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Entrevista: VND comenta novo álbum e se prepara para novo projeto

Disponível em todas as plataformas, o projeto musical mostra uma nova faceta de VND, contando com participações de Sant, SD9 e Juyé

Foto: Gabriel Inácio

Às vezes, na música, assim como na vida, os caminhos se cruzam de maneiras inesperadas. Foi o que aconteceu quando a trajetória do rapper VND, um dos nomes mais promissores do underground carioca, encontrou o Tracklist. Desde que surgiu na cena musical em 2019, o artista tem se destacado por sua capacidade de transformar vivências pessoais em narrativas universais, ecoando a realidade de muitos, mas sempre com um toque profundamente pessoal.

Com o lançamento de seu primeiro álbum, “Eu Também Sou um Anjo” (2021), ele consolidou sua presença no cenário musical, acumulando mais de 50 milhões de streams e ganhando reconhecimento por sua autenticidade e força lírica. Agora, em seu segundo trabalho, ele vai além, dividindo sua narrativa em dois lados que, embora distintos, se complementam de maneira poderosa e coesa.

Em recente entrevista, o artista comentou sobre suas influências musicais, familiares e culturais que moldaram seu novo trabalho “Onde as Histórias se Cruzam”, além antecipar um novo projeto. Confira!

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Entrevista: VND

Seu novo álbum ‘Onde as Histórias se Cruzam’, apresenta uma dualidade. Enquanto você explora a introspecção e a sensibilidade no lado A, o B revela a agressividade de suas vivências. Como surgiu a ideia de criar um álbum dividido em dois lados, explorando diferentes temas e sonoridades?

Eu já queria muito criar algo nessa atmosfera, porque como falo muito sobre as histórias do meu bairro e sobre sentimento, ambos têm essa dualidade de se demonstrar mais vulnerável e também muita das vezes ter só ódio para oferecer. O conceito precisava disso, dessa divisão visível, como se fossem camadas de uma coisa só.

Em recente entrevista você contou que tem grandes inspirações nesse álbum, como Cassiano e Mach Hommy, além das suas vivências na rua. Pode nos contar um pouco mais sobre como você uniu tudo durante o processo criativo e como essas experiências moldaram sua música e visão artística até aqui?

É muito louco a forma que TUDO influencia minha música. Nos últimos meses de construção do álbum eu estava consumindo muito drumless e música brasileira. Logo adentrei nesse universo melancólico das batidas do drumless e as composições da década de 60/70 juntamente com o meu bairro — que é parte dessa influência —, e não só isso como o samba também fez muito parte do meu processo criativo. E não é só a música e meu bairro, minha vó e minha mãe também fazem parte de todo o meu processo artístico até aqui. Elas me influenciam muito, até mais do que qualquer músico ou banda.

Além do Cassiano e Mach Hommy, quais artistas e gêneros musicais tiveram maior impacto em sua carreira?

No todo mesmo, o artista que mais me influenciou e me influencia até hoje é o Djavan. Inclusive o primeiro festival da minha vida eu cantei com uma camisa dele.

Você tem colaborações importantes neste projeto. Como foi trabalhar com esses artistas e como essas parcerias contribuíram para a narrativa do álbum?

Eu sou fã de todos que participaram desse projeto, não é à toa que eles estão nele. Foi muito bacana criar as músicas e ter a percepção de quem poderia complementar elas, é tipo ser um designer de interiores e saber milimetricamente onde tudo vai ficar perfeito. E não só musicalmente como a história é muito importante, artistas que poderiam falar com propriedade sobre determinado assunto, por exemplo, o Sant, na nossa música a gente fala da melancolia do carnaval e o impacto da cultura na nossa área (Zona Norte do Rio de Janeiro) ninguém melhor que ele para falar disso comigo.

A faixa bônus, “Dinheiro Nunca Sai de Moda”, é descrita como uma extensão do seu primeiro disco. Pode nos contar mais sobre essa música e sua conexão com o seu trabalho anterior?

Essa música é tipo o encerramento do ciclo de “Eu também sou um Anjo”. Ele se estende e se encerra bem ali mesmo. Essa [faixa] eu já compus bem mais maduro, com o conceito do segundo disco fervendo na minha mente, então, eu quis fazer essa transição de um trabalho para o outro. Meu primeiro disco é minha primeira obra-prima, meu primeiro contato com uma obra gigantesca; a relação que tenho com esse trabalho vai além de tudo, porque lembro exatamente o momento em que eu estava passando quando fiz esse álbum — e não foi nada fácil. É uma relação de amor e ódio até, porque amo o resultado e os frutos que ele me deu, mas odeio muito o processo criativo doloroso que foi esse disco.

Como você enxerga a recepção do público ao ouvir um álbum que explora temas tão variados e, às vezes, opostos? Acha que essa diversidade sonora pode alcançar diferentes tipos de ouvintes?

Gosto dessa recepção porque a gente acaba forçando eles [público] a não se acomodar tanto com o que tá acontecendo na cena atualmente. Sempre as mesmas coisas, os mesmos roteiros e os mesmos personagens. É uma forma de expandir o trabalho e, também, de fazer ecoar por diferentes públicos. E eu já estou vendo e sentindo muito isso na minha carreira… muitas pessoas que não têm vínculo nenhum com a música rap e a cultura hip-hop, é só pelo simples fato de gostar e se identificar com meu discurso e com a minha música.

Você mencionou que esse álbum é o maior projeto da sua vida até agora. Ao ouvir o álbum, há alguma faixa em particular que se destaca para você, seja pelo processo de criação ou pelo significado pessoal? Por que essa faixa é tão especial?

Amores de Gueto” e “Espaço no Peito” são as mais fortes do disco para mim. Acho que pelo grau de dificuldade técnica para soar bem e ser tão incisivo ao mesmo tempo, sem contar que foram bem dolorosas para compor também, porque querendo ou não deixo meu coração ali.

O rap têm ganhado cada vez mais espaço no mainstream. Como você enxerga o futuro do rap brasileiro e o seu papel nessa evolução?

O rap é business, assim como qualquer outro gênero em ascensão, mas a parte didática é muito relevante. A perspectiva para os ‘menó’, a abertura para temas relevantes, como saúde mental, sentimentos, acho que meu papel é exatamente esse. Não sou um salvador, mas sempre terei algo que tanto eu quanto você precisaremos ouvir.

Após o lançamento de Onde as Histórias Se Cruzam, quais são seus próximos passos? Podemos esperar uma turnê ou novos lançamentos em breve?

Ah… a gente quer rodar o Brasil todo com esse projeto. Como eu disse é o maior projeto da minha vida até aqui, então se tudo der certo como vem dando, vocês vão presenciar esse disco se tornando a grande realidade que ele já é para mim. Sobre lançamentos, tô bem focado no pós do disco, mas tenho um projeto de drumless em mente, que já ta sendo arquitetado. Porém, sem previsão por enquanto.