Você já imaginou Nirvana e Carnaval juntos em um único som? Parece impossível, mas uma banda lá de Pernambuco nos provou que não é e que há espaço para inspirações vindas de todos os gêneros musicais, o segredo está em saber combiná-las. A banda Eddie, que está na estrada há 33 anos, é um grupo de cinco integrantes que se juntaram no finalzinho dos anos 80 para transformar a música em um meio de luta social.
Conheça mais sobre a banda Eddie
Eddie, formada em 1989, é composta por Fábio Trummer (voz e guitarras), Alexandre Urêa (percussão e voz), Andret Oliveira (trompete, teclados e sampler), Rob Meira (baixo) e Kiko Meira (bateria). Desde seu início, a banda é muito envolvida com punk rock, surf music, reggae, frevo e samba, além de uma paixão por Carnaval.
Assim como muitas bandas nos anos 80 e 90, Eddie nasceu de uma vontade não só de produzir música, mas também de se posicionar sobre as questões políticas, econômicas e sociais da época, se tornando pioneira no manguebeat. Então, muitos de seus antigos projetos e até os lançados recentes seguem uma linha ideológica similar à Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude e Barão Vermelho.
Muito conectados à música desde pequenos, os integrantes já experimentavam no meio musical antes da criação da banda. Porém, foi quando se juntaram que a magia aconteceu. Reunindo suas visões de mundo, inspirações e instrumentos, a banda Eddie surgiu e cria até hoje, mesmo 33 anos depois, um som autêntico e cativante.
Um dos grandes diferenciais de sua música é a mistura de gêneros musicais. Em uma só música da Eddie, você pode encontrar as mais diversas inspirações, indo de Nirvana até Carnaval, mas isso nem sempre foi visto com bons olhos. Sendo em sua maioria rockeiros, os integrantes da banda chegaram até a sofrer um certo preconceito por gostarem tanto de sonos carnavalescos. Porém, eles encontraram um jeito de unir essas paixões e conquistaram o coração dos pernambucanos, que contam os dias para ver a banda no famoso Carnaval de Olinda.
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A banda Eddie se juntou à festa mais animada do Brasil quando estava acontecendo uma certa modernização em suas músicas típicas, que agora vão além de marchinhas e têm uma parte mais tecnológica e uma forte presença da guitarra. Isso foi, segundo eles, um “divisor de águas” no Carnaval e abriu portas para que artistas que misturam frevo com punk rock cantassem em outros palcos. Grande parte dos créditos por essa revolução vai para Bell Marques, vocalista do Chiclete com Banana, Alceu Valença, a dupla Dodô e Osmar e mais.
Confira “Atiça”, lançamento da Eddie
Em seu oitavo álbum, a banda Eddie traz mais uma vez um alto poder de ato revolucionário, com simbolismos sinceros, mas despretensiosos. Com a polarização atual do país, os artistas usam sua música para trazer outros pontos sociais relevantes à tona e que muitas vezes podem ser esquecidos.
Nesse projeto, que se iniciou antes da pandemia e foi finalizado durante, o quinteto compartilhou seus próprios sentimentos sobre esse momento e também de outras pessoas, cedendo a voz à elas. Segundo Fábio Trummer, “há músicas e músicas para cada artista” e isso é uma particularidade que deve ser valorizada. Por isso, Sofia Freire e tantos outros artistas colaboraram no álbum com seus talentos e histórias, trazendo singularidade e identificação.
Uma das faixas que nos chama a atenção é justamente a que nomeia o projeto. “Atiça” foi pensada a partir do desenho feito por uma criança, da Favela da Maré, sobre os tiros dados dos helicópteros em confrontos policiais no Rio de Janeiro. Além dessa, temos as favoritas de Fábio Trummer e Andret Oliveira: “Na Copa dos Edifícios”, que trata sobre o isolamento social e seus efeitos psicológicos; “Para Nossos Filhos”, uma música feita para homenagear a família, sem clichês de gênero e com uma leveza necessária atualmente.
“Atiça” foi desenvolvido a partir da necessidade dos artistas de trazer um pouco de aconchego e carinho em um período que se sentir assim parece difícil. Mesmo com cada um em sua casa, Eddie conseguiu formar um álbum com um pouco de cada integrante e um desejo por dias melhores.