Finalmente o novo álbum de Beyoncé está entre nós! Anunciado pela primeira vez em fevereiro de 2024, durante um comercial no Super Bowl LVIII, a americana lançou na sexta-feira (29) o seu mais novo disco, “Cowboy Carter”. Oitavo álbum de estúdio da sua carreira, o material é a tão esperada continuação do álbum “Renaissance”, de 2022, e marca a inserção oficial da cantora na música country, espaço rico em significado para artistas negros.
Com 27 faixas, o material foi lançado por meio da gravadora de Beyoncé, Parkwood Entertainment, em parceria com Columbia Records. Dolly Parton, Miley Cyrus, Post Malone e Willie Nelson são algumas das várias colaborações do projeto.
“Cowboy Carter” e a marginalização dos negros na cultura country
Bandeiras americanas, cabelo platinado, chapéus e cavalos. Muitos antes de anunciar de fato “Cowboy Carter”, Beyoncé deu sinais do que estava por vir. Com uma enorme bandeira norte-americana na capa do álbum, Knowles já traz sua primeira crítica: o que de fato bandeira significa para os americanos marginalizados e uma reflexão acerca da justiça racial no gênero.
Texana, Beyoncé sempre falou sobre suas raízes e o quanto elas foram importante para sua construção enquanto artista. A cidade de natal de Bey, Houston, comporta o maior evento country do mundo, o Houston Livestock Show and Rodeo, realizado anualmente no mês de março, atraindo 2,5 milhões de pessoas. Pouco se fala sobre a participação de negros neste evento.
Em uma postagem no Instagram falando sobre o processo criativo por trás do “Cowboy Carter”, Beyoncé disse que uma experiência negativa com o público da música country a levou a “um mergulho mais profundo na história da música country e seu vasto e rico arquivo musical”. O primeiro contato da artista com o gênero em seu próprio trabalho foi com “Daddy Lessons”, em 2016.
Cowboy Carter é country – mas vai além
“Cowboy Carter” é muito mais amplo do que simplesmente um álbum country. Beyoncé traz uma versão de “Blackbird” ,dos Beatles, e até mesmo um funk brasileiro na faixa “SPAGHETTII”, por exemplo. Nesta última, o DJ brasileiro o Mandrake tem a faixa ‘Aquecimento das Danadas’, parceria com DJ Xaropinho, sampleada pela texana.
Em “YA-YA“, é nítido a inspiração em “Good Vibrations”, de Nancy Sinatra. Na faixa “BODYGUARD”, Bey se arrisca novamente no rock, com vocais mais afiados do que nunca. “DAUGHTER” é mais um flerte da artista com outro gênero, trazendo um som mais acústico com vocais que remetem à música clássica e até mesmo ópera.
Claro que a música country se faz presente em grande parte do projeto. Beyoncé tem o aval de grandes lendas do gênero, como Willie Nelson, Dolly Parton e Linda Martell, presentes em interlúdios ao longo do álbum.
Nesses interlúdios falados, Beyoncé convida os ouvintes a sintonizar uma espécie de estação de rádio fictícia, na qual diversos programas são apresentados pelos ícones já citados, Willie, Dolly e Linda. Linda, inclusive, foi a primeira artista negra feminina a entrar no Top 25 das paradas country da Billboard, em 1969.
No caso de Dolly, por exemplo, Beyoncé incorporou no álbum a sua versão de “JOLENE“, um dos maiores clássicos da cantora de 78 anos. E a cantora aparece no interlude “DOLLY P”, fazendo uma comparação de Jolene com a “Becky do cabelo bom”, rival amorosa de Bey na faixa “Sorry” do aclamado “Lemonade”, de 2016.
Ainda falando de colaborações que agregam muito ao projeto e trazendo para a contemporaneidade, Beyoncé se junta à Miley Cyrus em “II MOST WANTED” e a Post Malone em “LEVII’S JEANS”, faixas inteiramente country bem produzidas e que somam muito na variação do gênero ao longo do álbum.
Mas não são só de colaborações que o álbum é construído. As faixas solos possuem, e muito, o seu valor – um exemplo é o grande hit “TEXAS HOLD’ EM“, que alcançou o primeiro lugar na Billboard e se tornou a primeira grande trend viral de 2024 nas redes sociais.
Ir contra maré parece que é algo que faz parte de Beyoncé. Ela não só cantou country e atingiu o topo da Billboard com o segmento, como também entregou um disco com 27 faixas – algo cada vez mais raro na indústria. Durante toda a narrativa do álbum, mesmo que longo, a cantora consegue entregar um material fluido, harmonioso e sutil, amarrando o ouvinte à história contada e por trás do material.
Conclusão
“Não gosto de country, então não ouvir esse álbum da Beyoncé”. Bom, entendo que quem consome qualquer artista, minimamente entende que suas raízes e experiências pessoais são retratas em seus trabalhos. No “Cowboy Carter” não é diferente: Beyoncé vai além e sugere um amplo debate racial, mesclando country e suas variantes com diversos outro gêneros, sendo eles pop, R&B, trap e muitos outros.
Muito difícil afirmar, mas acho que nunca veremos Beyoncé fazendo o mesmo trabalho. Enquanto artista, ela molda sua vontade a múltiplos estilos e o “Cowboy Carter” é a prova que ela é capaz de fazer bem feito o que quiser.
Nota: 10/10