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Review: Black Eyed Peas retorna as pistas com o Translation, seu novo álbum

por Allan César e Fernando Marques

Black Eyed Peas está de volta às pistas com o novo e recheado disco Translation. O grupo, que passou pelo Brasil no final do ano passado, investiu pesado no reggaeton e em grandes nomes da música latina e mundial. 

Hoje, eu, Fernando Marques e meu grande amigo Allan César nos unimos mais uma vez para falar desse disco que chegou na hora certa: de ter uma distração após 100 dias de quarentena.

Um panorama geral antes de entrarmos no faixa a faixa, o Black Eyed Peas acertou a mão em cheio, tanto no disco, como nas parcerias. São somente alguns poucos pontos de atenção, que poderiam ter tornado o disco em uma jornada não tão longa, mas com os mesmos elementos.

1 – RITMO (Bad Boys for Life) feat. J Balvin

ALLAN: A faixa que abre o disco foi o primeiro hit da era. Parceria mais que certeira com J Balvin, Ritmo foi uma das grandes canções do ano passado e com certeza é marco para essa nova era do BEP. Com quase 700 milhões de views, a música tem sample de “the rhythm of the night” da cantora Corona, sucesso dos anos 90. Ela é uma delícia, não tem o que contestar. E ah, queria muito saber o que aconteceu com o remix com a Jennifer Lopez anunciado pós Super Bowl e que nunca viu a luz do dia. 

FERNANDO: Quando falamos sobre um disco completo, sempre vem a mente o conjunto da obra. Muitas das vezes os artistas lançam 4, 5 músicas antes de soltar o disco, e acaba que algumas dessas músicas ficam marcadas no álbum. O fato de abrirem com RITMO, que é uma ótima canção, foi uma boa jogada do Black Eyed Peas para que as pessoas continuem a ouvir o disco.

2 – FEEL THE BEAT feat. Maluma

FERNANDO: Aqui tudo funcionou, a voz do maluma, a melodia, o beat, J Rey Soul, tudo deu certo, com uma pequena exceção. A duração. Um dos pontos que me chamaram atenção no disco é a necessidade de todos os membros do grupo terem de cantar em praticamente todas as músicas. Quando você chama Maluma, Ozuna, Shakira, Nicky Jam, Becky G, entre outros, é hora de dar um passo pra trás, assumir a produção e deixar os colaboradores brilharem. 

Gosto da voz do Will.i.am nessa música, porém está em excesso, o que faz a música ficar um tanto quanto longa, sem falar no espanhol dele. Apesar desse aspecto, com certeza é um dos grandes destaques do disco. Já ganhou clipe e tem tudo pra fazer tanto sucesso quanto RITMO. 

ALLAN: Eu confesso que não curto muito o Maluma, o máximo que vai é o feat dele com a Shakira em Chantaje, de resto eu costumo pular. Como a proposta do disco é a onda latina, era meio impossível ele não estar aqui, então relevei. Feel the beat tem uma letra ruim e um espanhol sofrido por parte dos integrantes do BEP, mas ganha pela produção daora e pelos vocais deliciosos da J Rey Soul. O incômodo maior realmente é a presença excessiva do Will, deixando os dois outros integrantes darem apenas um “oi” no final da faixa.

3 – MAMACITA feat. Ozuna & J. Rey Soul

FERNANDO: Ah, as transições. São usadas com maestria no disco inteiro, como um verdadeiro mix. O grande feito é que se você escutar as músicas individualmente são imperceptíveis. Transições a parte, não tem como errar com Ozuna, certo?! 

Uma das melhores do disco, muito bem produzida, o piano de fundo deixa tudo com um clima tropical. Pena não podermos ir para a praia curtir esse som na altura. J. Rey Soul não fica atrás de Ozuna, rouba a cena com seus vocais, quase não percebemos a presença do Black Eyed Peas em si.

ALLAN: Eu adoro essa! Ozuna abre a faixa com muito carisma e tudo segue lindamente com os vocais on point da J Rey Soul. Alguns momentos do instrumental me lembra La Isla Bonita da Madonna, não sei se tem sample, mas algo lembra. O piano no fundo traz a vibe praiana, como o Nando disse, e aqui os vocais do Will e sua trupe complementam bem o restante da faixa. Grato por essa música, viu.

