“Boyhood” é um filme de 2014 e atraiu muita atenção na época por ter sido um dos filmes mais longos já feitos: ele levou 12 anos para ser finalizado. A história contava com o crescimento e envelhecimento de todos os atores, acompanhando as temporalidades de cada um deles, sem ninguém ter sido substituído durante o processo.
Na época, com 16 anos, fiquei muito interessada no conceito. Fui assistir, mas lembro de ter ficado muito mais que as 2h45 de filme pra terminar. Saia pausando toda hora porque achei chato, monótono e não me trazia entretenimento. Apenas tristeza.
Pois bem. Aqui 7 anos depois lembrei que apesar de ter sido um momento ruim assistindo, não lembro mais exatamente o porquê de ter me causado tanto desconforto, a trilha sonora era interessante. E em minha cabeça lá fui eu passar raiva e tristeza mais uma vez pela música. E fui surpreendida.
O filme me trouxe tremendo conforto porque consigo enxergar aqui, aos 23 anos, que ele talvez só seja uma pequena mostra da vida e nos faz refletir e aceitar várias coisas. Sem romantizar os fatos. Tem hora que as coisas dão certo, outras que não. E tudo bem, só abrace e tente viver. E o filme traz isso minuciosamente, seja nos momentos ou na trilha.
A relação da música com Boyhood
Ele começa tocando “Yellow”, do Coldplay, enquanto Mason, um dos personagens, está deitado na grama observando o céu. Achei uma cena bonita, quase que representando a inocência da infância e admiração das pequenas coisas.
Uma coisa que me chama bastante a atenção é que a trilha é colocada de forma não usual, na qual na maior parte do tempo ao invés das músicas serem tocadas sua versão original, ela é cantada ou até mesmo apenas referenciada. E ela dá a noção de temporalidade: através da música que é transmitida em uma cena, você consegue ter uma noção ali de que ano era mais ou menos. O que é legal , já que o filme inteiro se passa por 12 anos diferentes.
Ainda nos minutos iniciais, o clássico do pop “Oops!.. I did it Again” da Britney Spears é cantado por Samantha, irmã de Mason, em uma cena enquanto implica com ele e de forma bem leve, que não se esperaria da música encaixar. Além dela, dão essa noção de anos 2000 quando são tocadas ou cantadas músicas do Blink 182 e High School Musical (me senti muito nostálgica nessa parte, saudades da minha infância).
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Cenas que se destacam
Conforme as crianças vão crescendo, o estilo da trilha vai mudando. Você começa a perceber o início da adolescência dos personagens, envelhecimento dos pais e início dos anos 2010. Duas cenas me encantaram: a primeira, quando um dos amigos de Mason o deixa em casa de carro de madrugada e ele está um pouco bêbado e fumando. De fundo, é possível escutar Kings of Leon tocando. O que poderia ser mais o adolescente cool do início dos anos 2010 que Kings of Leon de trilha acompanhando a vida?
Já a segunda, é quando Mason e Samantha estão indo viajar com o pai e no carro uma cena de um clipe de “Telephone” da Lady Gaga com a Beyoncé aparece no iPod de Samantha. A madrasta pergunta algo como “como a sua mãe te deixa assistir isso?”, e, por fim, diz que vai comprar ingressos para verem o show da Lady Gaga. É legal ver isso em 2021 e relembrar quando Lady Gaga era considerada a coisa mais estranha e diferente da cultura pop. Gigante. Ainda nesse momento do carro, o pai presenteia Mason com o “Black Album” dos Beatles, falando tudo sobre ele e como é uma linda produção. Mais uma vez, a música sendo colocada nos filmes de uma forma diferente como estamos acostumados.
Indie como representação da adolescência e amadurecimento
A trilha vai evoluindo pro indie rock e indie pop, acompanhando as idas as festas, viagens e entrada na faculdade dos personagens. Bandas como Phoenix, Vampire Weekend, The Black Keys, Atlas Genius e Arcade Fire marcam cenas bem legais de assistir. Bandas que estavam em alta ali por 2010 até 2014, mais ou menos. Até o grande sucesso “Somebody That I Used To Know” acaba entrando no filme. É lindo.
Conclusão
Se você sente falta de viver a vida fora de casa, ver as coisas mudando e evoluindo, assista Boyhood. Mesmo se já assistiu e odiou de primeira. Confesso que tem um outro significado da segunda vez. É perceber e ver que de fato é um filme muito bem pensado em todos os seus aspectos e que nenhuma música ou referência musical está ali à toa. E que a vida segue, a gente querendo ou não. Devemos abraçá-la com força e tentar viver do jeitinho que queremos, junto da música. Filme 10/10 que me trouxe pequena felicidade e abraço nos atuais momentos caóticos.