“HIT ME HARD AND SOFT” é o novo disco de Billie Eilish, lançado nesta sexta-feira (17). O terceiro trabalho da artista é marcado, sobretudo, pelo reencontro com sua essência, funcionando como uma versão mais madura e concisa de seus álbuns anteriores.
Diversos elementos de seus dois primeiros discos são encontrados no material e as letras podem ser interpretadas como encerramentos de ciclos que complementam a carreira de Billie. Confira nossa review completa do disco!
“HIT ME HARD AND SOFT” é feito sob medida e apresenta evolução da artista
Em julho de 2021, na review do álbum “Happier Than Ever”, falamos sobre a importância de ouvi-lo na ordem pensada e idealizada pela artista. “A ordem das informações e a sonoridade criada faz o disco fluir de maneira especial, principalmente se comparado ao seu disco de estreia”, ressaltamos.
É possível observar o mesmo objetivo em “Hit Me Hard And Soft”. O fato de Billie não ter divulgado singles prévios ao lançamento do disco deixa claro como esse contexto há de ser preservado e valoriza a experiência do ouvinte.
Em entrevista para a Rolling Stone, a cantora revelou que seu novo trabalho funcionou como uma busca pela garota feliz e divertida do primeiro disco, “When We All Fall Asleep, Where Do We Go?”, que se perdeu em algum momento no meio de seu amadurecimento aos olhos da mídia e do público.
Ao retornar às origens do primeiro disco, Billie trouxe consigo o aprendizado que alguns anos a mais lhe trouxeram, escolhendo elementos que melhor funcionaram ao longo das 14 faixas de seu álbum de estreia. O sample da abertura da série “Os Feiticeiros de Waverly Place” em “bad guy” pode ter servido de inspiração para “LUNCH”, que traz elementos que evocam a sensação de algo inspirado pela série sonoramente falando.
“SKINNY” e “CHIHIRO” trazem o desabafo e a nostalgia, respectivamente. Tanto o lirismo quanto as produções conseguem expressar com grandiosidade a ideia e o sentimento que Billie quer passar com as canções.
“CHIHIRO” é um caso interessante. A canção fala sobre os sentimentos em evolução durante um relacionamento, enquanto a sonoridade passa uma sensação de nostalgia e de algo que não chegou em seu ápice, uma promessa que não se concretiza.
Durante diversos momentos a impressão é que terá uma virada grande na canção e isso fará com que se chegue ao ápice da mesma, o que não ocorre. A produção segue em um movimento constante, uma evolução, quase que uma fantasia. Em alguns momentos, a faixa trouxe lembranças da trilha sonora de “Interestelar”, filme de Christopher Nolan que conta com trilha de Hans Zimmer.
Billie Eilish segue com pop experimental em “HIT ME HARD AND SOFT”
Elementos mais experimentais, que foram mais utilizados em seu segundo disco, não deixam de marcar presença por aqui. O autotune usado em “NDA” também foi usado em “L’AMOUR DE MA VIE” como elemento artístico, e não para corrigir a voz da artista.
Após a tríade inicial do álbum, seguimos com “BIRDS OF A FEATHER” e “WILDFLOWER” que são o momento mais tranquilo do disco. A primeira parece estar destoada do resto do disco, como se fosse um encaixe de última hora. Já “WILDFLOWER” é mais coesa com a proposta do álbum e proporciona mais uma apresentação de gala de Billie como uma excelente contadora de histórias.
Os sintetizadores são parte importante de “HIT ME HARD AND SOFT”. Já utilizados anteriormente pela cantora, aqui parecem soar mais crus e ríspidos, e estão mais presentes na segunda metade do disco.
“THE GREATEST” é a irmã mais velha de “Happier Than Ever”. A faixa é forte e conta com uma letra excepcional sobre o fardo de estar em um relacionamento em que você não se sente verdadeiramente amada. Assim como “Happier Than Ever”, a faixa começa de maneira calma e vai evoluindo até uma explosão de emoção e sentimento.
Já em “L’AMOUR DE MA VIE”, uma das melhores do disco, Billie fala sobre a complexidade de um relacionamento não tão saudável e deixa claro o quão feliz está pelo seu fim.
A segunda parte da canção evoca o lado mais experimental do disco até aqui: com uma sonoridade que remete o eletro-pop dos anos 80, Billie brinca com o autotune de maneira curiosa.
“THE DINER” explora os vocais de Billie com uma abordagem lúdica e reintroduz uma atmosfera mais sombria que até então não havia aparecido neste álbum. A faixa se destaca por sua profundidade e intensidade, lembrando a sonoridade de “Breaking Dishes” de Rihanna, especialmente durante o refrão. Essa semelhança não é apenas na melodia, mas também na energia e na entrega vocal, criando uma conexão intrigante entre as duas músicas.
“BITTERSUITE” e “BLUE” fecham o disco com maestria. A primeira soa como a mais experimental do disco, usando e abusando dos sintetizadores e brincando com a palavra “Bittersweet” (“Agridoce”). Vale relembrar que a batida de “BITTERSUITE” integrou o teaser divulgado por Billie, em abril, com o anúncio do álbum – e chamou atenção dos brasileiros pela semelhança da sonoridade com o funk brasileiro “Malandramente”, de DENNIS com MC Nandinho e MC Nego Bam.
Por sua vez, “BLUE” é o fechamento que o disco merecia. Complexa, a canção fala sobre o sentimento de deslocamento da artista em diversos momentos da carreira e funciona como um resumo conectado ao resto do material.
Conclusão
Além da fraca “BIRDS OF A FEATHER”, o único erro do disco é apenas buscar referências dentro dos trabalhos anteriores de Billie, sem um elemento surpresa que seus primeiros discos trouxeram. É um disco sensacional, mas que, usando um termo futebolístico, “joga com o regulamento embaixo do braço” – não ousa e não se arrisca. Porém, faz o proposto com maestria, o que é ótimo.
“HIT ME HARD AND SOFT” solidifica as qualidades de Billie – e também de Finneas, seu irmão e produtor do trabalho – com excelência e cumpre o papel mais importante ao qual se propôs: reencontrar sua essência e fechar as portas do passado que ainda a assombravam.