4 – GIRL LIKE ME feat. Shakira

FERNANDO: O estranhamento inicial com os vocais de Shakira no refrão precisam de algumas escutas para acostumar. A música é boa, mas caímos no mesmo dilema de ter muito will.i.am. Estamos falando de Shakira, a maior artista latina viva. 

Apesar dos pesares, Girl Like Me tem um grande potencial, provavelmente será lançada como single, terá um clipe e será divulgada em massa. Errados não estão, eu também aproveitaria a oportunidade.

ALLAN: Pelo o título eu imaginava que Shakira dominaria essa música, mas não foi assim que aconteceu não. Embora tenha rolado esse problema, a produção dessa música é bem daora. A letra encaixa perfeitamente nos afrobeats, e ela faz referência à várias mulheres latinas, como Selena Quintanilla, a brasileira Anitta e a própria Shakira. E ah, a parte do taboo nessa aqui é foda demais. 

5 – VIDA LOCA feat. Nicky Jam & Tyga

FERNANDO: O sample de Can’t Touch This do MC Hammer. Um dos melhores usos da música nos últimos anos. Não entrarei novamente no ponto de ter muito will.i.am, mas ele falando “It’s my life b*tch” no começo da música é um tanto quanto desnecessário.

Nicky Jam e Tyga entram na música com maestria, especialmente Nicky Jam. Um dos grandes nomes latinos da atualidade, seus versos complementam a melodia e a batida, a produção distribui os elementos e fica tudo muito bem cadenciado. 

ALLAN: Depois de MAMACITA, eu investiria nessa aqui. A música abre com o famoso “Four, tres, two, uno” que o Will.i.Am usa em fergalicous da Fergie e ainda tem o sample de Can’t Touch This do MC Hammer, como o Nando falou.Tudo que poderia dar errado nessa, deu mais que certo. Nicky Jam e Tyga caíram como uma luva na música e chega a ser bizarro a forma que ambos se encaixam no beat da música. Um spanglish de responsa e uma batida do caralho.  

6 – NO MAÑANA feat. El Alfa

Fernando: Fato curioso: El Alfa participou de Que Calor, que é uma música do Major Lazer com o J Balvin. Essa música foi cantada por Balvin no Super Bowl desse ano. O fato curioso, ela foi co-produzida por Tropkillaz, um duo brasileiro de música eletrônica. 

Tirando as curiosidades, é uma ótima música, uma das minhas favoritas. Black Eyed Peas acertou na produção, composição e escolha da parceria. Acho um tanto quanto difícil essa música não ter um bom retorno em questão de números, está muito fechadinha e bacana de ouvir.

ALLAN: Depois que ouvi o Fernando falar sobre ela no podcast aqui do Tracklist, eu viciei legal nela. Gosto da letra, da parceria, e aqui dá pra ver como o BEP incorporou mesmo a vibe latina para esse trabalho. 

7 – TONTA LOVE feat. J. Rey Soul

FERNANDO: J. Rey Soul pode ficar para sempre no BEP. Tonta Love é a prova de que a escolha foi muito bem feita e a cantora encaixa com o som do trio com maestria. Tonta Love é um dos destaques do disco, uma das minhas favoritas. 

Já deu para perceber até aqui que o disco tem diversos destaques, certo? E estamos na metade! Tonta Love tem elementos do Reggaeton, porém mais leves. O som mais caribenho, com uma melodia bem tropical house.

ALLAN: J. Rey Soul faz a diferença em muitas faixas desse disco, mas nessa aqui ela rouba a cena legal. Praticamente uma faixa solo da cantora, Tonta Love pra mim é um dos pontos fortes deste trabalho. Os vocais diva da Rey levam a música a outro patamar. Grato ao BEP por me apresentarem uma artista massa como ela. 

8 – CELEBRATE

FERNANDO: Teoricamente essa seria a primeira música do disco sem colaborações. Porém contém os vocais de J. Rey Soul, o que é um tanto quanto estranho. Por que creditar J. Rey como parceria em algumas músicas e não em outras? Detalhes técnicos apenas. 

