Criolo lava a alma do público em retorno aos palcos em São Paulo

Faziam mais de dois anos desde a última vez que Criolo se apresentou em São Paulo com seu próprio show. Por muito tempo, os fãs aguardavam não apenas por assistir ao rapper, mas também para escutar novas músicas — uma espera que teve um fim definitivo na noite desse sábado (22), com uma apresentação iluminada no Espaço Unimed.

Ao longo de duas horas, o rapper estreou a sua nova turnê apresentando o seu recém-lançado disco, “Sobre Viver”, ao vivo pela primeira vez em um show solo. Além das canções mais recentes, que já estavam na boca da multidão, os fãs também puderam ouvir alguns dos principais sucessos de sua carreira em um repertório completo, variado e emocionante.

Em entrevista ao Tracklist no início do mês, Criolo comentou sobre como esperava retornar aos palcos: com muita emoção e amor. “Eu pensei que não fosse mais acontecer, sério. Eu fiquei o maior tempão sem escrever antes da pandemia, já tava meio assim comigo…”, disse. “Eu não sei nem como vai ser isso, não tenho ideia de como vai tá o coração da gente, mas a gente vai tá junto ali, vai se apoiar e vamos viver esse momento mágico”.

De fato, a noite foi mágica para todos que estiveram presentes: o show foi um suspiro de alívio para os fãs e para o próprio rapper após a aflição que todos vivemos nos últimos anos, e marcou um retorno triunfal aos palcos em sua cidade-natal. Sensibilizado pelo carinho do público e com a presença de grandes nomes da música brasileira, como Mano Brown e Linn da Quebrada, o cantor abençoou os corações e os ouvidos com a trilha sonora da revolta, mas também da esperança por tempos melhores.

Criolo volta aos palcos de São Paulo com “Sobre Viver”

Antes dos trabalhos começarem, os telões já anunciavam o início do espetáculo com mensagens de conforto à audiência. “Música é encontro”, uma das frases exibidas, resume perfeitamente a atmosfera que tomou o Espaço Unimed: uma reunião de histórias, as de angústias e as de celebrações, batizadas pelo som de um dos grandes nomes da cultura brasileira.

Com meia-hora de atraso, Criolo subiu ao palco ao som dos tambores, levantando o público ao som da refrescante “Ogum Ogum” e das eufóricas “Pretos Ganhando Dinheiro Incomoda Demais” e “Sistema Obtuso”. O rapper não conseguiu esconder a felicidade em nenhum momento da apresentação, espalhando sorrisos a todo momento e declarando aos fãs a alegria em estar de volta.

Não foram poucas as vezes que o cantor se emocionou ao longo da noite, entre momentos em que tentava esconder o choro e outros em que era impossível — e em todos eles, amparado pelos coros da audiência. Um dos fãs levantava uma faixa escrito “Cleane, presente”, em alusão à irmã de Criolo, vitimada pela Covid-19 no ano passado, e chamou a atenção do rapper, que o agradeceu. “A gente preparou isso aqui com todo o amor porque a gente sabia que vocês iam chegar com todo o amor de vocês”, comentou após a performance de “Sucrilhos”.

Acompanhado de DJ Dan Dan e um trio de percussionistas formado por Bruno Buarque, Ed Trombone e Maurício Badé, as músicas ganharam uma segunda força sobre o palco, soando ainda mais pulsantes e impactantes — principalmente as faixas de “Sobre Viver”.. “Moleques São Meninos, Crianças São Também”, uma das faixas mais extrovertidas do disco, foi uma das mais celebradas, assim como “Sétimo Templário”. O sucesso “Subirusdoistiozin” também ganhou uma nova versão, mas não tão empolgante quanto a original.

Ainda entre as faixas mais antigas, “Esquiva da Esgrima”, de 2014, e “Lion Man”, de 2011, foram as primeiras a serem tocadas, além de cantadas em um forte uníssono pelos fãs como um afago depois de anos sem ouvi-las ao vivo. A maior parte do repertório, entretanto, foi formada pelas novas músicas, que também foram bem recebidas pelo público; ao fim de “Diário do Kaos”, Criolo não conseguiu conter as lágrimas e desabou nos ombros de Dan Dan, arrancando os gritos e os aplausos do público, que retribuíram o consolo.

E assim, a noite seguiu: uma poderosa troca de energias que lavou a alma de todos os presentes, tanto aqueles sobre o palco quanto aqueles na pista — e até mesmo aqueles nos camarotes ou no mezanino, a quem o rapper brincava sobre “não ouvirem tão bem quanto aqui embaixo”. O clima não era só emocionante, mas também emanava esperança entre os versos das músicas, uma das mensagens mais simbólicas de “Sobre Viver”.

Criolo não cantava sozinho sobre a esperança: a apresentação contou com várias presenças ilustríssimas que levantaram os fãs. Depois de “Me Corte na Boca do Céu a Morte Não Pede Perdão”, Linn da Quebrada foi chamada ao palco de surpresa e cumprimentou o público junto ao rapper, sendo ovacionada e recebida com todo o carinho.

“Não Existe Amor em SP”, um dos maiores sucessos do artista, foi uma das mais cantadas da noite, dando fim à primeira parte do show junto a “Aprendendo a Sobreviver” e “Quem Planta Amor Aqui Vai Morrer”. Sob os pedidos de bis, a banda se reuniu em um dos cantos do palco para apresentar o samba “Menino Mimado”, e logo em seguida pediu para toda a plateia se agachar antes da explosão de “Grajauex” em uma das melhores e mais animadas performances do show.

O poderoso refrão de “Convoque Seu Buda” foi entoado aos pulmões pelos fãs, anunciando o fim da apresentação ainda antes de “Nas Águas”, uma última bênção antes de deixarem o palco. Porém, Criolo retornou com o restante da banda para uma repetição de “Pretos Ganhando Dinheiro Incomoda Demais”, despedindo-se em definitivo com ninguém mais, ninguém menos que Mano Brown ao seu lado, que acompanhou a performance nos bastidores. O encontro intensificou a euforia da multidão, que já estava entregue ao momento.

Foto: Anderson Carvalho (@anderscarvalho) / Espaço Unimed (@espacodasamericas)

A noite no Espaço Unimed marcou não somente o retorno de Criolo aos palcos, mas também acendeu uma faísca de luz depois de tempos tão sombrios. Em uma atmosfera única e com um verdadeiro espetáculo, o rapper abraçou, por meio de sua música, a todos que precisavam escutar sobre a esperança e celebrá-la nos mais altos coros.

SETLIST:
1. “Ogum Ogum”
2. “Pretos Ganhando Dinheiro Incomoda Demais”
3. “Sistema Obtuso”
4. “Esquiva da Esgrima”
5. “Lion Man”
6. “Subirusdoistiozin”
7. “Yemanjá Chegou”
8. “Moleques São Meninos, Crianças São Também”
9. “Sucrilhos”
10. “Fellini”
11. “Me Corte na Boca do Céu a Morte Não Pede Perdão”
12. “Diário do Kaos”
13. “Sétimo Templário”
14. “Não Existe Amor em SP”
15. “Aprendendo a Sobreviver”
16. “Quem Planta Amor Aqui Vai Morrer”