Shawn Mendes é um dos maiores exemplos de sucesso da geração que cresceu com a internet. Ele é um adolescente canadense que, aos 14 anos, ganhou milhões de fãs depois que começou a postar vídeos de covers no Vine (RIP), em 2013. Logo assinou contrato com uma gravadora e, em 2015, lançou seu primeiro álbum, que foi direto pro primeiro lugar das paradas em vários países. O seu segundo álbum, “Illuminate”, estava repleto de excelentes músicas pop, como “There’s Nothing Holding Me Back”, “Treat You Better” e “Mercy”. Seus singles estouraram globalmente e Shawn se tornou um dos artistas em ascensão mais empolgantes do mundo pop.
Agora, em 2018, com o lançamento do seu terceiro álbum de estúdio – autointitulado Shawn Mendes – ele parece ter dado um “reset” na sua carreira. Se afastando do pop romântico meloso que o tornou um artista de sucesso, Mendes testa novos sons e busca encontrar sua identidade musical no cenário pop atual. A produção mistura elementos do pop, rock, funk e R&B e o resultado é um disco com uma pegada soul e musicais mais maduras. A influência de artistas como John Mayer, Bruno Mars e Kings of Leon – alguns dos favoritos de Shawn – ficam claras ao longo das 14 faixas do álbum. Para auxiliar nessa busca por uma nova identidade, Shawn teve a ajuda de um time impressionante de colaboradores: John Mayer, Ed Sheeran, Ryan Tedder, Julia Michaels e Khalid.
Aqui, faremos uma resenha detalhada com faixa a faixa do álbum para contar o que achamos das músicas.
Faixa a faixa:
In My Blood: A faixa de abertura do álbum é talvez a mais carregada de emoção. Shawn põe em música seus problemas com depressão e ansiedade e o resultado é uma balada forte e marcante. A maturidade vocal de Shawn impressiona, assim como a musicalidade da bateria e da guitarra acústica. A influência do rock fica clara nessa música, que faz lembrar Kings of Leon.
Nervous: Impossível ouvir sem lembrar de “Bad Liar”, da Selena Gomez. “Nervous” tem a mesma vibe de pop minimalista dos anos 70 e 80 e também fala sobre uma obsessão amorosa. As semelhanças não param por aí: as duas músicas foram compostas por Julia Michaels, compositora queridinha de muitos artistas pop.
Lost in Japan: Um dos grandes destaques do álbum, “Lost in Japan” traz uma mistura de R&B com funk que funciona brilhantemente. “Lost in Japan” foi o segundo single da nova era, o que mostra que Shawn não tem medo de sair da zona de conforto e arriscar com escolher mais ousadas. A junção do arranjo do baixo com os falsetes característicos da voz de Shawn tem como resultado uma música que faz lembrar algo que o Justin Timberlake faria. Recentemente, Shawn postou um making of da música no seu canal do youtube.
Where Were You in The Morning: Romântico e vulnerável, Mendes relembra sua noite com uma menina que foi embora de manhã sem ao menos se despedir. Mais uma vez ele mistura elementos do pop com R&B. A guitarra acústica e as palmas são os elementos essenciais para a atmosfera com toques de blues e soul da música. Nos remete bastante ao trabalho do ídolo de Mendes, John Mayer.
Like to be You ft. Julia Michaels: Julia Michaels é a melhor arma secreta para produzir hits atualmente. A cantora e compositora deixa sua marca inconfundível em todas as músicas que faz parte. E neste dueto não foi diferente. A faixa é gostosa de ouvir e a voz dos dois casa muito bem. A produção ficou por conta do John Mayer, que também toca guitarra na música.
Fallin’ All in You: Desde as primeiras notas da música, já sabemos que tem dedo do Ed sheeran na produção e na composição. O arranjo se assemelha muito ao de “Love Yourself”, presente de Sheeran para Justin Bieber. Até então, é a música que mais remete ao trabalho anterior de Mendes, apostando no formato de balada pop romântica que funciona bem para os artistas pop masculinos.
Particular Taste: Shawn canta sobre uma menina que tem gostos e comportamentos peculiares. Com uma letra mais ousada e uma melodia dançante, Particular Taste lembra o pop dos anos 80. O arranjo do produtor Ryan Tedder, faz com que o instrumental brilhe e a música gruda na cabeça.
Why: “Why do we put each other through hell?”, pergunta Shawn no refrão dessa clássica balada sobre um término de namoro. Com uma letra bonitinha e um violão acústico, a música lembra a época que ele fazia covers na internet. No geral, é uma produção mais genérica, que foge da particularidade mostrada em outros momentos do álbum.
Because I Had You: Ryan Tedder, vocalista do OneRepublic, volta a participar do álbum com essa composição triste e honesta, que une pop rock acústico e elementos do funk tradicional. Mais uma vez, Mendes mostra não ter medo de se abrir e ser vulnerável. Apesar de boa, a música é curta e passa um pouco despercebida no álbum.
Queen: Na música mais fraca do álbum, Mendes alfineta uma mulher que o deixou. A letra é bobinha e machista e destoa das outras composições. Porém, a batida rock-funk se alinha com a maioria do álbum e vemos o Shawn criando uma identidade e um som próprio.
Youth ft. Khalid: Khalid é maravilhoso e um dos artistas mais talentosos da nova geração! O dueto improvável dos dois funcionou muito bem e a música é um dos destaques da carreira de Mendes. “Youth” tem uma mensagem forte e impactante e mostra dois artistas imensos não tendo medo de usar suas plataformas para falar sobre temas sociais importantes. Os dois fizeram uma performance eletrizante no Billboard Music Awards em forma de um protesto a favor do controle de armas de fogo nos Estados Unidos. “You can’t take my youth away, I won’t let it turn into hate”, é a mensagem simples, mas eficaz, da música.
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Mutual: De volta ao tema romântico do álbum, Shawn questiona se a menina que ele gosta também tem interesse nele. A produção é basicamente pop e lembra um pouco alguns dos trabalhos anteriores do cantor.
Perfectly Wrong: A música mais triste e para baixo do álbum fala sobre um relacionamento que deu errado e deixou Shawn devastado. O arranjo é todo acústico e o piano é o grande destaque. Apesar de ser uma boa composição, não funciona bem tão perto do final do CD e desanima um pouco quem está ouvindo tudo.
When You’re Ready: O álbum fecha com essa balada suave, de melodia doce e detalhes líricos muito bem executados. A música termina inesperadamente, em uma nota que deixa o ouvinte antecipando mais. É um arranjo de composições inteligente que faz a música ressoar ainda mais. Mendes toca para sua fanbase adolescente em um álbum que também o está afastando dela.
O que achamos?
Embora Mendes tenha crédito como compositor em todas as músicas, ele parece adotar o som dos compositores com quem está colaborando. Com isso, o álbum parece desconexo em determinados momentos. Ainda assim, Shawn Mendes é o melhor disco dele até então. O jovem de 19 anos evoluiu, mostrou não ter medo de ser vulnerável e de testar novos sons. O álbum parece ser o início de uma nova guinada para o canadense, que funciona tão bem se arriscando no R&B, quanto no pop-rock que já vem fazendo há anos. Contudo, Mendes ainda apresenta dificuldade em se achar entre tantos produtores e compositores.
Nota: 7/10