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Entrevista: Lagum fala sobre “Eu e Minhas Paranoias”

Foto de divulgação de Eu e Minhas Paranoias, novo single da Lagum
Foto: Divulgação/Sarah Leal

A banda Lagum lançou, na última quinta-feira (29), o single “Eu e Minhas Paranoias”. A faixa é a terceira extraída do próximo disco, com estreia prevista para este ano, e chega acompanhada de um videoclipe dirigido por Dumonte. Em versos como “Não dá mais, eu sinto culpa em tudo o que eu faço / Não dá mais, peço desculpa eu me sinto tão chato”, o vocalista Pedro Calais canta sobre as “neuras” que se fazem presentes no dia-a-dia, sem abandonar a sonoridade upbeat usual da banda.

Além de ‘Eu e Minhas Paranoias’, a Lagum já havia lançado outros dois singles como prévias do próximo disco. No final de 2020, a banda lançou ‘Ninguém Me Ensinou’, uma homenagem a Tio Wilson, baterista do grupo que faleceu em setembro do mesmo ano. Já em janeiro de 2021, eles lançaram ‘Musa do Inverno’, que conta com a participação especial de Felipe Dylon no videoclipe, uma referência ao hit dos anos 2000 ‘Musa do Verão’.

Foto de divulgação de Eu e Minhas Paranoias, novo single da Lagum
Foto: Divulgação/Sarah Leal.

Entrevista com Lagum sobre “Eu e Minhas Paranoias”

Para falar sobre o lançamento e o próximo álbum, Pedro Calais, vocalista da Lagum, conversou com o Tracklist. Confira a entrevista na íntegra:

Como foi o processo de composição de ‘Eu e Minhas Paranoias’? Ela foi influenciada de alguma forma por esse momento de isolamento social, agora que estamos com as ‘paranoias’ mais à flor da pele?

O processo dessa música foi um processo lento, no sentido de que o primeiro vestígio dela é de 20 de janeiro de 2018. Eu tinha feito uma música que era basicamente sobre a ansiedade que eu tava tendo. Ela tinha outros versos, mas o refrão já era esse de ‘OK, OK. Sei que não pareço bem, mas eu tô’ e essa música ficou no meu bloco de notas por muito tempo. E aí, quando a gente começou a produzir as músicas que tão sendo lançadas agora, a gente fez uma outra música usando esse mesmo refrão e com esse mesmo desfecho, de ‘Eu e minhas paranoias’, só que com outro verso. A gente tentou gravar ela, mas a gente não gostou do resultado, aí a gente falou “Ah, mano, esquece, vamos fazer um álbum sem essa música” e gravamos todo o resto. Aí, um mês antes do Tio [Wilson, baterista da Lagum] falecer, a gente foi ficar isolado no sítio dele aqui no interior de Minas Gerais e a gente compôs versos e pré refrões e encaixamos esse refrão que a gente vem trazendo e tentando colocar desde 2018 e a música surgiu na quarentena, lá em agosto de 2020. Ela nem ia entrar pro álbum, o álbum já tava meio que fechado, mas, antes de tudo acontecer, a gente tinha um programa de TV marcado pra gente fazer, que ia ser gravado num estúdio. Aí a gente foi pra esse estúdio, só que quando a gente chegou lá a gente recebeu a notícia de que não ia mais rolar esse programa, aí a gente falou ‘Tamo aqui, vamos registrar essas músicas’, que a gente compôs na semana anterior, no sítio do Tio. E aí tinham 3 músicas e a gente registrou só como ensaio, só que a bateria do Tio tava separada em uma outra sala, então a captação da bateria dele foi sozinha. Aí, depois de tudo que aconteceu, quando a gente lançou ‘Ninguém Me Ensinou’ como homenagem, e fazia muito tempo que a gente tinha lançado ‘Hoje Eu Quero Me Perder’ e ‘Será’, que fariam parte do álbum, a gente lançou ‘Ninguém Me Ensinou’ e a gente falou ‘Cara, acho que o processo do álbum começa aqui, a história é a partir daqui’. Então a gente decidiu ir pro estúdio e gravar, em cima da bateria do Tio, essas 3 músicas que a gente tinha dado início, que tinham a batera dele, construir umas coisas em cima da batera dele. Essa é a primeira música que os nossos fãs tão tendo acesso que foi uma música construída inteiramente a partir da batera do Tio, porque, geralmente, a gente faz um processo de chegar com a música e todo mundo vai colocando os instrumentos em cima. Nessa foi o contrário, a música já existia, mas tudo começou ali na batera, onde a gente se adequou à aquilo que tava acontecendo. Mas ela é uma música que não é diretamente sobre a pandemia, sobre esse momento paranoico, mas eu sempre fui um cara ansioso e cheio das paranoias. Essa música não ia sair agora, ia sair uma outra antes dela, só que o Zani [guitarrista da Lagum] falou ‘Cara, tá todo mundo paranoico e pode ser que lançar essa parada agora possa ajudar muita gente, possa gerar muita identificação’ e não deu outra, aconteceu de ser ela.

