que já houve na década de 80 ou na década de 90. Tem muito mais poder midiático, tem muito mais poder de chegar em quem não está no festival, mas que está acompanhando ou pelas contas digitais das pessoas que estão lá filmando, ou pelas mídias mais convencionais como pela TV. É muito poderoso ser um artista independente nesse momento, a possibilidade de ir entrando no imaginário das pessoas mais do que nunca. Então, eu só quero aproveitar, só quero ser feliz.