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As ideias da nova turnê do Coldplay e o futuro sustentável dos shows

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Foto: Divulgação

Em novembro de 2019, Chris Martin, vocalista do Coldplay, declarou em uma entrevista à BBC que suspenderia os shows internacionais ao lado da banda para “entender como as turnês poderiam ser não apenas sustentáveis, mas também ativamente benéficas”. Nos meses seguintes, enquanto o show business se movimentava no ambiente online durante a pandemia, o grupo trabalhou para encontrar novos meios de tornar suas apresentações mais sustentáveis.

A preocupação não é recente: o cantor é um dos embaixadores do Global Citizen, movimento que procura combater a pobreza e a miséria pelo planeta, há anos e colabora na busca por soluções para diminuir o impacto ambiental nos últimos anos junto à organização, repensando não apenas as logísticas de seu trabalho, mas também a sua influência como artista para chamar atenção à causa ambiental.

Na semana passada, o quarteto britânico anunciou seu retorno aos grandes palcos com a “Music Of The Spheres World Tour”, turnê que tem início em 2022 e passará por países de todo o mundo — inclusive o Brasil, com uma apresentação agendada para o Rock In Rio no dia 10 de setembro. Além das datas, a banda divulgou várias medidas voltadas para a sustentabilidade de seus shows, o que pode indicar um futuro cada vez mais renovável para a música.

O Tracklist listou algumas das ações que o Coldplay propõe para os seus shows a partir do ano que vem e que, a depender de seu êxito, podem ter um grande impacto nas formas de um artista se apresentar e servir até mesmo como um modelo para os próximos anos.


Uma turnê sustentável do Coldplay

Em um comunicado divulgado em seu site oficial, o Coldplay falou não só sobre a alegria de retornar aos palcos, mas também a importância de encontrar maneiras sustentáveis de se apresentar em 2022. “Planejamos essa turnê por anos, e estamos super animados em tocar músicas de todo o nosso tempo juntos”, declarou o grupo. 

“Ao mesmo tempo, estamos muito conscientes que o planeta está enfrentando uma crise climática. Então nós passamos os últimos dois anos consultando especialistas no meio ambiente para tornar essa turnê a mais sustentável possível, e, tão importante quanto, aproveitar o potencial da turnê para levar as coisas para frente. Não vamos acertar em tudo, mas estamos dispostos a fazer tudo que podemos e compartilhar o que aprendemos. É um trabalho em progresso e estamos realmente gratos pela ajuda que tivemos até agora.”

A banda desenvolveu um plano completo de sustentabilidade para a turnê, abrangendo questões desde os detalhes técnicos da realização dos shows até o transporte da equipe, com o intuito de trabalhar para reduzir as emissões de carbono em todas as etapas da apresentação a partir de três grandes objetivos: reduzir, reinventar e restaurar.

Cada proposta apresentada pelo grupo é pensada em torno desses três princípios, propondo alternativas sustentáveis para várias áreas que envolvem as turnês, como as fontes de energia, as viagens, a alimentação, a montagem dos palcos e a participação dos fãs. A principal ideia do grupo é não só adotar medidas benéficas para o meio ambiente, mas também incentivar o público a se envolver nas ações.

https://twitter.com/coldplay/status/1448619764654485512


Redução da emissão de carbono

A principal meta do plano de sustentabilidade é reduzir a emissão de dióxido de carbono (CO2) de todos os shows pela metade em comparação à última turnê da banda, realizada entre 2016 e 2017. Todas as operações dos shows serão readaptadas para minimizar ao máximo as emissões em cada etapa da logística, evitando combustíveis fósseis e usando energia limpa e materiais que sejam sustentáveis sempre que possível, ao mesmo tempo que o grupo continuará a medir o impacto climático de suas operações.

As localidades da turnê foram organizadas de maneira a reduzir as viagens aéreas, embora ainda tenham lugares que a equipe deverá se locomover de avião. O quarteto afirma que, quando possível, usará veículos elétricos ou transportes com biocombustível; quando for necessário viajar de avião, o grupo disse que pagará uma taxa adicional para usar combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês), feito de resíduos renováveis e com capacidade de reduzir as emissões de viagens aéreas em até 80% no decorrer de sua vida útil.