Um dos motivos de vocês conquistarem tanto o público jovem é por conta da identificação que acontece entre os ouvintes da Lagum e as letras da banda, e as músicas de vocês falam muito sobre a juventude, indireta ou diretamente. Como compositor, esse é um tema que vem naturalmente na sua escrita ou é uma coisa que você conscientemente procura escrever sobre?

Cara, eu tava pensando nisso hoje, que faz pouco tempo que a música é focada pro jovem, que o mercado é focado pro jovem. Eu lembro que, quando eu era jovem, eu ouvia coisas de adulto, com linguagem de adulto e tal. E, quando eu faço música, eu faço sobre mim, é sobre mim 100%, sobre as pessoas que eu convivo. Então tem a minha verdade, eu me encaixo nessa faixa etária, eu me encaixo nessa bolha jovem que a gente vive e acho que graças aos nossos fãs, que dão muito apoio e conseguem incluir a gente com uma relevância no mercado, chega dessa maneira. Eu não faço pensando ‘Ah, vou falar com essas pessoas’, eu falo ‘Mano, vou falar comigo, vou escrever uma coisa que tá me ocorrendo’ e é até uma maneira de me ouvir, tipo uma terapia comigo mesmo. Eu escrevo o que eu tô querendo falar e depois eu me pego me contradizendo, eu cheio de medo de errar e tal. Aí eu falo com a minha namorada, falo com a minha mãe e elas respondem ‘Mas você não é o cara que fala que não tem que ter medo de errar, que tem que ir pra frente e tal?’. Então eu me pego pensando ‘pô, eu queria estar me ouvindo’, sabe? Eu acredito, eu aposto nisso, em fazer coisas direcionadas pra mim, coisas verdadeiras, porque eu tenho certeza que a gente tá atingindo muita gente de uma maneira bem legal, bem positiva.

Quando eu pensei nisso, sobre vocês escreverem músicas sobre a juventude, me remeteu muito ao nome do último álbum de vocês, ‘Coisas da Geração’. E, de certa forma, vocês estão representando uma geração, desses músicos que estão chegando por agora na cena musical brasileira. Apesar de ser um título forte, vocês se sentem representantes de uma geração? Qual é a sensação e a responsabilidade pra você de falar em nome de vários jovens que se identificam com as letras da Lagum?

Ser um representante é um negócio muito pesado, não pesado de ruim, mas pesado de bom, e é uma responsabilidade grande, porque a gente fala muita coisa legal, mas, assim como todo ser humano, a gente erra muito. Então, quando a gente faz uma coisa errada, a conta vem também, sabe? A consciência pesa, você tem que ficar se medindo, então é uma responsabilidade grande e eu fico muito feliz de ouvir isso de você. A gente nunca se colocou nesse lugar de ‘somos nós os representantes dos jovens’, mas é um sonho que a gente sempre teve, de ter essa importância. Eu tô aprendendo a lidar agora, porque eu comecei a carreira com a banda quando eu tinha 17 anos e eu vou fazer 25 anos amanhã, então são sete anos de carreira e sete anos da minha vida que se passaram. Aí você consegue imaginar o tanto que eu amadureci, o tanto que eu aprendi com os meus erros, com a minha carreira, com as pessoas que vem me cercando. Eu tô evoluindo junto com minha carreira e tô vendo que a responsabilidade é agora e tô tomando consciência disso tudo. Eu sinto que eu tô indo junto com a carreira, a responsabilidade chegando, a idade chegando.