Nesse ponto do disco tudo começa a ficar um pouco repetitivo, porém, Celebrate tem sim seus destaques, tanto will.i.am como J. Rey Soul estão ótimos. E a melodia do refrão é completamente chiclete. Pena que não foi utilizada com mais frequência. 

ALLAN: Assim como em Feel The Beat e Vida Loca, poderiam ter credito a J Rey nessa aqui também né? Enfim, eu não sou muito fã de sax beats e nessa aqui eles soam bem desnecessários. Eu curto os vocais nela, mas pra mim ela só “ok, vamos colocar essa pra encher mais o álbum”. 

9 – TODO BUENO feat. Piso 21

FERNANDO: Todo Bueno foi uma das músicas que me animaram completamente para o disco quando soltaram as prévias. Fiquei fascinado com a melodia tanto do ‘corpo’ da música como do refrão. Quando a música começou eu estava completamente animado, estava até digitando uma mensagem para o Allan falando como a música estava incrível…

Até que chegou o will.i.am com seu primeiro verso. Só pra deixar extremamente claro, apesar do will ter sido o produtor executivo do Britney Jean, não tenho absolutamente nada contra o trabalho dele, o admiro demais como produtor. Mas o que ele fez no primeiro verso dessa música foi péssimo. O tom da voz dele não encaixou, uma escolha horrorosa, principalmente para uma música tão boa.

O que é mais curioso: no segundo verso ele escolheu outro tom de voz. Apesar desse detalhe um tanto quanto incomodo, Todo Bueno com certeza é uma das 5 melhores do disco, Piso 21 encaixou perfeitamente com a canção.

ALLAN: Eu lembro de estar de fone ouvindo essa música e achar ela uma delicia, até o momento que o Will.i.am começou a berrar na parte dele. Todo Bueno também tem versos que encaixam bacana no instrumental e te fazem viajar facilmente. Eu não conhecia muito o pessoal do piso 21, mas depois dessa parceria eu até baixei umas músicas. Boa colaboração. 

10 – DURO HARD feat. Becky G

FERNANDO: Gosto de pensar que a melhor música do disco está muito mais perto do final do que do começo. Duro Hard, parceria com Becky G é uma das canções que tem tudo para dominar o verão em quarentena. O verso – toca lo, touch it, duro, harder – é extremamente chiclete. 

Apenas a escolha da produção nos versos de Becky e will que destoam um pouco do refrão, são calmos demais, principalmente em uma música que tem uma pegada mais agressiva. Com certeza um dos grandes destaques desse álbum.

ALLAN: Eu esperava tanto dessa música que nem vou culpar o BEP e a Becky pelas minhas frustrações. Duro Hard não é uma música ruim, mas não chega a ser algo incrível como algumas outras faixas do translation. Esperava algo mais reggaeton raiz, sem sintetizadores em excesso, porque foi assim que Becky conquistou o mercado latino. 

Em contrapartida, duro hard dá espaço para Becky que o Will já trabalhou lá em problem, quando ela ainda cantava apenas em inglês. De qualquer forma, espero que duro hard seja single, pois vai ser bom para os dois. Pode ser o hit que vai inserir o BEP de fato no mercado latino e o que vai reinserir a Becky no americano. 

11 – MABUTI feat. French Montana & J.Rey Soul

FERNANDO: Se um dia eu precisasse escolher um meme para cada música de um disco, com certeza o dessa canção seria: “O que que rolou aqui?”. Cada vez que escuto tenho mais certeza que além de ter sido previamente descartada, foi feita de última hora. Aquela coisa de “Conseguimos French Montana pro disco de vocês” e terem de correr para encaixar no disco. 

Completamente esquecível, produção preguiçosa, letra mais ainda, difícil de dizer isso, mas quase nada nessa música é bom. Nesse ponto do disco, muitos dos sons começam a parecer reciclados de outras músicas desse mesmo álbum. 

ALLAN: Mabuti = My booty. Sério, BEP? Reclamei do Maluma lá no início da review, mas nada se compara ao meu ranço com o French Montana. Não curto a voz dele e raramente ele soma em algum trabalho que ele participa, e nesse aqui, novamente, ele não fede e nem cheira. O bom é que pelo menos encaixaram ele na piorzinha do CD. A produção e a letra são bem ruins, as sirenes me dão sustos todas as vezes, parece que uma criança ficou apertando toda hora. Passo. 