A banda admite, entretanto, que apesar dos melhores esforços, os shows inevitavelmente terão um impacto significativo. Por isso, o segundo principal objetivo da turnê seria reduzir uma quantidade de CO2 maior do que a que os shows produzem apoiando e financiando diversos projetos ambientais, relacionados ao reflorestamento, à conservação da natureza, à limpeza dos oceanos e à proteção da vida selvagem.

Para cada ingresso vendido, o Coldplay também se propõe a plantar uma árvore em localizações selecionadas pela equipe, como parte do projeto “One Tree Planted” em parceria com outros programas de reflorestamento pelo mundo — incluindo o Raízes do Mogi Guaçu, criado pela WWF Brasil no Rio Mogi Guaçu, na Mata Atlântica.


Novas alternativas para a energia dos shows

Uma apresentação com tantos efeitos pirotécnicos e visuais como a do Coldplay certamente demanda um grande gasto de energia elétrica, mas o grupo tem trabalhado em alternativas dentro de seus próprios shows, aproveitando-se dos estádios e também da audiência.

A equipe instalará painéis solares no palco, nos arredores e no piso dos estádios antes da entrada do público, de forma a guardá-la para usá-la próximo ao horário da apresentação. Além disso, a banda também afirmou que, quando possível, obterá 100% da energia por meio de fontes renováveis (o que justifica o início da turnê ser na Costa Rica, país onde 99% da energia elétrica é renovável) e abastecerá os transportes da equipe com HVO, combustível renovável conhecido como “diesel verde” que, quando consumido, é capaz de quase zerar a emissão de dióxido de carbono.

O grupo tem planos para prover eletricidade durante os shows. Logo após a entrada do público, a equipe instalará um piso cinético sobre o solo dos estádios para captar os movimentos da audiência ao longo das apresentações, convertendo-os em energia que será utilizada para abastecer o palco. A banda também anunciou que desenvolveu uma bateria móvel e recarregável em parceria com a BMW, usando componentes de baterias recicláveis BMW i3 para abastecer os shows a partir de energia renovável e as realimentando ao final de cada noite.

O quarteto tem ideias para mitigar o impacto ambiental em relação à montagem dos palcos e os preparativos dos shows. No plano, a banda afirmou que os palcos serão construídos de materiais reusáveis (como bambu e aço reciclado) que possam ser reaproveitados ao longo da turnê, enquanto as telas LED, os sistemas de som, de laser e de iluminação serão substituídas por equipamentos que reduzam em até 50% o consumo de energia. Os confetes serão 100% biodegradáveis e as pulseiras LED, uma tradição das apresentações do Coldplay, serão produzidas de materiais vegetais totalmente compostáveis, e os componentes eletrônicos reutilizados nos próximos anos.

Foto: Divulgação


Por fim, as logísticas por trás da alimentação e das vendas da “Music Of The Spheres World Tour” também foram repensadas. A banda disponibilizará água gratuitamente nos shows em copos reusáveis de alumínio, deixando de lado as garrafas de plástico e incentivando os fãs a levarem garrafas reutilizáveis. Já os alimentos à venda serão providos por fornecedores locais ou fazendas que trabalhem com agricultura regenerativa; os cardápios terão opções vegetais e veganas como padrão, e todo o lixo orgânico proveniente da alimentação será compostado sempre que possível.

Todos os produtos comerciais da turnê, como roupas e acessórios, serão feitos de material sustentável e livre de plástico. O grupo também exigirá aos vendedores que provem seu compromisso ético, incluindo salários justos entre os funcionários e boas condições de trabalho.

A turnê de 2022 servirá como uma base para o Coldplay avaliar as medidas, visando melhorá-las para os próximos anos e incentivando outros artistas a adotarem o mesmo protocolo em suas apresentações. Tendo em vista que shows de música ao vivo podem ter um impacto significativo no meio ambiente, o plano de sustentabilidade para a banda pode ser um modelo a ser seguido e aperfeiçoado no show business diante do momento de urgência que o planeta vive.

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