E acaba que, com a banda, você amadurece muito mais rápido, né? Justamente por essas responsabilidades que vêm junto.

Ou não, né. Eu acho que é uma vida diferente, você viaja, tem uma produção que cuida de você, então é uma vida diferente. Acho que não é uma vida normal, que nem a de todo mundo, mas é muito legal.

Os clipes de vocês são sempre muito alto astral, até o de ‘Ninguém Me Ensinou’, que, apesar de ser muito emocionante, é um clipe muito alegre, né? E em ‘’Eu e Minhas Paranoias’ também, você tá cantando que sempre faz merda, que dá tudo errado, mas a energia do vídeo tá lá em cima. Como é o processo de criação dos clipes da Lagum? Você considera que esses vídeos mais descontraídos são meio que uma “linha criativa” de vocês?

Nos nossos clipes, a gente geralmente tenta fazer alguma coisa que cresça a música, que faça com que a mensagem da música se amplifique, porque vendo você sente mais a mensagem que tá sendo passada ali. E, de uns tempos pra cá, eu comecei a pegar muita viagem numa estética do fim dos anos 1990, início dos anos 2000 de fisheye, de botar aquela cara perto, aquela atitude que é muito replicada em clipes de rap e tal. E eu acho que desde o ‘Ninguém Me Ensinou’ a gente veio trazendo isso, essa atitude assim e, antigamente, a gente gostava muito de fazer clipe com humor. Se você pegar ali o início da carreira da banda, era muito humor, porque é um jeito de você fazer uma coisa interessante sem precisar de muita produção, sem precisar investir uma grana grande. Então a gente investia na ideia, na sacadinha, no plot twist e dava tudo certo e a gente vem trazendo isso. Hoje em dia, a gente tem um pouco mais de orçamento e consegue aplicar essa ideia do humor com uma produção mais maneira, então são coisas que a gente gosta muito de trabalhar, tanto essas ideias, essas sacadas assim, quanto essa parada da atitude que é um negócio que diz muito mais dessa nova fase da Lagum, que é o que a gente tá buscando esteticamente.

No post de lançamento do single, o Jorge escreveu ‘nova era’ nos comentários. O que a gente pode esperar dessa nova era da Lagum e do futuro álbum de vocês, até em comparação aos trabalhos anteriores da banda?

A nova era veio muito louca, porque a gente tava esperando que ia vir uma nova era, aí chegou a pandemia e a gente pensou ‘Pô, a nova era vai ser diferente’, já que a gente teria que lançar esse novo álbum durante a pandemia. E depois o Tio faleceu e a gente viu que não era nada do que a gente tava esperando. Então toda hora a gente se esbarra nesse ‘Mano, e agora? Como a gente vai contornar? Como a gente vai fazer?’. Eu acredito que essa nova era, até agora, é a expressão artística mais solta que a gente já teve, sabe? A gente, nesse tempo todo de carreira, acumulou muita experiência de composição de palco, então, depois desse tempo todo fazendo tanto show pelo Brasil, a gente falou ‘Cara, a gente quer ter um show mais porrada, um show mais enérgico’. A gente quer ter essa imagem mais enérgica, então a gente compôs esse álbum inteiro pensando nisso, a gente planeja shows assim. E, com a partida do Tio, a gente sempre quer ter ele por perto, a gente sempre quer reverenciar ele, isso também vai fazer parte da nova era. Eu ainda não sei como vai ser isso nos palcos, mas o que eu posso dizer é que os lançamentos tão vindo aí e eles são muito diferentes entre si. Eu tenho até medo de tocar os nossos fãs, porque a gente vem de um rock e a próxima vai ser uma coisa completamente diferente. O disco inteiro tá muito diverso e muito rico, e foi legal que a gente conseguiu experimentar muito. Então eu acho que é uma fase de experimentação. Tem tanto o nosso lado experimental de viagem de fã, de referênciazinha de uma letra com a do álbum passado, essas coisas gostosas que eu, como fã de muitas bandas, fico muito feliz de encontrar e também tem o nosso lado prático. A gente continua querendo tocar no rádio, a gente quer estar presente nas paradas e tal. Tem esses dois lados da Lagum muito bem definidos e espero que a gente possa honrar o que o Tio deixou em vida pra gente. Esse álbum inteiro é tocado por ele e eu tô muito satisfeito. Eu espero poder fazer mais álbuns, mas, se tiver um álbum que eu nasci pra fazer, foi esse.