12 – I WOKE UP

FERNANDO: As referências a Flawless de Beyoncé são claras já no começo da música. Porém a melodia não colabora. O uso de um instrumento que não consigo identificar, em repetição, deixa a música extremamente cansativa e repetitiva. 

Completamente compreensível, é uma tarefa extremamente difícil produzir um disco completamente dançante e não ter pequenas recaídas. A escolha da ordem das músicas foi impecável, pois não deixou a peteca cair até a décima primeira música.

ALLAN: Depois de alguns deslizes, aqui o BEP volta com qualidade à proposta do disco. Mesmo com a repetição que o Nando falou, I Woke Up traz o quarteto em essência, se divertindo na vibe que eles abraçaram para esse material, cada um ali tem o seu espaço, mostra o que faz de melhor e é isto. 

13 – GET LOOSE NOW

FERNANDO: Essa música tem a cara de um filme de ação, uma cena de perseguição que se passa em Dubai. Isso é o que vem a minha mente ao escutar essa música. Não tenho dúvidas de que fará parte da trilha sonora de algum filme muito em breve. Mais específico que isso? Eu apostaria na sequência das panteras. 

A dúvida de ser uma música boa ou descartável é clara quando tivemos tempo para imaginar tudo isso enquanto escutamos a música. Inesquecível, claramente ela não é.

ALLAN: BEP não é muito das intros, mas eu deixaria esse como introdução para a faixa que vem a seguir e que possui um nome tudo a ver, “action”. Não tem muitos vocais, então creio que ela vai ser usada em alguma campanha – já que ela possui trechos de virais do tik tok –  ou então em algum um filme, como o Nando mencionou.

14 – ACTION

FERNANDO: A melhor música sem parcerias. Quando will está cantando o ‘ra ta ta ta ta’ remete bastante a música brasileira, mais especificamente o funk. As batidas, referências aos quadrinhos na letra, um dos grandes destaques do disco se tratando apenas do Black Eyed Peas em sua pura essência. 

ALLAN: Se a gente desacelerar um pouco essa aqui temos um funk gostosinho. Embora não seja explícita as referências ao gênero brasileiro, action é uma delícia e é diferente das faixas anteriores, o que a faz ganhar destaque das demais.

15 – NEWS TODAY

FERNANDO: Mensagem importante principalmente nos dias de hoje. Porém não acredito que faça parte da mensagem geral que esse disco passa. Reflexão é sempre importante, para todos nós, isso é inegável. Porém como disco, quando você passa a proposta e entrega um disco 95% dançante, colocar uma música com essa produção e temática para fechar o disco é um tanto quanto confuso. Poderia ter sido lançada apenas em uma versão deluxe do disco físico.

ALLAN: É bizarro ver que estávamos vindo uma sucessão de batidas e do nada desaceleramos na última. É meio brochante, confesso, mas quando você presta atenção na letra você se impressiona com a mensagem dela, ainda mais no contexto atual. O BEP sempre foi bom em cantar sobre questões social, where is the love é um exemplo disso, perdura aí até hoje, então depois de tanto dançar ponha a mão na sua consciência e faça sua parte, hehe. 

Panorama Geral

FERNANDO: O disco é extremamente bem produzido, as parcerias com certeza foram escolhidas a dedo e as músicas foram feitas pensando em cada colaborador. Um fato curioso: não citei Fergie em nenhum momento do texto. Tamanha a falta que ela fez nesse disco. J. Rey Soul entregou ótimos vocais e supriu a falta da voz feminina de Fergie em diversas canções. 

ALLAN: O translation é um material, que no conjunto da obra, cumpre muito bem a sua proposta. É um disco festivo que segue sem pausas, com parcerias bem articuladas e com a essência do grupo em todas elas. Claro que ele tem os seus pontos negativos, como a monopolização dos vocais do Will.i.am – isso não chega a ser um problema pra quem já conhece o grupo – faixas muitos grandes e algumas letras sem muita relevância. Destaques para a produção que se supera e ganha destaque faixa a faixa e os vocais da J Rey Soul que fizeram toda diferença no álbum. Entre os bons discos que saíram durante a quarentena, podemos dizer que o Translation é um deles. 

Nota: 8,0

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