De forma grandiosa e enriquecedora, o maior grupo musical da atualidade desvenda a psicologia e a transforma em cantos sofisticados e sábios. Lançado há dois anos, em 21 de fevereiro de 2020, “Map of the Soul: 7”, do BTS, supera as expectativas e torna o conjunto em um dos mais sagazes e talentosos artistas da indústria fonográfica.
Após se aventurar na era “Love Yourself” em busca do amor próprio e da luta consigo mesmo, os superstars mergulham de cabeça em uma produção musical complexa, significativa e elementar construída por uma longa jornada discográfica, na qual se concretizou em uma série de álbuns.
Iniciada em “Map of the Soul: Persona” (2019), a fase MOTS demonstrou a potência artística, lírica, performática e simbólica do grupo. Em “Map of the Soul: 7”, BTS explora ritmos, narrativas e arcos individuais protagonizadas por cada um dos sete membros.
Embora coletivo, o projeto referencia e apresenta os integrantes de modo mais maduro e desafiador. Baseado no livro “Map of the Soul” (1998), de Dr. Murray Stein, a obra literária se funde em um mundo sonoro, na qual evidencia teoricamente o campo da Psicologia de Carl Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica.
Nas próprias palavras de Stein, o livro descreve o profundo universo da psique e suas estruturas críticas que esmiúça a mente humana. “É o mapa de um mistério que não pode, em última instância, ser captado em termos e categorias racionais. É o mapa de uma coisa viva, palpitante, mercurial — a psique.” (STEIN, 2006, p. 15)
Em outras palavras, o disco reúne 20 faixas bem trabalhadas e excepcionalmente representantes de um círculo psicológico e intimidador vivenciado pelo sujeito, desbravando a interpretação do público sobre infinitos cenários que tormentam a vida e caminho de setes indivíduos coreanos que ascenderam rapidamente no meio de uma sociedade que estigmatiza o sucesso e a fama.
Relembre os marcos de “Map of the Soul: 7”!
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O bem-sucedido encontro de estilos musicais em um álbum coerentemente diverso
Aparentemente pensado para ser um grupo de hip-hop, o BTS quando formado se consagrou em um novo rosto do K-pop. Com sete membros, três rappers e quatro vocais, os aspirantes a ídolos do mercado fonográfico sul-coreano desenvolveram uma maneira de incluir todos os gostos e habilidades dos músicos em sua longa discografia.
Desde “2 Cool 4 Skool” sempre foi perceptível o mix de gêneros e ritmos encontrados em suas canções. Logo, aqui em “Map of the Soul: 7”, isso não seria diferente!
De sons latinos como em “Filter”, solo de Jimin, ao espetáculo sonoro de “Black Swan”, onde é notório a presença de elementos asiáticos e clássicos, o projeto concretizou-se em um copilado de melodias executadas com maestria e qualidade.
Mesmo no mais pop da música como em “Boy With Luv”, faixa reaproveitada do “Persona”, ao lado de Halsey, a cantoria e o estilo depositados nela são excelentemente únicos. É como se automaticamente os ouvidos do público identificassem o conjunto como intérprete da faixa.
Conhecidos por trajarem de uma personalidade forte e inconfundível, neste álbum as canções se entrelaçam por meio da diversidade sonora que tanto marcam sua história musical. Seja nas mais rebeldes e violentas experiências como em “UGH”” e “Dionysus”, BTS somente procura se desprender de rótulos já postos pelo k-pop.
Aliás, como artistas há quase dez anos na estrada, o que mais os setes pretendem fazer é desvincular sua imagem de apenas uma só marca musical, não que estar associado ao k-pop seja um problema, ao contrário, é um grande feito como homens amarelos vindo da Coreia do Sul, mas é também importante mostrar ao Ocidente e a indústria musical que os mesmos podem atravessar inúmeros e diferentes estilos, tudo isso sem precisar perder a essência como manifestantes da arte.
Em contrapartida ao padrão do mercado, em “MOST7” as estrelas deslizam por novas táticas musicais. O medo de tentar pontes sonoras ainda não exploradas é compreensível para cantores já estáveis e popularmente conhecidos. No entanto, a sagacidade e comprometimento para se converterem em ícones soa maior. Talvez, por isso, a existência da faixa “Louder Than Bombs”, co-escrito por Troye Sivan, favorita entre os fãs, e de longe, o mais alto nível da excelência artística e lírica dos astros.
A persona presente nas canções de “Map of the Soul: 7”
Após a introdução das músicas do “Persona” no material discográfico mais vendido de 2020, o BTS inicia uma jornada para alcançar o público através de suas letras quase como cartas abertas.
Partindo do interlúdio “Shadow”, cantado por Suga, em que o rapper enfrenta os mais obscuros sentimentos frutos da atordoada vida de uma estrela da música, MOST7 tende a encontrar e unir um indivíduo ao outro, no qual as principais características são de naturalmente estar ligados a um redemoinho de más vivências, essas que particularmente formam um ser diante da sociedade.
De acordo com Carl Jung, autor do livro que inspirou a produção do disco, “a persona é a pessoa que passamos a ser em resultado dos processos de aculturação, educação e adaptação aos nossos meios físico e social.” (STEIN, 2006, p. 101). Dessa forma, tanto dentro das faixas em conjuntos como ON quanto nas b-sides solos como “My Time”, de Jungkook, é fácil perceber o afloramento de uma psique aventura que transparece uma estrutura psicanalítica honestamente baseada nas alegrias e terrores que consomem as celebridades.
“Uma mensagem que penetra no álbum como um todo é que você deve encarar sua sombra interior, mas resistir a ficar submerso em suas profundezas”, explicou Suga na coletiva de imprensa do material.
Mesmo em “Friends”, música em conjunto de Jimin e Taehyung, é identificável a presença de um roteiro real, performado por dois grandes amigos de infância que hoje enfrentam juntos um dinâmico ciclo de ideias e sensações. A dupla compartilha de ações, desejos e sentimentos, nos quais a amizade e a lealdade é o presente mais importante que ambos podem ganhar um do outro.
Assim como na unit, a mensagem encontrada no solos de J-Hope, Jin e RM é dedicada exclusivamente para suas próprias emoções e experiências.
“Outro: Ego” traça o seu pessoal em uma composição debruçada sobre um som vibrante groove. “Moon” conta a história de Jin com o Army. um artista em constante paralelo com o seu próprio fandom, como se fosse um agradecimento a tudo que é e conquistou devido ao público. Enquanto isso, RM busca questionar sobre si mesmo até encontrar a resposta: ele é o anti-herói de sua própria história.
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