Entre essas três músicas já lançadas, tem alguma que é mais a cara do álbum? Ou vai ser tudo bem diferente entre si.

Eu acho que a mãe do álbum é ‘Ninguém Me Ensinou’, porque eu acho que ela que deu o start no processo, na estética. Quando a gente fez a capa do Tio, a gente não tinha intenção de continuar replicando isso nas outras capas, mas a gente quis fazer todas as outras nessa linha, porque as coisas foram se moldando a partir disso. E eu acho que o texto dela, o que fala nela, pra mim, é o que resume esse álbum, tipo ‘Vamo embora, vamo continuar que a gente não pode parar aqui. A gente tem tempo, a gente tem vida pela frente’. Então eu acho que essa é a cara do álbum, ‘Ninguém Me Ensinou’ é a mãe do álbum pra mim.

Uma coisa que eu reparei, que é uma mera curiosidade minha, é que nessas últimas três músicas que vocês lançaram, os títulos foram escritos em caixa alta. Isso faz parte da estética do novo álbum?

Eu não sei como isso vai terminar, mas a gente quis bancar isso. A gente quis fazer ‘Cara, vambora, caixa alta’, porque é o que eu te falei, a gente quer passar essa energia, a gente quer chegar mais, a gente quer ser mais porrada e eu acho que tudo que é visual comunica as coisas, né? Você vê uma caixa alta e você pensa ‘Pô, não é uma música fofa, não é uma música que vai ser amena, é uma música que vai ter atitude’. Então essa nova fase tem muita atitude e a gente quis passar isso em cada detalhe, acho que essa foi a intenção.

Você falou muito que na nova era de vocês, essa nova atitude vai transparecer nos shows. Eu achei isso muito curioso, porque eu comecei a gostar de Lagum depois de assistir vocês ao vivo e de cara eu já senti essa atitude muito forte, deu pra perceber que a apresentação ao vivo é um ponto muito forte da banda. Como que está sendo ficar sem essas experiências e que mudanças a gente pode esperar pra essa nova fase da Lagum nos shows? 

A Lagum é uma banda que surgiu em show, a nossa primeira aparição foi tocando no palco e foi ali que a gente calcou a nossa carreira inteira, e a gente investe muito em show, no palco, na iluminação, no LED. É muito esquisito, porque a gente não é artista de ficar lançando música toda hora e, com os shows, a gente fazia um diferente a cada dia, a gente tava numa cidade postando conteúdo e tal. Quando tudo parou, a gente ficou ‘Mano, o que a gente faz? Como a gente mostra pros nossos fãs que a gente tá vivo, que a gente tá ativo?’. E foi muito estranho, porque eu acho que até muito da minha felicidade tava baseada em show, sabe? De estar cada dia numa cidade, sendo aplaudido, sentindo aquele êxtase e, do nada, tudo parou. Então eu espero que a nova fase de shows da Lagum seja muito movimentada, eu quero fazer muito show o tempo inteiro, eu quero viajar pra muita cidade. Não vou falar de carreira internacional que nem a Anitta, porque isso é muita coisa, mas seria muito interessante pra gente poder explorar mais lugares que falam a língua portuguesa ou, sei lá, a América Latina. O Paralamas [do Sucesso] foi muito pra Argentina, Natiruts foi muito grande em Portugal inteiro, e eu queria que a gente pudesse explorar esse lugares que tem familiaridade com a nossa música, sabe? Então eu espero que a gente possa rodar muito.

aPra finalizar, eu queria saber quais são os próximos passos desse novo trabalho. Vocês vão dar uma segurada no lançamento desse disco por conta da pandemia e continuar lançando singles por enquanto?

A gente queria muito que o nosso álbum casasse com o lançamento de uma turnê, só que a gente tá vendo que tá difícil, né? Então, enquanto isso, a gente vai continuar trabalhando alguns singles até lançar o álbum. E isso tá sendo saudável também, porque eu acho que é uma maneira da gente estar sempre em contato com os fãs e trazendo música, que é uma parada alegre pra um momento complicado desse.

Você pode ouvir “Eu e Minhas Paranoias” em todas as plataformas digitais.

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