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Review: “Gloria”, de Sam Smith, é uma ode à liberdade criativa e espiritual

O álbum foi lançado na sexta-feira (27)

"Gloria" é o quarto álbum de estúdio de Sam Smith | Foto: Divulgação

Nem só de dor de cotovelo vive um artista. Aparentemente, foi isso que Sam Smith aprendeu nos últimos anos e transpôs em sentimento em seu quarto álbum de estúdio, “Gloria”, lançado na sexta-feira (27). A voz de “Stay With Me” parece, finalmente, ter encontrado uma boa dose de amor próprio para dar e vender (literalmente). 

Ainda assim, Smith não pretende, em momento algum, se desgarrar por completo dos ritmos que modelaram seu caráter musical, como o R&B, o blues e o jazz. No entanto, é em “Gloria” que vemos uma faceta mais entusiasmada de sua personalidade – ou, como as redes sociais gostaram de definir, “o dia que Sam Smith decidiu ser feliz”.

“Gloria” explora novos horizontes

Um ponto fora da curva, Smith não tem medo de ser uma pessoa intensa e, até certo ponto, com certa ingenuidade para o amor. Um exemplo disso é o hit “How Do You Sleep?” (2019), no qual Sam descobriu seu talento para o pop. No entanto, “Gloria” aposta no amor sob outra perspectiva: muito mais interiorizada, mas que é capaz de explodir em autoestima. Não à toa, a obra é iniciada com uma espécie de carta pessoal em “Love Me More”. 

Em “Gloria”, o conceito segue suas raízes, utilizando o tenor de sua voz, marcante em baladas e em flertes com o jazz, mas aproveita para ser um pouco mais extrovertido. Dessa vez, Smith explora suas principais influências, como o disco music e o sintético oitentista (ritmo ascendente nos últimos anos), algo que podemos sentir em “Lose You”; mas não tem receio de ser mais agressivo. Isso foi perfeitamente orquestrado em “Unholy”, parceria com Kim Petras, um dos principais hits de 2022.

Mas se engana quem pensa que Smith está tentando dar um passo maior do que deveria. Ainda que tenha se blindado nessa obra em parcerias com ícones do pop, como Ed Sheeran e Calvin Harris, em nenhum momento existe a mensagem de que estará “mudando os rumos” de sua carreira. 

Isso fica evidente em faixas como “How To Cry” e “Six Shots”. O tempo inteiro, Smith está transitando entre o que faz de melhor (faixas mais melódicas), e o que é capaz de fazer muito bem (faixas muito mais dançantes). Tudo sem soar pretensioso, ainda que algumas faixas pareçam “mais do mesmo” em sua discografia, e que não sigam uma linearidade. Não existe um clímax, mas sim uma passagem por vários estilos diferentes.

Atmosfera espiritual

Essencialmente, “Gloria” é construído em camadas, rico em estética e referências. Para um fã mais atento, podemos definir o disco como a temática “Corpos Celestes”, que marcou um dos anos mais marcantes do MET Gala, em 2018.

Um exemplo disso, além do próprio lead single “Unholy”, a faixa “I’m Not Here To Make Friends”. A estética sonora se assemelha aos trabalhos de Madonna e Cher, na qual Smith é capaz de transitar entre a nostalgia e, ao mesmo tempo, o contemporâneo exigente de um gênero como o pop. 

Um recurso interessante utilizado na faixa são recortes de áudios de paradas LGBTQIA+, e a voz da drag queen RuPaul, com seu recado mais emblemático: if you can’t love yourself, how in hell are you gonna love somebody else? (Se você não consegue se amar, como você vai amar outra pessoa?) Definitivamente, essa é a mensagem do disco.

Em suma, “Gloria” é um álbum que explana o processo de cura, mas muito mais leve, ainda que Smith não tenha deixado de ser uma pessoa intensa. Talvez falte um pouco mais de momentos que “peguem fogo”, como acontece nas faixas mais dançantes – que são poucas. Mas comparando a narrativa com seus trabalhos interiores, é interessante poder sentir seu crescimento a nível pessoal e musical. Definitivamente, uma das fases mais interessantes para acompanhar.

Nota: 8,5/10

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