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Review: Harry Styles consolida sua identidade artística em “Harry’s House”

Coeso, maduro e sincero, o novo álbum do cantor britânico representa o atual momento de sua carreira

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Foto: Divulgação

Harry Styles continua firme em sua escalada na indústria musical – tanto no quesito comercial quanto em seu próprio desenvolvimento artístico; e “Harry’s House” eleva-o para um patamar superior. O álbum, que possui data de lançamento marcada para a próxima sexta-feira (20), mostra o cantor em uma etapa mais madura e sincera de sua carreira.

O primeiro single de sua nova era, “As It Was”, representa bem essa nova fase. Lançada no final de março, a música expressa sentimentos conflitantes. Sua produção lustrosa e alegre, composta por elementos de synthpop, contrasta com os vocais calmos e descontraídos do intérprete. A letra indica uma certa melancolia, o trazendo uma nova camada de profundidade para a faixa. Ele canta: “Atenda o telefone / Harry, você não fica bem sozinho / Por que você está sentado no chão da sua casa? / Que tipo de pílulas você tem usado?”

A canção rapidamente se transformou em um viral. A faixa já soma três semanas no topo da Billboard Hot 100 e mais de 40 dias na primeira colocação do Spotify Global. Ele a apresentou ao público pela primeira vez no Coachella 2022 – evento em que o artista esteve presente como headliner, o que é, por si só, mais uma grande conquista.

Além disso, Styles tem investido mais em sua carreira como ator. Em novembro de 2021, ele fez seu debut no Universo Cinematográfico Marvel, aparecendo como o personagem Starfox em uma cena pós-crédito de “Eternos”. Ele também estará presente em duas estreias deste ano, “Não se Preocupe, Querida” e “My Policeman”.

No entanto, é evidente que sua segunda ocupação não prejudicou em nada sua atividade musical. Pelo contrário: “Harry’s House” representa a consolidação de sua identidade artística.

Lado A e o foco comercial de “Harry’s House”

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Foto: Divulgação

De acordo com a tracklist oficial, “Harry’s House” é dividido em duas partes – Side A e Side B, como em discos de vinil. Nesse sentido, a separação parece ter sido de forma consciente. Isso pois, no primeiro lado do álbum, vemos um ângulo mais comercial e palatável. No entanto, essa característica está longe de ser um ponto negativo.

Logo no início, o ouvinte encontra duas faixas-foco do trabalho. “Music For a Sushi Restaurant” é uma abertura explosiva, animada, dançante. Seu refrão apresenta trompetes explode em um coro de “Ba, ba-ba / You know I love you, babe”. É uma música pop que remete a outras décadas – traço presente em todo o álbum – e com um quê de funk. Logo depois, chega “Late Night Talking”, canção já apresentada ao público através da última edição do Coachella. Ela é romântica e otimista, e divide muitas semelhanças com a anterior.

Na sequência, “Grapejuice” caminha para um indie pop oitentista. É uma faixa sólida; porém acaba perdendo destaque por estar encaixada entre grandes destaques do álbum. Assim, ela acaba funcionando como uma transição para “As It Was”, que brilha ainda mais no contexto do disco.

“Daylight” traz mais elementos de synthpop, e seu compasso mid-tempo ganha um ar sonhador com a interpretação agradável de Harry. Já “Little Freak” é mais um ponto forte do projeto – no ritmo, ela expressa uma desaceleração em relação às canções anteriores; e a calmaria é muito bem-vinda. Há muita harmonia nos vocais, e a letra é propensa a arrancar muitos suspiros. “Eu estava pensando sobre quem você é / Seu delicado ponto de vista / Eu estava pensando sobre você”, canta Styles.

“Matilda” combina perfeitamente com a música antecedente. Sua produção é simples, e constitui-se, essencialmente, por violão e piano. Graciosa e melancólica, a música representa o fechamento do primeiro lado do trabalho.

Harry Styles manifesta experimentação e versatilidade no Lado B

Foto: Divulgação

Tradicionalmente, o Lado B de um disco é um espaço aproveitado pelos artistas para explorar novas possibilidades e entregar títulos mais experimentais. Sincronicamente, a segunda parte de “Harry’s House” mostra uma faceta mais ousada do cantor; e, de certa forma, mais sincera.

“Cinema” também é uma abertura suave. Seus atributos de soft indie se fundem perfeitamente a aspectos do disco e até mesmo do jazz. Ela é completamente linear, mas seu último refrão eleva a canção completamente, apresentando ad-libs de Styles. Os mesmos elementos podem ser vistos em “Daydreaming”, mas esta é muito mais enérgica. Aqui, Harry entrega, possivelmente, uma das melhores performances vocais de todo o álbum. Ao final, fica a sensação de que a música deveria ser mais longa.

Em sequência, “Keep Driving” é uma faixa que, ironicamente (ou não), se encaixaria perfeitamente em uma playlist de uma viagem pela estrada. Mas, apesar da superfície inocente da introdução, a letra cria um clima sombrio.

Com “Satellite”, o projeto sobe de nível mais uma vez. É a representação perfeita do álbum: uma pegada de pop rock oitentista e soft indie, com sintetizadores usados de forma branda e elegante. O início é tranquilo, e a música ganha vida no refrão; mas é depois do segundo pós-refrão que ela chega ao seu ápice. E, quando esse momento chega, é explosivo. Ela é encantadora e melódica. É sentimental e imponente, mas de forma serena.

O álbum termina de forma lenta. “Boyfriends” também foi apresentada no Coachella, e retrata um relacionamento tóxico. O fechamento se torna ainda mais melancólico e pessoal com “Love Of My Life”. “Não era o que eu queria, deixar você para trás […] Mas, baby, você era o amor da minha vida”, finaliza Harry.

Conclusão

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Foto: Divulgação

Em seu álbum autointitulado, Harry Styles entrega uma união de suas influências. Apesar de ser um projeto consistente para os primeiros passos de sua carreira solo, a individualidade não era uma característica marcante do disco. Isso mudou em 2019, com o lançamento de “Fine Line” – que trazia surpresas como “Lights Up”, “Watermelon Sugar” e a suntuosa “She”.

No entanto, é em “Harry’s House” que o artista parece ter encontrado a sua marca. Ele se mostra seguro e sem medo de ousar. Se há algum problema com o álbum é que, no geral, o Lado A pode dar aos ouvintes a impressão de ser invariável.

É evidente que todas as músicas possuem particularidades; no entanto, quando colocadas no projeto completo, percebe-que que as estruturas seguem uma mesma lógica. Isso muda, porém, com as canções do Side B, gerando uma reviravolta no trabalho, sem sacrificar a sua coesão.

Nota: 8.5/10

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